A água do São Francisco e a da Mata Sul vão trazer segurança hídrica para o Agreste, a região de maior estresse hídrico de Pernambuco. A atual gestão da governadora Raquel Lyra (PSDB) está planejando concluir três adutoras que vão tornar isso realidade numa parte daquela região até 2025. Será um marco histórico numa área marcada pela escassez de água e estiagens. E isso vai trazer um grande impacto econômico à região e acontecer um ano antes da próxima eleição para chefe do Executivo estadual.
“O salto econômico da região vai ser enorme. Se o Agreste teve todo este desenvolvimento, imagine quando tiver água”, comenta o atual secretário estadual de Recursos Hídricos, Almir Cirilo, grande especialista da área. O Agreste desenvolveu várias vocações próprias, como o pólo de confecções, concentra uma parte da avicultura do Estado e também da bacia leiteira, entre outras atividades.
O Agreste tem água durante alguns períodos, mas o problema é que não consegue reter esta água. Lá, grande parte dos rios é intermitente, secando durante os períodos secos que são cíclicos. “Barragens que hoje são usadas somente para o abastecimento humano, poderão ser usadas para atividades econômicas, quando tiver segurança hídrica”, explica Cirilo.
As três adutoras que estão em construção e vão dar segurança hídrica a uma parte do Agreste são: a primeira etapa da Adutora do Agreste, que deve ser concluída em 2025; a Adutora Alto Capibaribe e a Adutora de Serro Azul. As duas primeiras vão receber a água do Rio São Francisco, que tem sua origem no Sudeste e, geralmente, um regime de chuvas diferentes do de Pernambuco.
E só esclarecendo, o termo segurança hídrica significa que estas cidades vão passar a ter água na torneira a qualquer hora, algo que nunca aconteceu em muitas cidades do Agreste.“As três adutoras vão se encontrar. E vão compor um leque de opções mais flexíveis, conforme tenha menos água ou mais água numa determinada região”, resume Almir Cirilo, se referindo às adutoras Alto Capibaribe, a primeira etapa da Adutora do Agreste e a do Serro Azul.
A mais importante das três adutoras é a do Agreste, que tem a sua primeira etapa em construção desde 2013. A primeira fase vai levar água a 23 municípios do Agreste, que estão, ao longo da BR-232, entre Arcoverde e Gravatá. Faltam R$ 550 milhões para concluir esta obra. “Os recursos estão assegurados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional via Orçamento Geral da União (OGU). São dois anos para concluir a primeira etapa”, afirma Cirilo. Esta primeira fase vai levar água a 23 municípios do Agreste.
Já a Adutora Alto Capibaribe vai transportar a água que vai receber do Rio Paraíba – que capta a água do Eixo Leste da transposição do São Francisco – e trazer para oito cidades do Agreste Setentrional de Pernambuco: Frei Miguelinho, Jataúba, Santa Cruz do Capibaribe, Santa Maria do Cambucá, Taquaritinga do Norte, Toritama, Vertente do Lério e Vertentes. Também será beneficiado o distrito de Barra de São Miguel, na Paraíba. “A água faz um trajeto longo, porque vem do Eixo Leste do São Francisco, mas Barra de São Miguel está a uma distância curta de Santa Cruz do Capibaribe”, explica Cirilo. A obra está com 90% de execução, em fase de testes e deve ser concluída no primeiro semestre de 2024.
Com 58 quilômetros de extensão, a Adutora Serro Azul transportará água da barragem de mesmo nome, em Palmares, até a interligação da Adutora do Agreste, entre os municípios de Caruaru e Bezerros. A obra vai ampliar a oferta de água das cidades de Belo Jardim, Bezerros, Caruaru, Gravatá, Palmares, Sanharó, Santa Cruz do Capibaribe, São Bento do Una, São Caetano, Tacaimbó e Toritama. O valor do investimento é de R$ 222 milhões, beneficiando cerca de 1 milhão de pessoas. Serro Azul está com 95% de execução e vai funcionar, em fase de testes, neste janeiro. As duas últimas obras já tem recursos garantidos que foram emprestados pela Caixa Econômica Federal (Alto Capibaribe) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no caso de Serro Azul.
Um traçado da água que começou em 2013…
No auge de uma das maiores estiagens que o semiárido de Pernambuco já presenciou, especialistas incluindo o atual secretário Almir Cirilo, começaram a fazer um traçado de adutoras que faziam conexões entre si e trariam a segurança hídrica para uma parte do Agreste pernambucano. “Este desenho das três adutoras foi feito em 2013 pelas equipes do governo Eduardo Campos/ João Lyra. Mas as primeiras discussões sobre isso ocorreram em 1995, quando começou a se falar qual o benefício que o projeto da transposição do São Francisco traria para Pernambuco”, lembra Cirilo. E acrescenta: “É muita emoção ver esta batalha vencida”.
Vários foram os motivos que contribuíram para estas obras demorarem tanto a sair do papel e aí inclui os desentendimentos políticos e as crises econômicas pelas quais o Brasil passou. No campo político, um dos motivos foi a dissidência do então governador Eduardo Campos (PSB) com o governo Dilma Rousseff (PT) que atrasou os repasses de recursos para a Adutora do Agreste. Sem falar que a União também demorou para decidir fazer o Ramal do Agreste, que capta a água do Eixo Leste da transposição e leva até o início da Adutora do Agreste, em Arcoverde.
Depois, veio a recessão de 2015 a 2016 com o Estado e a União com menos recursos. E aí o que poderia ter ficado pronto, em três ou quatro anos, levará 11 anos para ser concluído.
Os pontos positivos e negativos da transposição…
O ponto positivo é que a água do São Francisco chegar ao Agreste é um “sonho”, como disse a governadora Raquel Lyra, ao visitar uma Estação de Tratamento de Água, em Caruaru, que recebeu a água do São Francisco, pela primeira vez, no dia 11 de dezembro do ano passado. Embora esteja precisando de um revitalização, o São Francisco é um rio perene.
“A água e a energia são parâmetros importantes para o desenvolvimento. Nos últimos 20 anos, Caruaru foi uma das cidades que mais cresceu em Pernambuco. Ter água vai colocar Caruaru e outras cidades da região em outro patamar. Um dos entraves ao crescimento de várias cidades do Agreste é a escassez de água”, resume o economista sócio da Ceplan Consultoria e professor de Economia da Unicap, Valdeci Monteiro. Ele também cita que uma maior oferta de água também vai beneficiar economicamente cidades que já exploram o turismo no Agreste, como Gravatá e Bezerros.
Valdeci considera o uso da água da transposição do São Francisco uma solução interessante, mas questiona se é sustentável a longo prazo. Este é o grande x da questão. O projeto da transposição do São Francisco foi construído com recursos da União e pertence ao governo federal. Embora o Eixo Leste da transposição esteja em operação desde 2017, até hoje não há um sistema de gestão estabelecido para a sua operação e é dele que sai a água que está chegando ao Agreste pernambucano.
“É surreal estar usando a água da transposição sem ter uma definição de como será esta gestão. Dá a impressão que as coisas são feitas sem o planejamento no longo prazo”, comenta Valdeci. O governo federal contratou o BNDES para fazer uma modelagem de como poderia ser a gestão privada via uma Parceria Público Privada (PPP) com a participação do governo federal. O estudo só deve ficar pronto em 2025.