Arthur Lira volta com sangue nos olhos

Por Rudolfo Lago

Depois de reunir os líderes dos partidos, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou a suspensão do projeto que estabelece a taxação de investimentos no exterior em fundos off-shore, aquilo que o governo batiza de “imposto dos super-ricos”.

Lira afirmou ter adiado a votação porque não houve acordo com os líderes. Mas o que se comentava ontem, em Brasília, é que o presidente da Câmara voltou da viagem ao exterior com sangue nos olhos. Disposto a novamente endurecer porque o governo ainda não teria cumprido com sua parte nos acordos, que incluem liberação de verbas do orçamento e cargos. E certamente não ajudou na construção desse ambiente a notícia que ele recebeu de certa exposição na Caixa Econômica.

Lira ficou irritado quando soube que a Caixa exibia a exposição “O Grito”, com uma obra da artista plástica Marilia Scarabello, uma colagem de diversos cartazes. Um deles com uma imagem nada abonadora de Lira ao lado de integrantes do governo anterior.

A informação sobre a exposição foi publicada pela manhã pelo site Poder 360. No cartaz que faz parte da colagem, aparecem Lira, o ex-ministro da Economia Paulo Guedes e a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) dentro de uma lata de lixo com o desenho da bandeira.

Lira não escondeu sua irritação. E ela chegou ao Palácio do Planalto. Segundo informações, provocando também a irritação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tudo o que Lula a essa altura não precisa é de pretextos para que Lira endureça seu jogo de negociação com o governo. A exposição acabou suspensa, com o argumento de que obras com viés político ferem as diretrizes do programa cultural do banco. O trabalho de Marilia Scarabello é apenas um dos quadros à mostra. O fato é que a votação do projeto, que é uma das pautas de máximo interesse do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi suspensa.

O que torna a questão ainda mais delicada é que a Caixa é um dos espaços de cobiça de Lira e do Centrão que ainda não foram entregues. Nas negociações feitas ainda no final do primeiro semestre, Lula prometeu ao grupo o comando da Caixa, com suas 12 vice-presidências.

A aprovação do imposto dos super-ricos já é, em si, polêmica, porque envolve interesses de empresários, nos quais se incluem mesmo alguns parlamentares. Há, por exemplo, uma grande resistência da bancada ruralista, por conta de investimentos do agronegócio brasileiro.

Os empresários do agronegócio costumam investir em fundos de investimentos em cadeias agroindustriais, que são conhecidas pela sigla Fiagros. O relator do projeto, deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), tenta um acordo para reduzir a resistência da bancada ruralista.

Antes do entrevero por conta da reunião, Lula já tencionava conversar com Lira para aparar arestas. Em princípio, o projeto das off-shores pode ser colocado em votação nesta quarta-feira (25). Mas talvez seja preciso saber se passou a irritação de Lira com a lixeira.

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