Com dívidas de R$ 50 bi, Americanas recebe sinal verde para recuperação judicial

Do G1 – A Americanas conseguiu aprovar seu plano de recuperação judicial nesta terça-feira (19), em Assembleia Geral de Credores (AGC). A empresa entrou com um pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023, na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, mas precisava desta aprovação para começar a valer.

A primeira versão do plano foi apresentada em março. A varejista levou, portanto, quase todo o ano para costurar um acordo para sanar R$ 50 bilhões em dívidas.

Na madrugada desta terça-feira, a empresa já havia afirmado que Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia e outros credores aceitaram um acordo para apoiar o plano de recuperação.

Com isso, a Americanas chegou ao dia de avaliação com adesão de “parcela significativamente superior a 60% da dívida da companhia”.

BB e Caixa estão entre as instituições confirmaram a informação e votaram sim pela aprovação.

Para validar o plano, a companhia precisava da adesão dos credores que representam a maior parte (mais da metade) do volume de créditos cedidos à empresa e também do voto favorável da maioria dos credores presentes na assembleia.

BB e Caixa ee votaram pela aprovação da medida

Veja abaixo os principais pontos da recuperação da Americanas:

Números da dívida a ser recuperada

  • O saldo de créditos a serem reestruturados é de R$ 50,1 bilhões
  • Após as auditorias, a fraude de resultado representou R$ 25,2 bilhões ao fim de 2022
  • A dívida trabalhista (classe 1) é de R$ 82,9 milhões
  • Não há dívidas com garantias reais (classe 2)
  • Os créditos quirografários (classe 3) — que incluem fornecedores, investidores, prestadores de serviços e outros credores comerciais, e sem garantias específicas — representam R$ 49,9 bilhões
  • Dívidas com microempresas e empresas de pequeno porte (classe 4) são R$ 180,2 milhões
    Aporte dos acionistas
  • Os “acionistas de referência” da Americanas — o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto
  • Sicupira e Marcel Telles — injetarão R$ 12 bilhões em aumento de capital na empresa;
  • Atualmente, o trio detém 30,12% do capital social da companhia.
  • Do total, R$ 1,5 bilhão já foram aportados e outros R$ 3,5 bilhões seriam enviados em até 15 dias após a data da homologação do plano.
Fachada de uma loja física da Americanas — Foto: Divulgação
Fachada de uma loja física da Americanas.

Venda de ativos

  • Hortifruti Natural da Terra, com 75 lojas em quatro estados, e três centros de distribuição.
  • Uni.Co, empresa de franquias detentora de marcas com Imaginarium e Puket.
  • Possibilidade de venda, mediante avaliação: AME, de meios de pagamento, e operação digital (marketplace e estrutura ligada, com possibilidade de alcance da venda direta).

Outros destaques

  • Credores da classe 3 com dívidas até R$ 12 mil recebem integralmente, em parcela única, em até 30 dias da homologação.
  • Os que têm dívidas acima de R$ 12 mil podem renunciar ao valor acima desse corte para receber no mesmo prazo.
  • Quem decidir não renunciar, terá deságio de 50% e amortização em 48 parcelas.
  • Outra opção é deságio de 70% para pagamento em parcela única em 2039.
  • A empresa vai destinar R$ 100 milhões para quitar em 45 dias os fornecedores de tecnologia, como marketplaces e canais digitais, “importantes para o soerguimento da Americanas”.
  • Será feito um leilão reverso (vence quem efetuar o lance com o menor preço) de R$ 2 bilhões de créditos da Americanas, com mínimo de 70% de desconto.
  • Credores financeiros podem optar uma capitalização de créditos (conversão de dívidas em capital próprio) de até R$ 12 bilhões em ações ou de R$ 1,8 bilhões em debêntures da empresa.
  • Está previsto também uma emissão de novas ações, com preferência de compra para atuais acionistas: a cada três ações subscritas, o acionista recebe uma de bônus. (veja mais detalhes abaixo)
  • Credores que não se inscreverem para suas devidas modalidades serão pagos com 80% de deságio, em parcela única em janeiro de 2044.

Mudanças no plano

A Americanas ainda anunciou algumas mudanças feitas no texto inicial de recuperação judicial, de forma a deixar o plano mais claro para os credores a respeito do pagamento de seus débitos.

Além disso, a empresa também estabeleceu os critérios referentes ao preço de emissão de novas ações no aumento de capital previsto no plano.

De acordo com a companhia, ficou estabelecido que, com base no cálculo proposto, o preço deve ser de cerca de R$ 1,30 por ação. Esse preço só será válido se o plano de recuperação judicial da empresa for aprovado nesta terça-feira e após ter sido submetido à Assembleia de Acionistas da companhia.

Relembre como tudo começou

No dia 11 de janeiro, a Americanas divulgou um fato relevante informando que havia identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos, em um valor que chegaria a R$ 20 bilhões.

O então presidente da Americanas, Sergio Rial, decidiu deixar o comando da companhia e o escândalo iniciou um processo de derretimento de uma das maiores varejistas do Brasil.

Como consequência da revelação feita na noite de quarta-feira, os investidores amanheceram em polvorosa. As principais instituições financeiras colocaram as ações da Americanas sob revisão, e a B3, bolsa de valores de São Paulo, colocou os papéis ordinários (com direito a voto) da empresa em leilão. Leia abaixo a reportagem abaixo.

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