“Empenhados para a China ser próximo destino de exportação”, diz Tum

Wallison Tum é secretário da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri)

Por: Letícia Belém

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O titular da Seagri, Wallison Oliveira Torres, conhecido como Wallison Tum, tem forte atuação no ramo de fruticultura no norte da Bahia. Ele produz uva de mesa e manga em Casa Nova, no Vale do São Francisco, desde 2018, em uma área de 70 hectares. O destaque vai para a produção de uvas patenteadas como a Autumn Crisp®, Arra 15® e Timpson®, disputadas no mercado internacional por seus diferenciais, como tamanho, sabor doce e textura crocante. Em 2023, foram colhidas mais de 1.700 toneladas das duas culturas e exportadas para a Europa. Nesta entrevista, Tum fala sobre a próspera fruticultura da Bahia.

Como o Sr. avalia o momento atual da fruticultura baiana?

A fruticultura baiana colhe, hoje, os frutos de várias décadas de muita dedicação, pesquisa e perseverança dos produtores e instituições de pesquisa e ensino, instalados sobretudo no polo do Vale do São Francisco. É de lá que saem os números mais expressivos de produção e exportação de frutas do estado, e considero o momento atual um dos melhores nessa trajetória. Alcançamos um nível de excelência de produção que nos permite abastecer o mercado interno e bater recordes de exportação, como foi em 2023, e para mercados exigentes, como o dos Estados Unidos, Reino Unido e grande parte da comunidade europeia. Estamos empenhados para que a China seja o nosso próximo destino de comercialização de frutas e, quando isso acontecer, haverá uma virada gigantesca no cenário da exportação da fruticultura baiana, por ser a China um mercado consumidor de mais de um bilhão de pessoas.

Como está sendo feito esse trabalho junto a China e a outros mercados?

Através da articulação política, dos diálogos e das visitas que o governo do estado fez à China, que já é um importante parceiro comercial da Bahia. Na sua última missão no País, o governador Jerônimo Rodrigues também conversou sobre o potencial, a diversidade e a qualidade da fruticultura baiana, e estava acompanhado de uma comitiva da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). A chegada de nossas frutas ao Oriente é uma questão de tempo. Este estágio atual é o da diplomacia e de ajustes de detalhes técnicos relacionados à autoridade alfandegária da China, que é quem controla esse fluxo comercial. Também faz parte da estratégia do governo de abrir novos mercados a participação da Seagri em três feiras globais voltadas à fruticultura, em Madri (Espanha), Berlim (Alemanha) e na Fruit Attraction, em São Paulo, em abril, o maior evento no setor na América Latina. O evento contou com estande próprio do governo da Bahia, por meio da parceria entre a Seagri e as secretarias de Desenvolvimento Rural (SDR) e do Turismo (Setur), para apoio aos produtores e intermediação das relações políticas e institucionais. A convite da Seagri, dez empresas fruticultoras em diferentes regiões da Bahia puderam expor sua produção para um público selecionado, que inclui grandes varejistas da alimentação do Brasil e do exterior. A gente proporciona esse espaço para aproximar os fruticultores baianos de possíveis compradores e gerar grandes oportunidades de negócios. A expectativa para esta última feira é que, até o final do ano, sejam fechados negócios de cerca de R$ 1,5 bilhão.

Qual a sua visão do setor frutícola baiano como secretário e produtor de frutas?

Essa dupla jornada que o governador me permite cumprir me trouxe a possibilidade de enxergar a importância da parceria entre o poder público e os produtores. O governo tem sido parceiro na expansão da malha viária no interior, permitindo o escoamento da produção das fazendas de frutas, e atua em outras frentes, além do diálogo para a abertura de mercados, feito junto com associações de produtores e exportadores de frutas e o governo federal. Há também o trabalho de fiscalização fitossanitária, sob responsabilidade da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), que é vinculada à Seagri. Sem o aval da Adab, as frutas não podem ser exportadas e nem comercializadas no mercado nacional. Esse trabalho é fundamental para mostrarmos que a nossa produção frutícola pode ser consumida com segurança e qualidade em qualquer canto do mundo.

Como o Sr. analisa a produção baiana de frutas?

Vejo como muito exitosa. Percorremos um trajeto tortuoso até encontrar o padrão de qualidade e de escala que temos hoje. Muita pesquisa de cultivares [variedades de plantas de diferentes espécies vegetais para a produção agrícola, resultado de programas de melhoramento conduzidos por pesquisas], que melhor se adaptam às nossas condições de clima e solo. E não falo somente da região do Vale do São Francisco, que colhe até duas safras e meia de uva finas por ano. Em Ribeira do Amparo, produzimos o melão Rei, que tem conquistado o Brasil. Temos o cacau no sul da Bahia, se reinventando e devolvendo o peso de outrora a essa cadeia produtiva. O cacau 4.0, plantado no Oeste, sob o sol constante e irrigado, tem uma perspectiva gigante de produção nos próximos anos. Nós também somos o segundo maior produtor de banana do Brasil, com destaque para a região de Bom Jesus da Lapa. A melancia, no extremo-sul, a expansão da produção de limão, em Iaçu, enfim, temos uma pujante fruticultura no estado, que é diversificada. Com a disponibilidade de água e as condições edafoclimáticas excelentes [características que influenciam os vegetais, como meio ambiente, clima, relevo, temperatura, umidade do ar, radiação, tipo de solo, composição mineralógica das rochas, vento, composição atmosférica e precipitação pluvial], possuímos terras baianas extremamente agricultáveis e disponíveis para a expansão do setor. Com tudo isso aliado ao apoio irrestrito do governo, veremos essas cadeias produtivas crescerem cada vez mais.

