A PrEP é uma estratégia de prevenção da infecção pelo HIV e consiste em tomar medicamentos antes da relação sexual para que o organismo esteja preparado para enfrentar um possível contato com o vírus e é distribuído gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“O PrEP funciona como uma espécie de barreira antecipada à entrada de vírus no corpo, com a medicação no corpo circulando, mesmo que a pessoa tenha contato de risco, essa pessoa não contrai o vírus. O vírus morre antes de penetrar na célula e se replicar no DNA”, explica Antônio Carlos Bandeira, infectologista pelo Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.
De acordo com o médico, a PrEP faz parte da estratégia global de reduzir em 90% as novas infecções pelo vírus HIV. “Então com isso é ideia é que as pessoas que possam ter contato de risco se previnam antecipadamente em relação à exposição ao vírus HIV. Assim a gente reduz as novas taxas de contaminação”, conclui o infectologista.
Na Bahia, de acordo com o Portal da PrEP, disponível no site do Governo Federal (gov), atualmente, existem 3.642 usuários de PrEP e 39 unidades dispensadoras de PrEP no Estado. No ano anterior o total de usuários era de aproximadamente 2 mil usuários.
O perfil dos usuários da PrEP na Bahia aponta que 84,5 são homossexuais cis. Além disso, essa população está dividida em parda (45%), preta (31%), branca/amarela (23%) e indígena (menos de 1%). A maioria dos usuários estão divididos nas faixas etária de 25 a 29 anos e 30 a 39 anos.
O estudante Cícero Proença, homem trans, é um dos usuários de PrEP que residem em Salvador. Ao A TARDE ele contou o que motivou o início do uso da medicação.
“Comecei a usar a PrEP porque eu me relacionei com uma pessoa e passei por uma situação de abuso da pessoa não usar camisinha. A partir dessa situação percebi que não dá para só confiar nas outras pessoas. Eu achei melhor ter outra forma de me previnir”, relatou.
“Eu descobri a PrEP porque alguns amigos meus cis, gays e bissexuais já faziam o uso da PrEP e um deles me falou sobre um homem trans que fazia uso da PrEP e nesse momento entendi que meu corpo também era um corpo eletivo para PrEP”, acrescentou.
Cícero ainda contou que faz uso da PrEP injetável, uma injeção de dois em dois meses.
“Eu escolhi a PrEP para ter segurança em minhas relações”
À reportagem de A TARDE, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) divulgou que na capital baiana o total é de 1.796 usuários, que têm a PrEP dispensada em uma das cinco unidades municipais. A capital baiana também possui duas unidades dispensadoras estaduais.
As unidades dispensadoras são: Ambulatório de Atenção Especializada em Saúde LGBT, na Carlos Gomes; o Centro Centro Estadual Especializado em Diagnóstico Assistência e Pesquisa (Cedap), no Garcia; O Instituto Couto Maia, em Cajazeiras 2 e nas unidades do Serviço de Atenção Especializada (SAE) na Liberdade, em Nazaré, Dendezeiros e na Unidade Dispensadora de Medicamentos (UDM) no Comércio.
Além de Salvador, a Bahia ainda conta com unidades dispensadoras em Alagoinhas, Amargosa, Barreiras, Lauro de Freitas, Luis Eduardo Magalhães, Paulo Afonso, Simões Filho, Teixeira de Freitas e em outros municípios que podem ser consultados no Portal da PrEP.
A PrEP tem reduzido os novos casos de infecção por HIV e registrou uma queda 8,5% em 2022 comparado aos registros de 2012, segundo dados do Ministério da Saúde.
Outro fator lembrado por Antônio Bandeira é a prevenção combinada com a PrEP na prevenção contra as demais Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST´s). “O ideal é que a pessoa que possa se expor a atividade sexual ela não só faça o uso da PrEP, mas também faça o uso de preservativo”, destacou o médico.
“A PrEP só funciona prevenindo a infecção pelo vírus do HIV, por isso não se consegue prevenir outros tipos de infecção como sífilis, gonorréia, clamídia, HPV, hepatites, além também de gravidez indesejada”, completou o especialista.
Qualquer pessoa que esteja exposta à atividades sexuais de risco pode fazer o uso da PrEP, trabalhadoras e trabalhadores do sexo, pessoas expostas sexualmente em situação de precariedade, pessoas que frequentemente deixam de usar camisinha em relações sexuais, pessoas que fazem uso de Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP).
“Mesmo fazendo o uso da PrEP eu não deixo de usar camisinha. Sou um homem trans ainda tenho também o risco da gravidez e de outras IST’s. A PrEP só previne o HIV e existem outras IST’s que podem ser transmitidas”, relatou Cícero Proença.
Além de pessoas que apresentam histórico de episódios de IST´s e pessoas adeptas à práticas sexuais sob a influência de drogas psicoativas (metanfetaminas, Gama-hidroxibutirato (GHB), MDMA, cocaína, poppers) com a finalidade de melhorar e facilitar as experiências sexuais, também podem usar os medicamentos.
“Vale lembrar que o HIV não é exclusivo de transmissão entre homossexuais, ele também é transmitido entre a população heterossexual também”, comentou Antônio Bandeira sobre o uso da PrEP não ser restrito a certos grupos, pois o que vale é a exposição a atividade sexual de risco.
O paciente que procura o uso da PrEP pode chegar nas unidades de dispensação com encaminhamento de outro médico ou pode procurar diretamente nas unidades o acompanhamento para o uso do medicamento.
“O paciente é monitorado, passa por uma triagem e quando HIV negativo tem a PrEP dispensada e a cada dois meses quando a pessoa vai buscar o medicamento novamente é feito um teste rápido”, explica o infectologista.