Detentos mortos em presídio de Mata Escura teriam sofrido overdose de K9
Droga sintética é vendida pelo mesmo preço do crack
Por: Bruno Wendel
Presos teriam morrido de overdose de K9 Crédito: Marina Silva/CORREIO
Os dois detentos que morreram, após cinco deles passarem mal em uma cela no Conjunto Penal Masculino de Salvador (CPMS), no Complexo Penitenciário de Mata Escura, na manhã desta terça-feira (24), teriam sofrido uma overdose de K9. Segundo parentes de internos, este não foi o primeiro caso de óbito pela droga no complexo.
“A gente sabe que foi K9 porque a informação que circula lá de dentro é essa. Encontraram na cela vestígios da droga. Mas isso já aconteceu outras vezes. No início de ano, morrem dois na mesma unidade” diz a fonte, que prefere não revelar o nome.
Em maio deste ano, 14 presos morreram por suspeita de overdose de drogas da família K, como a K9, em Minas Gerais. Uma operação da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de MG, em conjunto com o Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG), encontrou mais de 100 pontos das drogas sintéticas K dentro de presídios mineiros.
A K9 é uma substância sintética desenvolvida com o intuito de reproduzir os efeitos terapêuticos do tetrahidrocanabinol (THC), imitando os efeitos da maconha, mas com uma potência muito maior. Ela é feita a partir de plantas pulverizadas com produtos químicos que atuam nos receptores de canabinoides no cérebro. A droga pode causar alucinações, paranoia, ansiedade, taquicardia, convulsões e até a morte.
Não é à toa que se chama “droga zumbi”, pois a pessoa fica alienada e agressiva. Muitos perdem o controle de suas vidas e podem morrer em até dois anos. A droga surgiu nos Estados Unidos na década de 1990, mas a disseminação descontrolada começou em 2010. Por causa do seu potencial destrutivo, o K9 entrou para a lista de substâncias controladas da Drug Enforcement Administration (DEA), agência federal encarregada de controlar e reprimir o uso de narcóticos nos EUA.
Um dos principais motivos para o aumento do consumo está relacionado ao preço: o K9 tem um valor tão acessível quanto o crack.
Arremessos
Segundo o Sindicato dos Policiais Penais da Bahia (SINPPSPEB), três fatores contribuem para que drogas e armas entrem no complexo. O primeiro deles é o arremesso de objetos. “A construção de um muro é uma cobrança antiga. É um problema de décadas. Qualquer pessoa pode adentrar no perímetro, basta chegar pela mata da Avenida Gal Costa e arremessar pacotes com drogas, armas, facas, celulares. É muito comum”, declara Reivon Pimentel, do SINPPSPEB.
O sindicalista pontua, em segundo lugar, a ausência da Polícia Militar nas guaritas e passarelas das unidades prisionais. “A ausência de vigilância é outro problema. Esta competência, por lei, é dos policiais militares, mas a PM já disse que não tem como garantir a segurança por falta de efetivo”, diz.
E por fim, a defasagem do efetivo de policiais penais, que atuam dentro das unidades, que têm uma população carcerária de 13.587, segundo a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap). “O CNPCP (Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária ) recomenda que para cada grupo de cinco presos provisórios ou condenados ao regime fechado tenhamos um policial penal. Deveríamos ter 2.240 policiais penais por plantão, porém a realidade atual é que temos menos de 200 por plantão, que daria menos de 10% do que é recomendado”, declara Reivon.
Mortes
Os óbitos dos dois presos na terça (24) foram confirmados pela Seap, mas sem apontar a causa da morte. “Durante o atendimento, um dos homens evoluiu a óbito e um outro precisou ser transferido para uma Unidade de Pronto Atendimento, onde também faleceu”, explicou a pasta.
Ainda de acordo com a Seap, só os dois acabaram morrendo após o mal-estar. “Os outros três foram estabilizados no serviço de atendimento médico dentro da unidade e já passam bem”, sinalizou a pasta, que não informou o que pode ter causado a morte dos dois presos. Eles não foram identificados.
Posicionamentos
A reportagem procurou a Seap, a Polícia Militar e a Defensoria Pública, mas até o momento não há resposta.