Por Marlos Porto*
Em entrevista ontem à Rádio Gaúcha, o presidente Lula mostrou-se evasivo sobre eventual indicação de Galípolo como próximo presidente do Banco Central.
“Eu não sei se é o Galípolo. Eu sei que eu tenho o direito de indicar o presidente do Banco Central […]. A pessoa que eu vou indicar, primeiro ela tem que ter muito caráter, muita seriedade, muita responsabilidade. A pessoa que eu indicar não deve favor ao presidente da República, a pessoa que eu indicar é uma pessoa que vai ter compromisso com o povo brasileiro”, disse.
Embora seu nome não esteja sendo sequer cogitado na mídia e seja uma ideia aparentemente inusitada para muitos, o ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, cuja firmeza e descortino foram cruciais para evitar que o Plano Real naufragasse pouco após seu nascedouro, bem que poderia estar povoando os pensamentos do presidente da República.
Ciro, não obstante as duras críticas que faça ao governo, enquanto perspicaz analista do cenário político e econômico, já deu mostras irrefutáveis de elevado patriotismo (não confundir com o uso cínico do termo para mascarar o golpismo desvairado da extrema-direita) e tem uma trajetória de integridade reconhecida até por muitos de seus detratores.
Se os critérios são caráter, seriedade e responsabilidade (e acrescentaria também coragem), Ciro Gomes poderia ser esse nome que o presidente parece estar buscando.
Certamente, a grave incerteza provocada no mercado por algum técnico obscuro que pudesse passar a impressão de estar submetendo a condução da política monetária a finalidades político-eleitorais do partido hegemônico causaria mais abalos à credibilidade e à imagem internacional do País do que alguns arroubos verbais de Ciro (hoje certamente menos explosivos devido à sabedoria que suas cãs lhe trouxeram).
Por fim, uma razão de natureza política não poderia deixar de ser mencionada: seria um gesto de grandeza, uma postura de verdadeiro estadista, que teria a vantagem adicional de contribuir para alargar o espectro de apoiadores e simpatizantes do governo entre a juventude crítica e os formadores de opinião, segmentos em que Ciro goza de grande respeitabilidade.
*Bacharel em Direito, servidor público e analista político