O ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo-PR) manteve seu histórico de críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal) em painel da Brazil Conference neste domingo (7). O ex-procurador da República e deputado cassado, responsável por coordenar a operação Lava Jato, comparou o que considera como “crescente arbítrio judicial no Brasil” com a corrupção. Segundo ele, esse seria o “2º problema do país”.
“A Lava Jato combateu um tipo de abuso de donos de poder que se arrogavam dos seus cargos para praticar corrupção. Hoje, vemos um novo 2º tipo de abuso de poder que o árbitro e o abuso judicial, que é tudo isso que vai acontecer”, afirmou. Deltan disse que foi criado “um ambiente de medo no Brasil”. As informações são do Poder360.
Dallagnol falou que há um “cerceamento de liberdade de expressão”. Ele classificou como “censura prévia” a determinação do ministro da Corte Alexandre de Moraes para a suspensão de contas na rede social X (ex-Twitter). “Não tem previsão legal. É o equivalente a você cortar a língua da pessoa”, disse.
A crítica à Corte também foi feita pelo jornalista Felipe Moura Brasil, diretor de jornalismo do site O Antagonista, que mediou o debate. Ele fez referência às críticas do empresário Elon Musk, dono do X, a Moraes sobre as restrições do STF à plataforma. O bilionário ameaçou fechar a rede social no país.
“Medidas autoritárias podem ser adotadas em nome de uma defesa da democracia e a gente tem que saber separar o que é a defesa real democracia ou que é algum tipo de manobra autoridade que vem desse contexto”, afirmou.
O jornalista fez ainda referência a uma declaração dada pelo ministro Luis Roberto Barroso no mesmo evento, em um painel no sábado (6), de que qualquer crítica ao Supremo seria legítima. Moura rebateu: “Esse painel aqui nos Estados Unidos é uma oportunidade para exercer essa liberdade reduzida ou, às vezes, inexistente no Brasil.“
Lava Jato
O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) também participou da mesa de debate sobre corrupção. Em contraponto a Dallagnol, o congressista criticou os rumos da operação. “Sou um admirador do trabalho da Lava Jato, mas reconheço que o apego a investigações e casos abriu espaço para questionamentos processuais. A opção política adotada em algum momento desse trabalho abriu espaço para impulsionar essa narrativa destrutiva. É preciso um mea culpa”, declarou.
Vieira também foi incisivo em críticas à família Bolsonaro. Ele disse que o vereador Carlos Bolsonaro (RJ-PL) “notoriamente opera uma máquina de crimes nas redes sociais” e que faz parte de uma “organização criminosa familiar”.
Brazil Conference
O evento é promovido anualmente desde 2015 por estudantes brasileiros da região de Boston, nos EUA, local conhecido por receber há décadas imigrantes ilegais latinos, sobretudo do Brasil.
Apesar de ser numa cidade norte-americana, a maioria dos painéis é com brasileiros falando em português no palco e plateia composta majoritariamente também por pessoas do Brasil, como se fosse numa conferência realizada em São Paulo ou no Rio de Janeiro.