Se tem uma música que melhor representa o atual momento de Deborah Secco é a icônica “Girls just want to have fun” (em tradução livre: “Garotas só querem se divertir”), um clássico dos anos 80 interpretado por Cyndi Lauper. Na letra, há questionamentos sobre as imposições da sociedade ao comportamento da mulher e a exaltação à quebra de padrões, temas que a atriz de 43 anos também carrega em sua trajetória. Toda vez que a canção toca, ela nos transporta para a década das cores e dos exageros, assim como o ensaio que Deborah fez para a Canal Extra.
Deborah Secco volta aos anos 80 em ensaio exclusivo para a Canal Extra
Regado de referências da época, como a roupa de ginástica, as imensas bolas de chiclete e os patins, a artista vivencia aqui a estética do passado. Nos cliques, embalados por uma trilha sonora em clima de flashback, ela “volta” ao mesmo período em que a primeira versão da novela “Elas por elas” foi ao ar. A releitura da trama de Cassiano Gabus Mendes, de 1982, estreia amanhã e traz a atriz no papel de Lara, uma das protagonistas da produção.
A veterana, que começou a trabalhar ainda criança, desdobra-se para conciliar as gravações do remake e da segunda temporada da série “Rensga Hits”. Além disso, estreia a série “Codex 632”, no Globoplay, no dia 19 de outubro. Com tantas atividades, Deborah também se vira nos 30 para ser a mulher de Hugo Moura, com quem é casada há nove anos, a mãe de Maria Flor, de 7.
Como foi reviver os anos 80?
Muito emocionante porque são anos da minha infância. Todas as minhas referências foram criadas a partir dessa estética. Muito legal! Eu só aprendi a patinar em 2006 na “Dança no gelo” (quadro do “Domingão do Faustão”), nunca fui muito boa, mas engano. Usar os patins de novo foi divertido. Adorei o desafio de voltar no tempo, me diverti, e as fotos ficaram sensacionais!
Quais lembranças você tem dessa época?
Minha infância foi muito legal, eu nasci numa família incrível. Sempre tive essa pegada de brincar de me maquiar, de fazer cena… Essa coisa de querer ser atriz apareceu quando eu era muito nova. A estética dos anos 80 influenciou muito o jeito que eu me arrumava. Usava a bota branca da Xuxa, chuquinhas no cabelo, sempre com volume. Tive uma infância muito saudável, feliz, com afeto, brincadeiras, apesar de eu ter começado a trabalhar cedo. Se eu encontrasse a Deborah que viveu nos anos 80, falaria: “Amor, viva! Seja você que vai dar tudo certo. Não tenha medo de ser quem você é”.
Como está sendo fazer seu primeiro remake?
Incrível. Ainda mais sendo de uma novela do Cassiano Gabus Mendes. Sou muito fã dessa família. Tive uma relação intensa com todos. Luís Gustavo foi meu pai em “Confissões de adolescente” (1994), Tato Gabus foi meu pai em “Mico preto” (1990). E Cassio, desde a nossa parceria em “Bruna Surfistinha” (2011), nunca mais nos desgrudamos. É muita responsabilidade refazer essa obra e dar vida à personagem que foi da Eva Wilma, uma das maiores atrizes do Brasil. A novela é leve e divertida. Um outro olhar para o horário das seis.
Apesar de ser uma comédia, a novela traz temas importantes como o empoderamento feminino…
O mundo sofreu muitas mudanças. Na trama anterior, quase nenhuma das protagonistas trabalhava. A grande questão para a maioria delas era casar e ter filhos. Agora a gente vê aonde a gente chegou enquanto mulher, a nossa evolução. Apesar de ainda vivermos numa sociedade extremamente machista e patriarcal, a gente caminhou. Ter um elenco diverso e representativo, trazer questões que precisam ser debatidas à tona, isso tudo mostra para mim o quanto tem dado certo lutar tanto.
Lara contrata Mário Fofoca (Lázaro Ramos) para descobrir quem é a amante do marido. Você já fez algo semelhante?
Nunca fiz, nem faria. Graças a Deus, tenho uma relação de muita verdade. Mas, nas traições que sofri , no geral, elas me afligiram muito mais pela mentira do que pelo ego ferido. Por isso, hoje, eu lido melhor com ela (a traição) do que a maioria das pessoas. Eu acho que a Lara não é feliz. Ela vive uma falsa felicidade. E não existe essa de ser iludida e feliz ao mesmo tempo.
