O Irã lançou um ataque com mísseis contra Israel na noite desta terça-feira (tarde em Brasília), afirmaram oficiais do Estado judeu, horas após as primeiras informações sobre preparativos de um ataque de Teerã surgirem entre aliados. Sirenes de alerta foram disparadas em Tel Aviv, Jerusalém e outras regiões do país, após a confirmação do Exército.
— Há pouco tempo, nossos aliados americanos nos informaram que identificaram preparativos do Irã para um iminente lançamento de mísseis contra o Estado de Israel — disse o principal porta-voz das Forças Armadas israelenses, Daniel Hagari, horas antes da confirmação do disparo.
— Estamos na mais alta prontidão, ofensiva e defensiva. Junto dos Estados Unidos, estamos acompanhando os desenvolvimentos no Irã. O fogo iraniano contra o Estado de Israel terá consequências. Temos planos e temos capacidades.
Ao Times, três oficiais israelenses disseram que os alvos do novo ataque iraniano seriam três bases aéreas militares, além de uma sede de inteligência ao norte de Tel Aviv que foi evacuada na tarde desta terça-feira.
Um repórter da Axios publicou no X que as forças iranianas deverão atacar o Estado judeu com mísseis balísticos que podem atingir alvos em 12 minutos, e não com drones ou mísseis de cruzeiro, que levam mais tempo. Em declaração à jornalistas, Hagari afirmou que o fogo iraniano provavelmente seria de grande escala.
Em abril, o Irã realizou um ataque retaliatório sem precedentes contra Israel, lançando mais de 300 drones e mísseis em direção ao território do Estado judeu. A missão iraniana na ONU afirmou, na ocasião, que a ofensiva foi feita em resposta à agressão contra as instalações diplomáticas de Teerã em Damasco, quando membros da Guarda Revolucionária, a força de elite iraniana, foram mortos.
À época, muitos dos mísseis lançados pelo Irã foram abatidos por uma coalizão liderada pelos EUA, enquanto outros aparentemente falharam no lançamento ou caíram durante o voo.
O anúncio foi feito horas depois de o Exército israelense dar um ultimato para que moradores de cerca de 30 localidades no sul do Líbano abandonem suas casas e se dirijam para posições no norte do país — e após o início da operação terrestre de Israel na nação vizinha, lançada na madrugada de terça-feira (noite de segunda-feira no Brasil).
A Embaixada dos EUA em Israel disse a seus funcionários para voltarem para casa e estarem preparados para entrar em abrigos antiaéreos, a primeira ordem desse tipo em meses. Navios e aeronaves dos Estados Unidos também já estão posicionados na região para ajudar o Estado judeu em caso de um ataque do Irã.
Há três destróieres da Marinha americana no Mar Mediterrâneo, um porta-aviões no Golfo de Omã e jatos de combate posicionados em toda a região. Todos têm capacidade para derrubar mísseis que se aproximem.
Israel aconselhou que os civis partissem rumo ao norte do rio Awali, a cerca de 60 quilômetros da fronteira — muito além do rio Litani, que marca a divisa norte de uma zona declarada pelas Nações Unidas como uma área neutra entre Israel e o Hezbollah após a guerra de 2006.
No X, o Exército israelense escreveu que os moradores devem “imediatamente seguir para o norte” para “salvar suas vidas e deixar suas casas imediatamente”. O órgão militar também disse aos civis libaneses para se deslocarem para mais de 24 quilômetros da fronteira.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse nesta terça-feira que Israel está enfrentando “grandes desafios” enquanto luta contra o eixo iraniano. Na declaração em vídeo, ele instou o público a seguir as diretrizes de segurança pública do Comando da Frente Interna do Exército. O premier não fez menção direta à ameaça de mísseis.
Guerra indireta
Desde 8 de outubro, um dia após o ataque terrorista sem precedentes do Hamas em Israel, quando 1,2 mil pessoas foram mortas e cerca de 250 foram sequestradas, o Hezbollah, apoiado pelo Irã, passou a disparar foguetes quase diariamente contra o norte israelense, região da fronteira com o Líbano.
A troca de hostilidades, que o grupo xiita alega ocorrer em solidariedade ao Hamas em Gaza, deslocou mais de 60 mil residentes de Israel da região (no Líbano, o número de deslocados pelo conflito já chegou a 1 milhão).
A escalada nas tensões segue a decisão de Israel, no último mês, de intensificar seus ataques contra o Hezbollah, incluindo o assassinato do líder do grupo, Hassan Nasrallah, em um ataque aéreo na semana passada.
O Irã tem enfrentado pressão crescente para ajudar o Hezbollah, mas tem sido pego entre o desejo de proteger seu aliado e manter seu prestígio e influência, e a necessidade de evitar um contra-ataque de Israel que poderia destruir seu programa nuclear ou matar líderes iranianos importantes.
Agora, qualquer ataque iraniano contra o território israelense aumentaria significativamente o risco de uma guerra total entre Israel, Irã e seus aliados em todo o Oriente Médio.
Durante anos, os dois países travaram uma guerra indireta, com o Irã buscando a destruição de Israel, e Israel tentando enfraquecer a influência regional do Irã, destruir seu programa nuclear e derrubar seu governo.
Após um ano de conflitos entre o Estado judeu e vários parceiros de Teerã, incluindo Hamas em Gaza, o Hezbollah no Líbano e os rebeldes houthis no Iêmen, Israel e Irã se aproximam de um confronto direto.
Incursões pontuais no Líbano
Após o anúncio do início da operação terrestre no Líbano, o principal porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari, afirmou nesta terça-feira que as Forças Armadas israelenses operaram dentro do país vizinho dezenas de vezes desde o início da troca de hostilidades na fronteira norte com o grupo xiita libanês Hezbollah, em 8 de outubro de 2023, um dia depois do ataque sem precedentes do grupo terrorista Hamas no sul do Estado judeu.
Segundo o Exército israelense, foram mais de 70 pequenas incursões com forças especiais para alcançar centenas de posições do Hezbollah no sul do Líbano, algumas a vários quilômetros da barreira fronteiriça, incluindo contra túneis e bunkers em que o grupo estocava milhares de armas, algumas delas iranianas, que potencialmente poderiam ser usadas pelo grupo para invadir Israel. De acordo com o Exército israelense, os locais eram localizados dentro de vilas libanesas ou em áreas florestais.
— Nossos soldados entraram nas infraestruturas subterrâneas do Hezbollah, expuseram os esconderijos de armamentos do Hezbollah e apreenderam e destruíram as armas, incluindo armas avançadas de fabricação iraniana — afirmou Hagari durante uma entrevista coletiva. — No geral, os soldados das FDI expuseram e desmantelaram mais de 700 ativos terroristas do Hezbollah durante estas operações, e há muito mais trabalho a fazer — acrescentou.