A crise no setor elétrico também é de caixa

Conjunção de fatores técnicos e políticos afeta resultados da Eletrobras e da Chesf

ONS prevê fevereiro como o pior em 84 anos, no Sudeste, e 2º pior do Nordeste desde 1931 /

ONS prevê fevereiro como o pior em 84 anos, no Sudeste, e 2º pior do Nordeste desde 1931

Não bastasse o risco de racionamento, o governo federal se depara com um novo problema no setor de energia: conseguir socorro financeiro para a Eletrobras, que já foi chamada de “Petrobras do setor elétrico” pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Estima-se que, por causa de decisões da presidente Dilma Rousseff, a holding fechou 2013 com mais de R$ 8 bilhões no vermelho. Só a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) teria contribuído com um prejuízo superior a R$ 500 milhões. Os balanços ainda serão publicados.

Mas já se sabe que holding e subsidiária fecharam 2012 com rombos históricos, pois um arrocho de caixa baixou a receita operacional das empresas. Para completar novos prejuízos teriam crescido devido aos efeitos imediatos de um Programa de Demissão Voluntária (PDV), que impôs à Eletrobras um custo de R$ 4 bilhões em 2013. Destes, R$ 800 milhões na Chesf.

Quem entende do setor garante: a origem dos rombos é política. O desequilíbrio nasceu da Medida Provisória (MP) 579, de 2012, um aperto no setor para cumprir promessa de campanha da presidente Dilma, hoje pré-candidata a reeleição, de reduzir as contas de luz dos brasileiros em 20%. Para isso, o governo condicionou a renovação de concessões no setor a cortes no preço da energia.

Estatais na zona de influência do governo federal engoliram a imposição e reduziram o preço da energia. Para compensar a receita menor, fizeram pacotes de demissões.

“Na época dos estudos sobre o impacto da MP, o buraco não seria tão grande. O que pesou? O PDV”, diz uma fonte. Outra autoridade ouvida pela reportagem do JC acrescenta que a Chesf tem em caixa para investir R$ 7,5 bilhões que recebeu em indenização por antecipar a renovação em termos desfavoráveis. A situação não é a mesma no conjunto da Eletrobras, que deve precisar de socorro financeiro do governo federal.

Por outro lado, estatais fora da influência política da presidente (a mineira Cemig, a paulistana Cesp e a paranaense Copel) não toparam a imposição de travar a tarifa da energia a preço baixo e passaram a atuar no mercado livre, onde o governo não impõe valor e define só um topo, de R$ 822,83 o megawatt-hora (MW/h).

A questão é que, em paralelo, as hidrelétricas foram obrigadas a reduzir sua produção e poupar água nos reservatórios. Era a seca que dando os primeiros sinais de problemas no setor. Por causa disso, as térmicas foram acionadas, usinas reservas e muito importantes para dar segurança ao sistema elétrico, mas que produzem uma energia muito mais cara.

Assim, com a mercadoria escassa, os preços do mercado livre começaram a ter alguns picos acima da média do ano, em 2013. Com o tempo, na ponta, as distribuidoras, empresas que compram energia para revender ao consumidor final, como a Celpe, ficaram espremidas entre as térmicas e a tarifa cobrada no mercado livre pelas hidrelétricas que não aderiram à MP, um custo que este mês atingiu o topo definido pelo governo, de R$ 822,83 o megawatt-hora (MW/h).

“Quando saírem os balanços de 2013 da Copel e Cemig, por exemplo, na comparação com a Chesf, vai ser possível fazer um contraponto do que houve no setor. E esse contraponto vai ficar ainda mais evidente nos balanços de 2014, que serão publicados ano que vem”, afirma uma fonte do setor.

Em nota, a Chesf informa que, por estar em apuração e conclusão dos números de 2013, os resultados só podem ser divulgados após a publicação do balanço, até 30 de abril. A Eletrobras diz “não comentar especulações”.

REPORTAGEM COMPLETA

Na edição do JC desta terça (17), você entende ainda porque São Pedro não deve ajudar o setor elétrico até o fim do mês. Uma revisão do Operador Nacional do Sistema (ONS) indica que fevereiro será o segundo pior em 84 anos no chamado subsistema Sudeste-Centro Oeste e o pior do Nordeste desde 1931. Segundo previsão da Consultoria PSR, sem chuvas em fevereiro, o risco de racionamento no País chega a 17,5%.

Fonte: JC

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