Quais os diferenciais da produção e exportação de frutas na Bahia?

O diferencial começa justamente na produção de mangas e de uvas de mesa irrigadas no Vale do São Francisco, que são as frutas mais exportadas pela Bahia. Elas são monitoradas em todo o processo de produção para garantir que o uso de agroquímicos autorizados e registrados no Ministério da Agricultura e do Abastecimento (Mapa) não interfira na qualidade, com zero geração de resíduos em cada fruta. Elas são controladas também para assegurar que não haja a presença de pragas e doenças que deteriorem as frutas ou que contaminem a produção do mercado comprador. Outro diferencial é a qualidade. São frutas grandes, doces, com muita polpa e muito boa aparência. Enfim, tudo que o mercado consumidor exige. Para a exportação, o que pesa é justamente a questão fitossanitária. Os produtores que exportam seguem rígidos protocolos de certificação para exportação, reconhecidos por órgãos federais e internacionais, de fitossanidade, para garantir frutas de alto padrão.

Quais são as principais ações da Seagri para o fortalecimento e expansão do setor frutícola da Bahia? Como elas são feitas?

A Seagri atua em diferentes frentes. Uma delas é a articulação e interlocução das entidades representativas do setor produtivo com outras instituições e governo federal, para a abertura de novos mercados e a divulgação de nossa produção. Recentemente, por exemplo, levamos os maiores produtores de frutas baianos para participar da Fruit Attraction São Paulo, para expor suas frutas para um público global e qualificado de compradores. Atuamos em conjunto com outras secretarias de estado para melhorar a malha viária que atende os grandes produtores, barateando o frete e facilitando o escoamento da produção. Somos a porta de entrada para a chegada de novos empreendimentos agrícolas na Bahia, por isso temos um trabalho permanente de receber, orientar e incentivar novos investidores. E há também o trabalho da nossa Adab, que é vinculada à Seagri, e que garante uma produção que respeita as normas de segurança fitossanitária, proporcionando o consumo de frutas saudáveis e perfeitas. E [temos que] formular políticas públicas, como o Plano ABC, composto por um conjunto de ações para promover a ampliação da adoção de algumas tecnologias agropecuárias sustentáveis, com alto potencial de mitigação das emissões de gases de efeito estufa e de combate ao aquecimento global.

Qual o futuro da fruticultura?

De crescimento, sem dúvida. O polo fruticultor do Vale do São Francisco não para de crescer e assim deve continuar para atender à demanda crescente por frutas no mundo. Grandes produtores de grãos da região Oeste têm investido em melhoramento genético e tecnologia para produzir de cacau a banana. Há estados brasileiros que não têm mais terras agricultáveis disponíveis, o que não é o caso da Bahia. Com a disponibilidade de água, de terras, sol o ano todo, segurança jurídica e incentivos financeiros, a fruticultura tem aqui na Bahia um terreno fértil para crescer ano a ano.

Há planos, programas e projetos previstos?

Estamos empenhados em mapear toda a atividade frutícola da Bahia. Nosso estado tem uma dimensão territorial muito grande e isso permite uma rica diversidade no setor da fruticultura. Assim, temos diferentes culturas por todo o estado e estamos articulando a construção de um plano estadual para a fruticultura. Vamos mapear a atividade, catalogar os estabelecimentos, levantar as principais demandas de cada área, gargalos, pontos fortes e ouvir o setor produtivo agrícola e frutícola. A partir daí, vamos trabalhar em parceria com o Governo Federal e as cadeias produtivas para sanar as demandas e potencializar aquilo que vem dando certo.

RAIO-X

Ex-deputado estadual (2019-2022), Walisson Tum presidiu a Comissão Parlamentar Especial de Assuntos Territoriais e Emancipação e foi membro titular da Comissão  Especial do Complexo Intermodal da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), Porto Sul e Complexo Viário do Oeste (Ponte Salvador-Itaparica). Também atuou no desenvolvimento e captação de projetos nas culturas de soja, milho e cana de açúcar, junto à Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE). Trabalhou pela implantação e ampliação das ações da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) no Norte baiano e foi responsável pela criação de cursos de capacitação para o povo do campo em diferentes regiões, além de atuar pelo fortalecimento do Projeto Pró-Semiárido, entre outras iniciativas voltadas à agricultura, fruticultura e caprinocultura.

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