Inferno botafoguense parece obra de um roteirista perverso

Por Milly Lacombe — Como na última cena de “A Vida de Truman”, quando o protagonista descobre os limites do cenário em que vivia, o Botafogo encontrou na noite de 29 de novembro de 2023 os limites da zoação no futebol. Diante do drama escrito por um roteirista sádico e perverso, no qual o Botafogo abre o placar aos 50 minutos do segundo tempo e sofre o empate aos 52, torcedores rivais não encontraram mais ambiente para o deboche.

Tem sido esse o roteiro desde a derrota para o Palmeiras por 4×3 no Nilton Santos. É como se, com a virada em casa para o time de Abel Ferreira, o Botafogo tivesse aberto um portal para um tipo de inferno comandado por um diabo peculiar que tira prazer em dar a esperança de glória iminente para, no apagar das luzes, tirar.

Não tem mais clima para que debochemos de botafoguense porque eles estão nos ensinando sobre um tipo de tragédia que não sabíamos existir no futebol – esse palco de muitas tragédias já experimentadas.

Tantas fronteiras foram cruzadas por esse Botafogo que só nos resta ser solidários e solidárias à dor do rival.

Não sabíamos que havia esse nível de sofrimento, essa chave que vai da alegria à tristeza em segundos e por dias e dias e dias.

Se era para aprendermos uma lição, podemos dizer que aprendemos. Podem parar de fazer isso com o Botafogo pelo amor de Deus.

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Milly Lacombe é jornalista, escritora e roteirista brasileira. Tem uma coluna na revista mensal TPM, chamada “Coluna do Meio”, e foi uma das pioneiras da atuação feminina no jornalismo esportivo televisivo.

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