Em disputa familiar, irmã processa Thereza Collor em batalha por herança bilionária

Por Carlos Madeiro, do UOL – A empresária alagoana Maria de Lourdes Lyra, conhecida como Lourdinha Lyra, entrou com uma queixa-crime contra a irmã Thereza Collor acusando-a de calúnia e difamação.

Como a empresária cita no texto da ação, trata-se de mais um capítulo da “guerra” que trava com os irmãos, herdeiros de João Lyra —ex-deputado federal mais rico do país— que morreu aos 90 anos, em consequência da covid-19 em agosto de 2021.

Lourdinha foi indicada como responsável pela administração do patrimônio de Lyra quando ele ainda era vivo e estava com a saúde debilitada. Na época, suas empresas ruíam em profunda crise econômica. A empresária tem cinco irmãos; quatro dizem ter perdido a confiança nela.

Após a morte do pai, ela foi designada como inventariante e ingressou como parte no processo da massa falida da Laginha Agro Industrial S/A, um conjunto de usinas em Alagoas e Minas Gerais. A falência deu início a uma saga judicial que chegou até ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) como o maior processo de falência do país.

A Laginha era a empresa mais valiosa do antigo grupo João Lyra —e, por anos, foi a marca do poder do empresário em Alagoas. Em 2017, estava avaliada em 1,9 bilhão (cerca de R$ 2,7 bilhões em valores atuais).

Hoje, parte da área em Alagoas está ocupada por sem-terra, que lutam pela desapropriação para reforma agrária.

“No bojo do processo judicial, em torno da massa falida, travou-se uma verdadeira guerra entre alguns dos herdeiros do ex-parlamentar e a senhora Maria de Lourdes.” Trecho da queixa-crime

Fachada da usina Laginha, em Alagoas
Fachada da usina Laginha, em Alagoas.

Quatro irmãos contra Lourdinha

Desde que ingressaram no processo da Laginha, quatro irmãos já pediram na Justiça a retirada de Lourdinha da função de inventariante. Coube à Thereza Collor ir à imprensa fazer acusações.

Os três pedidos:

Abril de 2022 – Guilherme de Lyra pediu o afastamento alegando “ocultação e desvio de bens em proveito próprio ou terceiro.”
Fevereiro de 2023 – Thereza pediu o afastamento alegando “inércia e omissões” no processo falimentar, que teria “resultado no deterioramento do espólio.”
Agosto de 2023 – Thereza, Antônio Lyra e Ricardo Lyra (filhos de João) entraram juntos, dessa vez, alegando perda de confiança de quatro dos seis herdeiros em Lourdinha, além das ausências de fiscalização ao administrador judicial e de prestação de contas, descumprimento de decisões, ocultação e desvio de valores e protelação da conclusão do inventário.

Os três pedidos foram negados pela Justiça, que mantém Lourdinha como inventariante.

Entrevistas desencadeiam queixa

A queixa-crime de Lourdinha contra a irmã veio após as acusações feitas por Thereza Collor em entrevistas concedidas às revistas Veja e IstoÉ. A informação da ação foi noticiada primeiramente pelo jornal Extra de Alagoas.

Em julho do ano passado, Thereza Collor afirmou à Veja que a gestão de Lourdinha não tinha preparo e estaria impondo “custos astronômicos” com contratos de processo de longa duração “na contramão do que deve ser a falência.”

Também são preocupantes as ligações profissionais e econômicas entre os assessores jurídicos e financeiros. Com a perpetuação da falência, os credores são prejudicados, e somente os assessores ganham.
Thereza Collor

Thereza Collor voltou a acusar a irmã em nova entrevista, dessa vez à revista IstoÉ, em novembro do ano passado. Mais uma vez, afirmou que a gestão do inventário e de falência tem “parcerias suspeitas”, além de dizer que Lourdinha age “com autoritarismo e sem transparência.”

“O conteúdo agressivo revela que a Sra. Thereza Collor imputou a ela a prática de apropriação indébita e crimes falimentares. Não bastasse isso, a querelada acusou a irmã de realizar uma gestão temerária através do deterioramento do patrimônio da família Lyra, disseminando o fato de modo a macular o prestígio social da Sra. Maria de Lourdes, que ostenta notoriedade perante a sociedade alagoana.” Trecho da queixa-crime

Cana de açúcar que era cultivada em área pertencente João Lyra, em União dos Palmares (AL)
Cana de açúcar que era cultivada em área pertencente João Lyra, em União dos Palmares (AL).

Uso da “figura pública de renome”

Para Lourdinha, a irmã tenta usar o fato de ser “figura pública de renome” e fazer “pressão popular” para tentar convencer o Judiciário a retirar a empresária do cargo.

Ela cita que as entrevistas foram concedidas estrategicamente antes dos atos processuais. “Ela moveu máquina midiática para conseguir gerir os bens da família.”, acusa.

“O ato expositivo realizado pela Sra. Thereza Collor é, em verdade, fruto da insatisfação com o posicionamento do Judiciário e visa a constranger a renúncia ou remoção da condutora do inventário. Infrutíferos os pedidos de remoção apresentados nos autos, a Querelada recorreu à mídia para buscar atingir o seu propósito.” Trecho da queixa-crime

Na ação, Lourdinha pede que seja realizada uma audiência de conciliação. Caso não se chegue a um acordo, solicita que se dê prosseguimento à queixa-crime. Por envolver a área criminal, o MP-AL (Ministério Público de Alagoas) foi chamado para se manifestar.

A coluna procurou Lourdinha, que informou por meio do advogado do caso que a família prefere se resguardar neste momento.

Também procurada, Thereza Collor não respondeu aos pedidos de entrevistas feitos pela coluna. Ao jornal Extra, porém, afirmou que a atitude da irmã “parece um desespero. “As pessoas sabem que não minto, que nunca roubei, trabalhei no Estado e saí de mãos limpas. Minha vida sempre foi pública e transparente”, disse.

Os demais irmãos não foram localizados pela reportagem.

Quem é Lourdinha Lyra

Lourdinha é uma figura conhecida em Maceió. Por oito anos, foi vice-prefeita da cidade na gestão Cícero Almeida (2005-2012).

Indicada pelo pai —mentor político/financeiro das eleições de Almeida—, Lourdinha teve um mandato de ruídos: rompeu com Cícero ainda no primeiro ano do primeiro mandato ao fazer acusações contra ele. Apesar disso, foi mantida como vice na disputa a sua reeleição.

Fato curioso é que Lourdinha não assumiu um dia sequer do governo municipal. Almeida, dizem, não confiava nela; por isso, nunca transferiu o cargo a sua vice em viagens oficiais e rejeitou seu direito a férias por oito anos.

Após o mandato, Lourdinha deixou a política e voltou as suas atividades empresariais. Pouco depois, o grupo empresarial do pai entrou com pedido de recuperação judicial e teve a falência decretada pela Justiça.

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