Por Letícia Lins
Do Oxe Recife
Parabéns para Mateus Cabral, 16 anos. Pernambucano de Ipojuca, ele é um dos destaques do curso avançado de contrabaixo do Festival Internacional de Música de Santa Catarina, que está na 20ª edição. Ele participa pela primeira vez do festival, começou a aprender música há apenas três anos e “já demonstra potencial para formação internacional”, avalia o professor Gustavo D’Ippolito. Diz o professor:
“Matheus é um menino muito jovem e aplicado, que tem um talento fora do comum. Ele ainda faz poucas aulas e já alcançou um nível muito alto. Eu acredito que com mais estrutura, apoio e orientação, ele vai chegar muito longe”
Desde os 13 anos, Matheus faz parte da Orquestra Criança Cidadã, programa social que teve início no marginalizado bairro do Coque, no Recife, e que depois expandiu as atividades para outros locais da Região Metropolitana. Em Ipojuca, a OCC atua no bairro de Camela. Ipojuca fica a 51 quilômetros do Recife.
“Entrei no projeto sem nenhuma experiência, mas com o tempo fui descobrindo uma paixão”. Por fazer o ensino médio em horário integral, ele só frequenta as aulas do projeto a cada 15 dias, mas busca impor a mesma rigidez técnica estudando o instrumento em casa. Nos últimos três anos, o jovem tem superado os diversos desafios da jornada musical.
“Quando comecei no contrabaixo, eu tinha zero habilidade e foi muito difícil – quase precisei trocar de instrumento, porque não estava conseguindo me adaptar. Um dia, fiquei bravo e decidi que ia dar um jeito de verdade, passei a estudar muito mais e consegui”.
Matheus sonha em conquistar, no futuro, uma bolsa de estudos internacional. “Eu tinha a cabeça muito fechada, só que participar de festivais, como o FEMUSC, abriu minha mente, porque conheci pessoas de fora e os professores disseram que eu tenho muito potencial se eu estudar”, ele diz. “Minha meta agora é dar uma condição melhor para minha família e levar o nome do lugar onde eu moro para o mundo.”
Cada vez me convenço mais que a não há nada melhor do que a cultura para o resgate social de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade. E a Orquestra Criança Cidadã, que já tocou até no Vaticano, para o Papa Francisco, é um grande exemplo disso. Alguns dos jovens e crianças que passaram pela OCC hoje tocam em orquestras internacionais.