Empresário chamado de ‘gênio’ por Valdemar embasou pedido golpista do PL e diz que não viu fraude

 

O empresário Eder Balbino, dono da Gaio.io, que colaborou com a auditoria do PL que pediu a anulação de parte dos votos das eleições presenciais de 2022, disse à Polícia Federal que não encontrou indícios de fraude nas urnas eletrônicas.

Semanas após o segundo turno, o PL usou justamente uma diferença entre os arquivos de urnas mais antigas e as mais novas, levantada pela Gaio, como principal argumento para contestar o resultado das urnas.

O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, citou à época a participação de um “gênio lá de Uberlândia”, cidade em que a empresa está instalada.

Em depoimento à PF, Baldino disse que foi contratado por R$ 8.000 pelo IVL (Instituto Voto Legal), que prestava serviços para a auditoria do partido de Bolsonaro. Ele afirma que desenvolveu um software para elaborar gráficos e cálculos com os dados eleitorais.

“Diante dos dados que recebeu, não viu absolutamente nada que vislumbrasse qualquer fraude nas eleições brasileiras de 2022, apesar de não conhecer a fundo urnas, eleições, esse tipo de coisa”, afirmou o empresário à polícia em 22 de fevereiro.

O depoimento se tornou público nesta sexta-feira (15) por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

O empresário disse à PF que carregou no “sistema Gaio” os logs das urnas —espécie de “diário de bordo” de tudo que aconteceu no equipamento— publicados pelo TSE após as eleições e gerou uma tabela que mostrava a repetição “de um único número de urna exagerado, milhões de vezes, o que era inesperado”.

Balbino afirmou, porém, que este dado não mostrava fraude eleitoral, pois ainda era possível associar o boletim de urna com o log, “uma vez que no nome do arquivo há identificação do código do município, numero da zona e número da seção”.

O empresário disse que enviou email a Carlos Rocha, presidente do IVL, discordando das conclusões do relatório do IVL, usado pelo PL para tentar mudar o resultado das eleições.

“Entende que a falha do sistema, que não identificou o número do log, não era suficiente para imputar uma fraude nas eleições”, registra o depoimento à PF.

Presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Moraes negou o pedido do PL para invalidar os votos de parte das urnas usadas nas eleições de 2022 e ainda aplicou multa de R$ 22,9 milhões ao partido por litigância de má-fé.

Em depoimento à PF, Valdemar Costa Neto afirmou que contratou o IVL e apresentou a ação ao TSE contestando as eleições por pressão de Bolsonaro.

A PF também questionou Balbino se ele era o “gênio de Uberlândia” citado por Valdemar. “[Balbino] respondeu que nunca se nomeou como ‘gênio de Uberlândia’ e não teve nenhuma genialidade no que fez, e nunca foi chamado como gênio, mas acredita que Valdemar realmente se referia ao declarante”, registra o depoimento.

Balbino também relatou à polícia que o presidente do IVL chegou a planejar realizar uma pesquisa de intenção de votos dias antes do segundo turno, com ferramentas da Gaio, mas que o setor jurídico do instituto vetou a ideia.

A polícia também questionou Balbino sobre transmissões nas redes sociais contra as urnas feitas pelo influenciador argentino Fernando Cerimedo.

Isso porque o nome de Balbino aparece em arquivos apresentados pelo argentino. Além disso, alguns dos principais argumentos de relatório do PL contestando parte das urnas usadas em 2022 haviam aparecido antes nas lives de Cerimedo.

À PF o empresário negou relação com as falas de Cerimedo. Ele disse que nunca fez contato com o influenciador digital e que apenas recebeu da equipe ligada ao trabalho do IVL um link para acessar uma pasta virtual do argentino com arquivos sobre as urnas.

Ele afirmou que fez download dos arquivos, mas não conseguiu abrir no software Gaio, “portanto não sabe o conteúdo dos mesmos”. Disse ainda à PF que havia sido informado que os arquivos tinham os dados “mastigados” das urnas.

Por causa das suspeitas de ligação com as lives, Balbino foi um dos alvos de busca e apreensão autorizada por Moraes no começo de fevereiro, em processo que tramita no STF. Ele teve o celular apreendido pela polícia.

Na decisão que autorizou a ação, o ministro disse que a PF havia encontrado indícios de atuação coordenada para amplificar “falsas narrativas que construíram e replicavam acerca do sistema eleitoral brasileiro”.

“Estando ainda devidamente comprovada a relação mantida entre Fernando Cerimedo e Angelo Martins Denicoli [militar da reserva que integrou o governo Bolsonaro] e Eder Balbino, na dinâmica de divisão de tarefas fixada para aquela finalidade”.

 

Mateus Vargas/José Marques/Cézar Feitoza/Ranier Bragon/Julia Chaib/Fabio Serapião/Folhapress

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