Nos primeiros três meses deste ano, a Secretaria de Defesa Social (SDS) registrou uma média diária de quase um roubo ou furto de fios elétricos em Pernambuco.

Em 2023, o Sindicato Nacional de Telefonia e de Serviço Móvel,

Celular e Pessoal (Conexis) contabilizou 229 quilômetros de fiação de cobre levados por bandidos.

Em linha reta, isso representa praticamente a mesma distância entre o Recife e Pesqueira, no Agreste pernambucano.

Esses dados mostram a dimensão desse problema no Estado, que preocupoa cada vez mais as autoridades.

Afinal, roubos e furtos de fios já provocaram mortes de pessoas que foram eletrocutadas tentando retirar o material dos postes.

Também pejudicam as pessoas que estão em casa ou no trabalho, causando  a queda de energia ou a suspensão de serviços de telefonia e internet.

Nas ruas, uma cena se repete. Postes com verdadeiros “ninhos ” de fios são atacados e ficam com pedaços de material pendurados, caindo nas calçadas ou no asfalto.

As estatísticas da SDS, mostram que, em 91 dias de janeiro a março de 2024, foram registradas  81 ocorrências de roubos e fiios.

Ou seja, uma média de quase um por dia.

Em todo o ano passado, a polícia notificou 379 casos deste tipo de crime.

Isso equivale a uma média de 31 ocorrências por mês e exatamente um caso de furto e roubo por dia.

Ainda segundo a SDS, a Polícia Civil de Pernambuco realizou diversas operações em 2023.

Nesse período, foi apreendida 1,3 tonelada de fiações de cobre em todo o Estado.

Os dados mostram também que,  entre 2023 e 2022, houve um aumento de 54,7% na quantidade de crimes de2022, quando foram furtados 148.052 metros de cabos em todo o Estado.

Segundo a Conexis, mais de 229 mil metros de fios foram furtados no Estado, em 2023 (Foto: Arquivo )

A Polícia Civil afirmou que prendeu quatro pessoas no período por receptação qualificada destes materiais.

Segundo a Neoenergia, no primeiro trimestre deste ano já foram contabilizados 251 casos de furtos de fios de energia no Estado.

Isso equivale a uma média de duas ocorrências diárias, se comparado o total de casos compreendidos nos 91 dias deste período.

Segundo a empresa, a redução foi de 48% se comparado com o mesmo período do ano passado, já que nos primeiros três meses de 2023 houveram 492 casos.

A queda, segundo a Neoenergia, se deu pela mudança do tipo de material utilizado pela concessionária de energia, quando foi adotado o uso de cabo concêntrico de alumínio, que não tem valor comercial.

Já o ano de 2023 fechou com um total de 1392 ocorrências de furtos ou roubos de fios de energia.

Isso equivale a uma média de três casos diários deste tipo de crime contra o patrimônio privado no Estado.

No País, em 2023, foram furtados ou roubados 5,4 milhões de metros de cabos, segundo dados da Conexis.

Houve em território nacional  um aumento de 14,6% na comparação com 2022, quando foram subtraídos 4,7 milhões de metros de cabos.

Pela legislação em vigor, a pena prevista para o furto vai de um a quatro anos de prisão e multa. Para a receptação, a punição pode chegar à reclusão de oito anos.

Em fevereiro deste ano, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)  do Senado Federal apreciou um projeto de lei que agrava a pena para os crimes de furto e receptação de equipamentos usados para o fornecimento de serviços públicos, como cabos de energia elétrica e internet.

O projeto altera o Código Penal (Decreto-Lei 2.848, de 1940) para prever a causa de aumento de pena para os crimes de furto e de receptação de insumo, equipamento ou estrutura relacionados ao fornecimento de serviço público.

Além de tudo isso, com os furtos de fio, os postes ficam com a fiação danificada e exposta, podendo causar graves acidentes e, até mesmo, mortes em decorrência de choque elétrico.

Como foi o caso de um homem identificado como Bruno Henrique, de 26 anos, que morreu após pisar em um fio de alta tensão, no bairro de Dois Irmãos, na Zona Oeste do Recife.

O caso aconteceu no dia 5 de janeiro deste ano, onde a vítima recebeu uma descarga elétrica de 13.800 volts no momento em que caminhava por uma calçada, em via pública.

Outro caso que também chamou a atenção foi o de um homem, de 44 anos, que morreu eletrocutado após tentar furtar fios de cobre de um poste de energia, nas proximidades da Praia do Forno da Cal, em Itamaracá, no Grande Recife.

A ocorrência aconteceu no dia 22 de abril, quando o homem estava tentando subtrair fio de cobre em uma rede elétrica na rua Umbuzeiro, quando sofreu uma descarga elétrica e não resistiu aos ferimentos.

Além disso, um dos casos que mais repercutiu no Estado foi o furto de fios de telefonia que prejudicou e afetou o sistema de marcações de consultas e atendimentos clínicos na Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), no bairro da Encruzilhada, na Zona Norte do Recife.

O caso aconteceu em 2022 e segundo a direção da unidade, cabos telefônicos foram roubados, impedindo a comunicação externa, prejudicando assim, os pacientes, principalmente, grávidas e puérperas que tiveram consultas e atendimentos prejudicados.

Quem já foi prejudicado com o furto de fios de telefonia foi o aposentado Irageu Fonseca, de 68 anos.

Morador do bairro da Encruzilhada, na área Central do Recife, ele contou ao Diario de Pernambuco os prejuízos que teve quando passou três dias sem conexão com a internet após ladrões furtarem fios na rua onde o aposentado mora com a família.

“Ficamos sem internet em casa por quase três dias. Na época, meu filho trabalhava home office e tive que ficar roteando a internet pelo celular. Até então, com um ano de uso da operadora de internet, eu nunca havia tido problemas com falta de conexão. E segue assim, com quase dois anos de uso. Lembro que cheguei a ligar várias vezes para a operadora que informava não saber do que se tratava o problema. Outros moradores do mesmo condomínio que usavam a operadora também ficaram sem internet. O problema foi resolvido quando, dois dias depois, a empresa enviou suporte para o prédio e os trabalhadores descobriram que metros de fios haviam sido roubados na nossa rua”, contou o aposentado.

Procurada pelo Diario de Pernambuco, a Conexis emitiu uma nota onde pontua os prejuízos que as empresas de telefonia e os usuários têm com os crimes de furtos de fios.

Por meio de nota, a entidade diz que: “Os maiores prejudicados com essas ações criminosas são os usuários de serviços de telecom, que ficam sem o serviço. Sem acesso a serviços de telecom, esses usuários podem ser impedidos, por exemplo, de acionar serviços públicos importantes para o dia a dia como polícia, bombeiros e emergências médicas. Além disso, há prejuízo econômico direto para milhares de negócios que podem deixar de funcionar”.

A Conexis ainda disse que: “Esses crimes também prejudicam a ampliação da conectividade, já que as operadoras precisam direcionar parte dos investimentos para repor esses equipamentos, em vez de ampliar a rede existente.

O setor de telecomunicações tem defendido uma ação coordenada de segurança pública envolvendo o Judiciário, o Legislativo e o

Executivo, tanto o federal quanto os estaduais e municipais, e a aprovação de projetos de lei (PLs nº 3780/2023, 5846/16, e 4997/2019) que tipifiquem e aumentem as penas desses crimes e ajudem a combater essas ações criminosas”, complementou a entidade.