Deputado bolsonarista é acusado de assédio sexual e omissão de socorro a prostituta
O deputado distrital Daniel Donizet (MDB-DF) é acusado de assédio sexual, rachadinha e omissão de socorro a uma garota de programa, que diz ter sido espancada por seu assessor.
Ex-funcionárias do parlamentar procuraram a Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios para relatar os casos de assédio. Em nota, Donizet nega as acusações e diz refutar crimes e violência contra as mulheres. Duas ex-servidoras que registraram as acusações na polícia e no Ministério Público falaram à Folha.
Uma delas, Fabrícia Morais, afirma que sofreu ameaça do deputado por não ter aceitado fazer sexo com ele. “Ele me disse: ‘Fabrícia, aqui é igual o big brother. Só fica quem dá'”, afirmou.
A ex-funcionária diz que foi exonerada por não ter cedido às investidas. Outra mulher, que trabalhou no gabinete do deputado e preferiu não se identificar, afirma que também foi abordada pelo parlamentar em uma confraternização e que teve relação sexual com ele. No entanto, ela diz ter se sentido forçada a ceder por se tratar de seu chefe.
Fabrícia Morais ocupou um cargo na Administração Regional do Gama por indicação do deputado. Ela afirma que todos os funcionários do órgão eram indicados pelo parlamentar e que eram obrigados a participar dos seus atos de campanha, inclusive no horário de expediente.
Segundo ela, a primeira abordagem ocorreu em uma festa em que estavam todos os servidores. “Parecia um cachorro no cio. Ele chegou em mim bêbado e disse que pegava todas as meninas. Ele falou no meu ouvido isso.”
Após alguns dias, em outra festa, afirma ter sido convidada para ir ao motel com ele. “Não fui. Fui exonerada porque não transei com ele”, afirma.
Ela diz que ouviu relatos parecidos de outras pessoas que trabalharam para ele. “Uma colega me mostrou uma mensagem enviada por ele à 1h da manhã. Ela falou para mim que desligava o celular para não dar um não para ele porque estava com medo de perder o emprego.”
Ambas dizem que tiveram que passar por tratamento psicológico para superar traumas da época. Donizet, que é antigo apoiador de Jair Bolsonaro (PL), foi eleito pelo PL e migrou para o MDB recentemente, por articulação do presidente da Câmara Legislativa, Wellington Luiz (MDB-DF).
No final de 2021, ele foi alvo de uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público local, que cumpriram mandados de busca e apreensão em seu gabinete. O inquérito contra ele apura a existência de funcionários fantasmas e a prática de rachadinha, que consiste na obrigatoriedade imposta a servidores para repassar parte do salário ao deputado.
O parlamentar também se tornou alvo de investigação após uma prostituta afirmar que foi espancada por um assessor seu e de ele ter omitido socorro. Ela registrou um boletim de ocorrência na polícia. Nele, diz que o assessor bateu nela em um motel e que, na ocasião, Donizet estava no mesmo quarto e se recusou a ajudá-la.
“Eu pedindo para ele [o assessor] parar e ele não parava […] e tirou a camisinha. Todos omitiram socorro, inclusive o Daniel Donizet”, disse a mulher em depoimento à polícia.
No fim de setembro, logo após a revelação do caso, a mesa diretora da Câmara Legislativa arquivou um pedido de cassação do deputado por quebra de decoro parlamentar.
A Promotoria do Gama, onde corre a investigação, e a Polícia Civil do DF, não quiseram se manifestar sobre as investigações. Deputado nega acusações e diz refutar crimes e violência contra mulheres.
Por meio de nota, o deputado afirmou que é inocente. “A defesa do deputado acompanha os procedimentos, mas esclarece que o parlamentar não foi indiciado em nenhum dos casos. Em razão de serem sigilosos, há impedimento legal para passar informações, sob penalidade de interferir nas investigações”, diz.
O parlamentar também diz que “sempre se colocou à disposição das autoridades, bem como tem a certeza de que tudo será esclarecido, sendo ao final comprovado que não há qualquer envolvimento de sua parte nos fatos”.
“Como seu histórico reforça, o deputado refuta quaisquer tipos de crimes e violência contra as mulheres”.