Do Estadão – A campanha de Sergio Massa, ministro da Economia e candidato da esquerda à presidência da Argentina, ganhou o reforço recentemente de marqueteiros e estrategistas brasileiros que lideraram campanhas do PT nos últimos anos. Eles desembarcaram em Buenos Aires após as primárias, em agosto, para atuar na reação ao avanço do libertário e oposicionista Javier Milei. As eleições na Argentina estão marcadas para o dia 22.
O comitê de Massa queria contar com a cúpula do marketing do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles chegaram a conversar com o baiano Sidônio Palmeira, que liderou a campanha vitoriosa de Lula contra Jair Bolsonaro no ano passado e criou a marca e o slogan do governo federal, União e Reconstrução.
A informação da participação de ex-colaboradores de campanhas do PT foi publicada pelo jornal O Globo e confirmada pelo Estadão. O partido nega ter feito indicações ou intermediado a contratação dos publicitários no exterior.
A ajuda dada por petistas a Milei é o episódio mais recente do envolvimento do governo petista com a eleição no país vizinho. Nesta semana, o Estadão revelou que o governo pediu em julho à ministra do Planejamento Simone Tebet, governadora do Brasil no CAF, que votasse a favor da liberação de empréstimos para a combalida economia argentina.
O governo diz que o intuito da intervenção era ajudar um importante parceiro comercial do Brasil na região. Na condição de ministro e candidato, Massa esteve no Brasil em agosto, quando discutiu outra potencial ajuda à economia argentina com Haddad e Lula.
Milei repercutiu a reportagem do Estadão em sua conta na rede social X, antigamente conhecida como Twitter, com críticas a Lula. “A casta vermelha está tremendo”, disse o libertário.
Relação próxima
O Estadão apurou que Sidônio foi sondado, mas rejeitou ingressar na equipe de Massa por considerar que assumiria o trabalho com prazo curto. No entanto, Sidônio indicou dois profissionais de sua confiança para colaborar com o candidato de situação à sucessão de Alberto Fernández.
Atualmente trabalham na campanha do ministro da Economia Raul Rabelo e Otávio Antunes. Ambos colaboraram com a campanha do atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em 2018, à Presidência da República. Eles também aturam em favor do PT em 2022. Rabelo na campanha presidencial de Lula, e Antunes na estadual de Haddad, em São Paulo.
Raul Rabelo é diretor de Criação e sócio de Sidônio Palmeira na Leiaute Propaganda, empresa sediada em Salvador (BA). Antunes é dono da Urissanê Comunicação, de São Paulo (SP).
Fantasmas do passado
É comum que marqueteiros vitoriosos no Brasil assumam o comando de campanhas políticas na América Latina. No passado, a atuação de alguns deles foi investigada por suspeitas de pagamentos irregulares fora do País e envolvimento em esquemas de corrupção, como confessaram Duda Mendonça, João Santana e Mônica Moura. Foi o caso de eleições na Venezuela, no Peru, em El Salvador e em outros países da região.
Os argentinos da Frente de Todos buscaram os publicitários ligados ao PT pela experiência na disputa com a direita bolsonarista. Segundo jornais argentinos, Lula discutiu com Massa uma ajuda na campanha, com estratégia de marketing, durante a visita do ministro a Brasília, em 28 de agosto.
Na ocasião, Lula disse ao ministro da Economia que enviaria pessoas de sua confiança à Argentina, com o objetivo de ajudá-lo a barrar a direita, segundo relatou o peronista. Massa veio ao Brasil para tratar de socorro financeiro do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe) de US$ 600 milhões, com o objetivo de financiar exportações em empresas brasileiras ao país vizinho.
O empréstimo citado não é o mesmo daquele de US$ 1 bilhão, feito pelo CAF à Argentina – como revelado pelo Estadão, com aval político de Lula. O financiamento de US$ 1 bilhão, aprovado por 20 dos 21 países-membros do CAF, com voto contrário do Peru, foi concedido para que a Argentina, sem dólares na praça, pudesse receber uma parcela de US$ 7,5 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O governo Fernández, do qual Massa é representante político nas eleições, enfrenta altas taxas de impopularidade, por causa sobretudo do agravamento da crise econômica, com escassez de dólares e inflação acumulada de 124,4%, até agosto.