Opinião
Da mesma forma que Eduardo Campos recorreu a um técnico nas eleições de 98, no Recife, convocando Geraldo Júlio, egresso do Tribunal de Contas do Estado, para disputar a Prefeitura, e em 2014, na sucessão estadual, escolhendo Paulo Câmara, também servidor concursado do TCE, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), herdeiro político do pai, está, em silêncio, maturando também o nome de uma técnica para fechar a sua chapa como vice.
Cotadíssima, Marília Dantas é uma jovem engenheira, que toca um orçamento anual de R$ 1 bilhão na Secretaria de Infraestrutura da Prefeitura do Recife. Não é recifense, mas vem de um berço histórico de lutas, da localidade de Tejucupapo, em Goiana, na Zona da Mata, onde ocorreu uma batalha histórica envolvendo quatro mulheres, que resistiram à invasão holandesa com paus, pedras e outros instrumentos rudimentares.
As quatro Marias (Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Maria Joaquina), se transformaram nas heroínas de Tejucupapo. A batalha se deu em 24 de abril de 1646, quando poucos homens estavam no local. Se tiver o sangue de luta e resistência dessas heroínas conterrâneas, Marília Dantas com certeza tende a levar vantagem nessa briga surda pela vice de João, desencadeada pelo PT, que a todo custo quer a vaga.
João Campos conheceu Dantas por uma indicação do engenheiro Roberto Gusmão, ex-secretário de Infraestrutura na gestão Geraldo Julio, que começou na vida pública pelas mãos do ex-governador Miguel Arraes. À frente da mesma pasta, a afilhada de Gusmão é a executora das principais obras da gestão municipal. Antes de passar pelo teste das urnas na reeleição em outubro, o prefeito deve entregar duas obras simbólicas que vêm sendo tocadas por ela – as pontes da Iputinga ao bairro de Monteiro, ao custo de R$ 48 milhões, e a ponte ligando a Avenida Recife ao bairro da Lagoa do Araçá, orçada em R$ 90 milhões.
A alternativa Marília Dantas na vice vai gerar uma tensão natural do prefeito com o PT, mas resolve, definitivamente, o que ele imagina para um cenário confortável, caso em 2026 venha a disputar o Governo do Estado: passar a Prefeitura, caso reeleito, para uma pessoa da sua extrema confiança, que possa dar continuidade ao seu projeto para o Recife.
Marília Dantas ainda não é filiada a nenhum partido político, mas deve assinar a ficha do PSB até o próximo sábado, quando vence o prazo para filiações e troca de partido. Isso se dará, entretanto, na surdina, sem atos ou comemorações, para não dar o indicativo de que ela será de fato a ungida para fechar a chapa.
Resistência petista – Caso Marília Dantas venha a ser vice, João fechará uma chapa puro sangue socialista para disputar a reeleição. Resta saber, no entanto, como resolverá a resistência da parte do PT, que, de forma inadvertida, chegou a colocar a questão da composição da chapa como algo imprescindível para continuar na aliança com o PSB, inclusive provocando uma disputa interna entre filiados ao partido, a exemplo do deputado federal Carlos Veras e o ex-vereador recifense Mozart Sales, hoje atuando no Ministério da Saúde.
Por: Magno Martins