Um Nordeste para além da transposição do São Francisco

Opinião

O Nordeste brasileiro, historicamente marcado por ciclos de seca e desigualdades regionais, sempre foi visto como uma área de desafios para o desenvolvimento. A transposição do Rio São Francisco, por exemplo, é uma obra emblemática que se insere em uma longa trajetória de infraestrutura destinada a mitigar a escassez hídrica e impulsionar a produção agrícola. Esses grandes complexos, especialmente os voltados para a energia e o agronegócio, têm o potencial de reconfigurar o território, gerando novas dinâmicas econômicas e sociais.
No entanto, sem uma integração adequada entre esses projetos e as populações locais, corre-se o risco de perpetuar um modelo de desenvolvimento excludente, reforçando as desigualdades regionais. Nos últimos anos, o debate sobre desenvolvimento socioeconômico no Brasil ganhou uma nova perspectiva com o pesquisador Carlos Gadelha, atualmente secretário da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do Ministério da Saúde. Propõe-se a integração entre o Sistema Único de Saúde e o desenvolvimento industrial e tecnológico por meio do fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS). Essa visão conecta-se diretamente à ideia de que grandes projetos podem transformar territórios, ao compreender o CEIS como um motor estratégico para o crescimento inclusivo e sustentável. Ao articular saúde, inovação e território, essa abordagem não só impulsiona o desenvolvimento econômico, como promove uma industrialização que dialoga com as necessidades sociais que pode romper com o modelo de crescimento excludente que tanto marcou o passado da região.

O Nordeste vive um momento de transformação, com avanços significativos em setores como energias renováveis, agronegócio de precisão e, mais recentemente, na área de inovação tecnológica e saúde. Essa mudança é amparada por um ecossistema robusto de universidades, parques tecnológicos e Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), presentes em diversos estados da região. Em Pernambuco, destacam-se o Porto Digital, o Centro de Tecnologias Estratégicas para o Nordeste e as ações das universidades como UFPE, UNIVASF e UPE, que têm sido fundamentais na formação de capital humano e no desenvolvimento de tecnologias para o CEIS. Outro aspecto relevante é a Nova Indústria Brasil a oferece uma oportunidade única para o Nordeste  consolidar-se como um polo industrial moderno e sustentável. O desenvolvimento sustentável do Nordeste passa pela capacidade de integrar inovação, ciência e políticas públicas em um projeto estruturante, como o proposto pelo CEIS. No entanto, o sucesso depende do envolvimento do governo federal, por meio de seus ministérios, da SUDENE, universidades, institutos de pesquisa e sociedade civil. É essencial um projeto que conecte todas as particularidades do nosso território e alinhe-se aos rumos e anseios da população brasileira. Investimentos em infraestrutura, pesquisa e capacitação profissional são fundamentais não apenas para fortalecer a cadeia produtiva, mas também para transformar o Nordeste em um polo de excelência no setor de saúde. Ao investir em projetos de fronteira do conhecimento, podemos desencadear uma verdadeira revolução, que se inicia com a educação e culmina na geração de riquezas de alto valor agregado.

Por: José Lamartine Soares Sobrinho – Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Coordenador  do INCT do complexo econômico industrial da saúde

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