Após decisão da Justiça Marçal diz que é “perseguido”, faz novas contas nas redes e cobra Bolsonaro

Após a Justiça Eleitoral acolher o argumento de abuso econômico por cortes monetizados e decidir em liminar pela suspensão de seus perfis em redes sociais, Pablo Marçal (PRTB) convocou seguidores para postarem sobre o caso e o seguirem em novas contas, cobrou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e disse que a “perseguição” que sofre irá ajudá-lo a se eleger prefeito de São Paulo.

Marçal também negou que tenha oferecido dinheiro para pessoas cortarem suas entrevistas e espalharem as imagens pelas redes. “Quero pedir para todos vocês, agora, que gravem vídeos nos Instagrams de vocês, no YouTube de vocês, todo mundo grave vídeo e posta assim ó, Marçal prefeito de São Paulo, e coloca assim ó, vão derrubar as redes do Marçal”, disse, antes de participar de motociata em Itaquera, na zona leste de São Paulo.

“Coloca pressão, porque o sistema inteiro se assusta. Toda perseguição acelera o processo. Então, ai de vocês que não entendem isso, por favor, cumpra a decisão que acabou de sair na liminar, derruba as minhas redes sociais, vocês vão ver eu aparecer até dentro da sua geladeira”, afirmou.

O candidato também chamou seguidores para “contas reservas” nas redes sociais.

A decisão do juiz eleitoral Antonio Maria Patiño Zorz indica que a suspensão mira apenas contas que promoverem a monetização de cortes de vídeo.

“Por fim, destaco que não se está, nesta decisão, a se tolher a criação de perfis para propaganda eleitoral do candidato requerido, mas apenas suspender aqueles que buscaram a monetização dos ‘cortes’ por meio de terceiros interessados”, escreveu o magistrado.

Os cortes são trechos de entrevistas, sabatinas, participações em debates e outros vídeos que depois são postados em redes sociais. Eles são a chave da popularidade digital de Marçal. O influenciador promove competições de cortes de vídeos com direito a remuneração aos seguidores.

Ainda neste sábado (24), Marçal também criticou Bolsonaro pelo apoio à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

“Você [Bolsonaro] é um cara que a gente sempre acreditou ser livre. Você prometeu para nós a liberdade nesse país e está curvando sua cabeça, capitão? Foi isso que você aprendeu no Exército do Brasil, capitão?”, disse. “Acorda Bolsonaro, acorda.”

O candidato também citou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos principais apoiadores da candidatura de Nunes.

“Toma tipo de homem, você é militar, não se curva para esses comunistas”, disse. “Governador, você vai pagar caro se você tocar naquilo que Deus mandou. Eu estou te dando um recado, cuidado com o que você está fazendo em Brasília.”

Em vídeo publicado nas redes sociais, antes do cumprimento da ordem de bloqueio, Marçal também convocou os seguidores a seguirem canais paralelos e disse que fará campanha “até da cadeia”, se for preso.

Durante a motociata, com uma camiseta com a frase “não vai ter segundo turno” e pilotando uma motocicleta amarela, ele saiu de Itaquera, seguiu até o Brás e voltou ao ponto inicial acompanhado por apoiadores. Durante a manifestação, que durou quase duas horas, muitos dos presentes praticaram infrações no trânsito.

O próprio candidato fez parte do percurso sem capacete. Muitos motoristas aproveitaram para fazer gravações com o celular enquanto pilotavam, alguns de pé, em cima da moto. Também foi comum ver motociclistas empinando os veículos.

Por onde passavam, os manifestantes incentivaram o público que assistia de estabelecimentos comerciais ou casas a participar da comitiva, geralmente pedindo para que fizessem o “M” com as mãos, repetindo o slogan do candidato.

Motoristas entoavam o grito “Marçal é vida louca como a gente”. Entre o público, foi possível notar que muitos faziam ‘lives’ nas redes sociais, plataforma na qual o candidato tem mais engajamento.

Marçal estabeleceu que daria uma entrevista a jornalistas em outro endereço, no parque Anhembi, em frente a um estacionamento. No local, ele repetiu os ataques feitos aos concorrentes, ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a Tarcísio.

“Eu estou sem tempo de televisão, estou sem padrinho político, vocês [outros candidatos] pegaram o Lula e o Bolsonaro para ver se ganha. Vocês pegaram o Milton Leite, o Rodrigo Garcia, o dono desse governo é o Dória, está todo mundo junto”, afirmou.

O recurso à motociata neste sábado emula mais uma imagem associada ao bolsonarismo, em uma estratégia de Marçal que tem irritado aliados do ex-presidente.

Ao longo dos últimos meses, o influenciador tem ativado símbolos que são caros para o eleitor do ex-presidente, como a defesa da família, a presença em redes e a adjetivação de adversários como comunistas e socialistas.

Ao fazer isso, aproveita-se do baixo entusiasmo de apoiadores de Bolsonaro com a candidatura de Nunes. A estratégia do candidato do PRTB tem dado certo. Entre bolsonaristas, Marçal tem 46% na pesquisa Datafolha contra 26% de Nunes. Há duas semanas, o emedebista estava à frente, com 37% a 25%.

Para reverter o movimento, a campanha de Nunes agora aposta na briga entre o influenciador e a família Bolsonaro, que envolveu uma série de ações de bastidores, além de um descontentamento com o empresário.

Aliados do ex-presidente afirmam que incomodou a atitude dúbia e enganosa do influenciador, que quer parecer próximo de Bolsonaro, mas não o apoiou em 2022. Marçal foi descrito por políticos bolsonaristas como estelionatário e duas caras.

Além disso, as acusações que pesam sobre Marçal, como a condenação por integrar uma quadrilha de fraude bancária e os elos com suspeitos de fazerem parte do PCC, levaram Bolsonaro a querer distância.

Por fim, pessoas próximas ao ex-presidente apontam ainda que Marçal representa um risco na eleição presidencial de 2026 e que o influenciador estaria usando a eleição municipal apenas com o objetivo de se cacifar para o Palácio do Planalto.

Da Folha de São Paulo

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