A política bonitinha de João Campos não esconde os velhos hábitos

De Wilson Lima, de O Antagonista –   João Campos, prefeito de Recife e filho do ex-governador de Pernambuco, tem se destacado nas redes sociais como um político descolado, alegre, feliz e saltitante. Um novo político. Sem aquele ar sisudo, sério, compenetrado de seus colegas da classe política.

A tática, ao menos em teoria, deu certo. Nos últimos meses, Campos conseguiu ampliar o número de seus seguidores nas redes sociais. Desde o final do ano passado, o prefeito de Recife mais que quadruplicou seu número de seguidores no Instagram: saiu de 500 mil no final de 2023 para 2,3 milhões até o momento.

No Carnaval, João Campos platinou seu cabelo, saiu em bloco de Carnaval, fez a festa e dancinhas no TikTok. Recebeu elogios pelos olhos azul e pelo jeito despojado. Em plena campanha à reeleição, Campos busca retratar um outro lado da política. Mais leve e, assim, ganhar a simpatia do eleitor.

João Campos gastou mais de R$ 1 milhão com agência

Mas a política nem sempre é leve. Muito pelo contrário.

No final da semana passada, a Folha de S. Paulo revelou que a prefeitura de Recife – essa comandada por Campos – gastou em torno de R$ 1,2 milhão no ano passado com a agência Hermanos. A agência de propaganda que deu um banho de loja nas redes sociais do prefeito.

Segundo levantamento feito pelo vereador Alcides Cardoso (PSDB), foram feitos pagamentos à agência em março, abril, julho, agosto, setembro e novembro.

A Hermanos é paga com dinheiro do PSB para cuidar das redes sociais do prefeito feliz. O partido não revelou quanto, mas há aí um claro conflito de interesses. Ou, no mínimo, um desvio ético. Afinal de contas, uma empresa contratada pela prefeitura para publicidade institucional não deveria estar envolvida diretamente com as redes sociais do prefeito. Ainda mais um que luta pela reeleição.

A política bonitinha pode até gerar likes e engajamento nas redes. Mas ela só será ‘limpinha’ se fizer algo bem trivial: tratar o eleitor com o devido respeito.

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*Wilson Lima é chefe de reportagem de O Antagonista, especialista em análise política e nos bastidores do Congresso e das Cortes Superiores.

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