Casada há nove anos, você acha que tem segredo para manter a paixão?
A gente tem que querer viver junto, refazer combinados, se reapaixonar, se reconectar diariamente. Não tem um segredo. Busco no meu companheiro o meu melhor amigo e meu parceiro, um cara com quem eu quero trocar. A gente vai encontrando nossa fórmula. A relação é feita de mudança. A gente descobre novos percalços, dificuldades, alegrias e motivos para se apaixonar todo dia. É uma relação viva e sincera, Vamos repensando, recriando e tentando fazer dar certo. A gente nunca brigou. A gente diverge e conversa. Temos opiniões diferentes, escolhemos coisas diferentes, mas brigar… nunca.
Recentemente, durante o programa “Sobre nós dois”, do GNT, você falou sobre a anatomia do pênis do Hugo (“além de ser grande e grosso, é duro feito uma madeira”). Nas redes sociais, muitas pessoas a criticaram por ter exposto seu marido. Como você lidou com essas críticas?
A gente olha as coisas do ângulo que nos convém. Recebi muitas críticas, mas muita gente achou legal e levou como diversão, assim como eu levei. Entendo quem não tenha esse olhar. Somos plurais, e está tudo certo. Eu lido muito bem com as críticas, porque eu acho que elas não são sobre mim, mas sobre uma Deborah que as pessoas constroem. Elas não têm ideia de quem eu sou. Criticam algo que elas supõem. A minha vida é muito maior do que os cinco segundos que viralizam na internet. Eu sou uma mulher muito maior. Tenho milhões de assuntos que me interessam. Mas esse é o único que viraliza na internet, por isso as pessoas me veem mais vezes falando sobre o tema. Essas críticas não me doem.
Em “Elas por elas” há flashbacks de 25 anos atrás. Na vida real, no fim dos anos 90, você fazia seu primeiro ensaio nu para uma revista masculina. Depois desse tempo, como você vê essas fotos?
Hoje vejo de uma forma muito mais legal do que eu via há 25 anos. Na época, eu ainda tinha muita preocupação com o que os outros iam pensar. Também não tinha o domínio sobre a minha sexualidade. Era completamente despreparada para aquilo. Acho o ensaio bonito e bem-feito, mas talvez tenha feito cedo. E tudo bem também! A gente amadurece na dor. Eu aceitei somente pelo dinheiro. Não sei se faria outro. De repente, se fosse uma equipe incrível, umas fotos lindas… Não tenho muito problema com a nudez, não. Acho que todo mundo tem o mesmo corpo, temos tudo igual.
Você disse que no ensaio nu você não tinha domínio sobre sua sexualidade. Quando você se destravou?
Ah, cada ano a gente se destrava um pouquinho, né? Acho que é uma evolução mesmo. A maturidade é um templo. A gente vai melhorando a cada dia e se destravando. Fiz muitos anos de análise. A terapia foi muito importante pra mim. Minha terapeuta faleceu há alguns anos e, desde então, estou sem fazer. Estou procurando outra e não consigo achar, me faz muita falta.
Como está sua atual fase como mãe?
Equilibrando os pratinhos, mas fazendo o melhor que posso. Tenho trabalhado muito com a novela e “Rensga Hits”. É uma loucura dar conta de tudo, mas exemplo é tão importante quanto presença. Para mim, sempre bate isso de ser uma mulher feliz e realizada. Tenho que levar esse modelo pra minha filha.
Você conversa com Maria Flor sobre temas como sexo e relações homoafetivas?
Ela é muito novinha ainda. A gente fala de forma leve, sobre liberdade, sobre ela ser o que quiser ser. Ela nunca perguntou sobre relacionamento de pessoas do mesmo sexo. Eu convivo com vários amigos homossexuais e ela entende com muita tranquilidade que a tia fulana namora a tia beltrana, o tio fulano namora o tio beltrano… Isso nunca foi uma questão. Se ela me questionar, será fácil falar. Para mim, todo tipo de amor é bom. Não tem nada de errado quando a gente lida com esse sentimento, quando a gente só faz o bem para alguém e não machuca ninguém. Minha mãe sempre foi uma mulher livre e falava disso comigo (a própria atriz já confessou ter se relacionado com mulheres em entrevistas anteriores).
