Artistas pernambucanos questionam programação de Carnaval. “Tem muito baiano”

Por Rose Albuquerque — O Carnaval do Recife ainda nem começou, oficialmente, mas já são muitos os questionamentos feitos sobre a sua programação. É que, na Praça do Marco Zero, principal vitrine do carnaval multicultural da cidade, enquanto artistas nacionais têm shows completos, cantores locais são apenas convidados, com participações especiais. Um artista lembrou: “Olodum e Gilberto Gil abrem o nosso carnaval. Por acaso vocês já viram algum pernambucano abrir a festa de Salvador?”, questionou um dos artistas.

Almir Rouche, um dos principais representantes do frevo pernambucano, que também foi um dos homenageados do carnaval de 2017, aparece em duas apresentações no Marco Zero, apenas como convidado, na programação deste ano. Em conversa com o blog, ele relatou que na primeira programação divulgada, havia pouca presença de artistas locais na abertura da festa. “Nós nos incomodamos com isso e questionamos, e aí, mais artistas entraram como convidados”, contou o cantor.

“Lá no início da formatação do Carnaval Multicultural, tínhamos uma programação que mais parecia um festival de músicas. Com um tempo, especialmente, quando o saudoso governador Eduardo Campos, por meio da Fundarpe, enxergou que o carnaval da cidade era que precisava estar no palco principal, nosso carnaval foi finalmente mostrado como é: multicultural, mas fundamentado nas nossas culturas, com artistas locais. E hoje, o que vemos é um retrocesso dessa visão, com uma programação que mais lembra um festival de música que o nosso carnaval mesmo”, completou Almir.

Fundarpe é alvo de críticas: “somos convidados dentro da nossa própria casa”

André Rio, um dos cantores mais festejados no desfile do Galo da Madrugada, falou do sentimento em relação à programação e também criticou a Fundação de Cultura: “a sensação é a de que somos convidados dentro da nossa própria casa”, afirmou o musicista.

É fato que o turista que procura o maior carnaval de rua do país, está em busca do que é produzido aqui. André Rio, inclusive, aproveitou para desabafar: “sinto tristeza porque nós fazemos o frevo o ano inteiro e essa é a nossa principal ferramenta de trabalho, viajando pelo país e divulgando a nossa cultura”.

Marrom Brasileiro, compositor de diversos sucessos de frevos cantados o ano inteiro, aproveitou para destacar que o repertório musical é grande dos artistas locais e está na cabeça de todos. “Se a gente não tivesse música, mas nós temos. E temos muita música”, afirmou.

Gerlane Lops chamou a atenção para a ausência, depois de oito anos, da Orquestra Recife dos Bambas. “Na Noite do Samba, tivemos uma mudança, com a saída do grupo. Isso me entristeceu porque é uma orquestra que mobiliza 30 pessoas. E muitos deles esperam o carnaval para se apresentarem”, explicou.

Todos são unânimes em elogiar a presença de artistas de fora do circuito pernambucano, no palco principal do Marco Zero, mas é impossível não comparar com outros carnavais, em que eles apareciam apenas como convidados. No entanto, agora houve uma inversão em alguns casos.

O OUTRO LADO

Nós tentamos obter resposta da Fundação Cultura, mas não obtivemos resposta até o momento desta postagem. Essa matéria poderá ser atualizada.

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