Meninas à esquerda, meninos à direita: polarização política divide os gêneros nas eleições

Por Bruno Alfano, Luis Felipe Azevedo, Roberto Malfacini e Walter Farias, do Extra

Se no mundo defendido pela senadora e ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) “menina veste rosa e menino veste azul”, a polarização política que levou Jair Bolsonaro (PL) à Presidência de 2019 a 2022 deu origem a uma outra divisão entre os gêneros, que se consolidou nas eleições deste ano, segundo as pesquisas. Meninas vestem a camisa da esquerda, em sua maioria, e os meninos, a da direita.

 

Assim como aconteceu quando Bolsonaro tentou a reeleição em 2022, candidatos da direita, apoiados ou não pelo ex-presidente, não conseguem ampliar seu apoio entre as mulheres na campanha deste ano. A defesa de papéis sociais tradicionais para cada gênero, a rejeição do direito ao aborto e mesmo a postura agressiva espantaram o voto feminino.

O exemplo mais evidente é o de Pablo Marçal (PRTB), candidato a prefeito em São Paulo. O ex-coach não tem o apoio direto de Bolsonaro, mas buscou o eleitorado do ex-presidente. Com retórica agressiva nos debates, ele não se intimidou em dizer que “mulher não vota em mulher, mulher é inteligente”, em um dos ataques a Tabata Amaral, sua adversária e candidata do PSB.

Segundo a pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, o eleitorado feminino reagiu dando a Marçal 59% de rejeição entre as paulistanas. Entre os homens, a rejeição também é alta, porém menor, chegando a 47%. A intenção de votos também tem diferenças significativas: Marçal tem o apoio de 16% do público feminino e de 31% do masculino.

Jovens com visões distintas

 

No Rio, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL) contou com o apoio da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro na busca pelo voto das mulheres evangélicas. Porém, não superou a resistência desse segmento, segundo o Datafolha de quinta-feira. Ele chegou a 26% de intenção de votos entre os homens, mas só tem 18% entre as mulheres.

— Parece que, na direita, estão preocupados em manter uma realidade desigual, com homens brancos e ricos tomando as decisões mais importantes da sociedade — afirma a estudante carioca Clara Martins.

O discurso muda com o estudante Breno Almada, de 17 anos, morador de Duque de Caxias e “umbandista, a favor da família e contra o aborto”. Ele sonha ser policial federal e não vê a esquerda engajada na busca por soluções para a redução da violência:

— Vou votar neste domingo por uma cidade com menos roubos. Minha principal preocupação é a segurança pública, e vejo que a direita tem mais propostas que a esquerda nessa área.

Cenário no país ainda é peculiar, diz especialista

 

Movimentos conservadores têm ganhado força em diferentes países — como Estados Unidos, Argentina e França —, apoiados por homens jovens. No Brasil, apesar do crescimento da extrema-direita e da rejeição das mulheres ao grupo, esse cenário ainda não está exatamente estabelecido, apontam especialistas.

— A extrema-direita radicaliza nos costumes. Isso ainda afasta esse público aqui — diz Renato Meirelles, presidente do instituto Locomotiva: — Mas a esquerda do país tem desafios para falar com o jovem. O empreendedorismo está em alta nessa geração e esse campo político não consegue falar bem sobre isso.

Embora os dados do Datafolha mostrem um desempenho mais fraco entre os jovens dos candidatos identificados com o bolsonarismo no Rio e em Belo Horizonte, Marçal conseguiu, em São Paulo, disparar no segmento de 16 a 24 anos. Ele chegou a 29% desse eleitorado, contra 20% de Boulos, que marcou 31% em 2020. Segundo Meirelles, é uma situação explicada por um forte discurso de prosperidade e pela grande presença on-line do candidato.

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