A sociedade impõe a pressão sobre a mulher de que ela tem que namorar, casar, ter filho e um segundo herdeiro. Você sente essa pressão?
Eu não tenho sentido essa pressão por um segundo filho. Tenho muita vontade de ter outro, mas sinto um pouco de receio porque já passou muito tempo que tive a Maria. Estou há dois anos sem tomar anticoncepcional. Se vier, vai ser bem-vindo, mesmo com essa mistura de medo e de vontade. Se não vier naturalmente, não vou fazer procedimento para conceber. Ele vai vir se for da vontade de Deus. Não vou interferir na natureza de forma tão incisiva. Quando a Maria nasceu, eu tinha um diagnóstico de que não podia engravidar . Estava com os ovários atrofiados. Eu vivia como se não pudesse ter filho. A minha gestação foi um milagre. Me senti muito presenteada. Se não for vontade de Deus que eu tenha mais, entendo e aceito. Ele já me deu a filha mais incrível. Ela é a criança mais doce, generosa e simpática do mundo. Parece que veio pronta.
Como está a atual fase dela?
Ela brinca como eu brincava, de se maquiar, dançar, interpretar. Maria me faz voltar para mim, como se ela esfregasse na minha cara o que eu tenho de melhor e de pior. A minha maior lição é olhar a Maria, é como se eu tivesse me enxergando de fora. Ela me coloca em contato com tudo que preciso aprender.
A maternidade a transformou como as pessoas dizem que acontece?
A mulher livre que eu sou hoje existe graças à maternidade. Eu quero que a minha filha seja completamente livre também. Claro que sem machucar nem magoar ninguém. A maternidade me transformou em tudo.
Ainda continua sem malhar?
Parou de fazer sentido. Eu prefiro o meu corpo como ele é sem malhar. Minha saúde está boa, por enquanto. Não tenho a bunda mais tão dura, mas está tudo bem. Estou lidando melhor com minhas imperfeições.
Com tantos anos de carreira e sendo muito conhecida em todo o país, já pirou em algum momento?
Talvez no início da minha adolescência, mas sempre tive pessoas que me puxaram para o chão. Eu entendo que tudo que eu tenho foi através do meu esforço. Eu trabalho pra caramba, não durmo praticamente. Nunca fui deslumbrada, sempre valorizei tudo que fiz.
Muitos artistas vivem entre altos e baixos. Você teve momentos difíceis?
Não vivi os baixos não. Fui muito abençoada. Consegui ser feliz na TV, no cinema e no teatro. Sinto que a minha carreira só teve altos.
Como é ser uma fábrica de memes?
Eu adoro! As pessoas vivem me pedindo Pix na rua e eu respondo: “Eu não tenho dinheiro, inferno!” (frase que Karola, sua personagem em “Segundo sol”, falou para Laureta, vivida por Adriana Esteves). As frases que mais repito são essa e “A gente não é o que a gente quer ser, a gente é o que a gente consegue ser” (falada no “Programa do Bial”). São meus memes favoritos.
Quais características do signo de Sagitário você tem?
Sou decidida, confiante, intensa, livre e independente. Faço tudo do meu jeito, como quero. Sou corajosa, mesmo que tudo esteja um caos, eu vou com força. Mas não gosto de festa. Sou supercaseira, como cancerianos. É meu ascendente. Se você me vir numa festa, provavelmente estarei trabalhando.
Como é sua conexão com o Divino?
Não tenho uma religião, mas uma conexão muito grande com Deus. Eu converso com Ele todo dia. A gente bate altos papos. Pergunto tudo para Deus, e Ele me dá respostas tão claras… Deus é meu parceiraço.
Já que está em “Elas por elas”, diga quem é Deborah por Deborah…
Eu sou feliz. Hoje, sem amarras, graças a Deus, me preocupando cada vez menos com o que pensam sobre mim. A melhor coisa da Deborah é ser mãe. A maternidade é o que mais me inspira e mais me completa. Trocaria tudo que eu tenho pela felicidade da minha filha. Sou muito apaixonada pela família que construí. Sou quieta, apesar de não parecer. Só gasto energia quando preciso.