“Nos últimos três meses, o planeta registrou os meses de junho e agosto mais quentes, o dia mais quente e o verão mais quente do hemisfério norte”, afirmou Samantha Burgess, vice-diretora do serviço de mudança climática do Copernicus.
“Esta série de recordes aumenta a probabilidade de 2024 ser o ano mais quente já registrado”, acrescentou, consequência de uma concentração maior de gases do efeito estufa na atmosfera, devido à atividade humana.
Vários países, como Espanha, Japão, Austrália (durante seu inverno, hemisfério sul) e algumas províncias da China, anunciaram esta semana que registraram níveis históricos de calor para agosto.
“Os fenômenos extremos observados neste verão devem se intensificar, com consequências devastadoras para a população e o planeta, a menos que adotemos medidas urgentes para reduzir os gases do efeito estufa”, insistiu Burgess.
A humanidade, que emitiu quase 57,4 bilhões de toneladas do equivalente a CO2 em 2022, segundo a ONU, ainda não começou a reduzir a poluição atmosférica.
E os efeitos são visíveis em todos os continentes. Em junho, pelo menos 1.300 pessoas morreram em uma onda de calor durante a peregrinação anual dos muçulmanos à cidade de Meca.
A Índia, com temperaturas que superam com frequência os 45°C, testou os limites do seu sistema de energia elétrica e sofreu uma desaceleração econômica devido às chuvas de monção e inundações fatais.
Na região oeste dos Estados Unidos, várias pessoas morreram em incêndios depois de uma série de ondas de calor.
Em Marrocos, no final de julho, uma onda de calor brutal deixou 21 mortos em 24 horas no centro do país, que está a caminho do sexto ano consecutivo de seca.
Mas os balanços mais completos deste tipo de fenômeno levam tempo. Um estudo publicado em agosto calcula que as temperaturas elevadas provocaram as mortes de entre 30.000 e 65.000 pessoas na Europa em 2023.
O limite do Acordo de Paris
Este ano, o mês de agosto igualou o recorde estabelecido em 2023. Nas duas ocasiões, a temperatura média foi 1,51ºC maior que a média da era pré-industrial (1850-1900) e superou o limite objetivo estabelecido no Acordo de Paris sobre o clima de 2015 (1,5ºC).
O limite foi ultrapassado em 13 dos últimos 14 meses, segundo os dados do Copernicus, que divergem levemente dos institutos americano, japonês e britânico.
Nos últimos 12 meses, a temperatura média foi 1,64ºC mais quente que na era pré-industrial, segundo o Copernicus.
O ano de 2023 terminou com uma anomalia de 1,48ºC e 2024, também marcado por ondas de calor, secas e inundações extremas, tem grande chance de se tornar o primeiro ano completo a superar o limite de 1,5ºC.
Apesar dos números, esta anomalia teria que acontecer, em média, durante várias décadas para que os cientistas considerem que as temperaturas médias globais se estabilizaram nesse nível.
Os registros do Copernicus começaram em 1940. Mas estas temperaturas não eram observadas há pelo menos 120 mil anos, segundo os dados da paleoclimatologia, obtidos principalmente a partir de amostras de gelo e de sedimentos.
Os recordes de calor no planeta são resultado de um superaquecimento sem precedentes dos oceanos, que absorveram 90% do excesso de calor provocado pela atividade humana.
Na superfície dos mares e oceanos, que constituem 70% do globo, a temperatura média permanece em níveis fora do comum desde maio de 2023, o que também facilitou a formação de ciclones.