RIO – Líderes em indicações ao prêmio Shell (eram três, no total), “Elis, a musical” e “Conselho de classe” levaram para casa um troféu cada, numa noite em que cada uma das nove categorias consagrou um nome diferente. Escrito por Jô Bilac, o retrato cênico sobre os dilemas da educação pública deu a Aurora dos Campos o prêmio de melhor cenário, enquanto a baiana Laila Garin foi considerada a melhor atriz por interpretar a cantora que dá título à peça.
– Preciso respirar – disse Garin ao subir no palco do Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, onde aconteceu a cerimônia, na noite desta terça-feira. – Estou muito feliz de estar aqui entre artistas que sempre admirei. Quero agradecer especialmente ao Dennis (Carvalho, diretor) de inventar essa maluquice de me escolher para ser Elis. Esse prêmio me faz sentir acolhida nesse Rio de Janeiro. E queria dividi-lo, o dinheiro não sei, eu digo simbolicamente, queria dividi-lo com meus colegas de trabalho – afirmou, arrancando risos da plateia.
Duplamente indicada, Julia Spadaccini ofereceu o discurso mais emocionado ao receber a concha dourada de melhor autora por “A porta da frente” – ela também concorria pelo texto de “Aos domingos”. Sob lágrimas, dedicou a vitória aos parceiros de profissão.
– Quero dividir o prêmio com as equipes das duas peças. É muito bom escrever, mas é melhor ainda trabalhar com pessoas tão queridas.
Enrique Diaz teve a companhia especial das duas filhas ao vencer o prêmio de melhor ator, por “Cine monstro”. Elas manuseavam o troféu com curiosidade enquanto o pai discursava (“Estava louco para ganhar esse prêmio”, admitiu). Ele bem que tentou segurá-lo (“Me deem isso aqui!”), mas não teve sucesso. O prêmio de direção foi entregue a Aderbal Freire-Filho, por “Incêndios”.
– Queria dividir o prêmio, primeiro, comigo. E também com Marieta(Severo, namorada e protagonista do espetáculo) – brincou, referindo-se em seguida à sua luta para recuperar a Sociedade Brasileira de Autores (Sbat), mobilização que lhe rendeu ainda uma indicação na categoria de inovação. – A Sbat precisa de todos nós.
Os vencedores da 26ª edição do Shell receberão R$ 8 mil. A premiação, apresentada pela atriz Renata Sorrah, teve como jurados Ana Achcar, Bia Junqueira, João Madeira, Macksen Luiz e Sérgio Fonta.
Reage, Artista
Enquanto grande parte dos convidados e indicados foi à cerimônia usando as tradicionais roupas de gala, pelo menos dez membros do Reage, Artista decidiram marcar presença ostentando brilhantes vestidos prateados (para “carnavalizar a política”, contou ao GLOBO uma das integrantes). O movimento estava indicado na categoria inovação, por “ampliar a participação dos artistas cariocas no planejamento cultural da cidade do Rio de Janeiro”.
O prêmio acabou indo para Marcus Vinícius Faustini, “pelo conceito e proposta do Festival Home Theatre”, mas isso não impediu que o grupo desse a sua palavra. Antes que o público tomasse os assentos, eles distribuíram, na entrada do Espaço Tom Jobim, textos com a história, ações e propostas do movimento, que surgiu após o fechamento de teatros públicos da cidade. O manifesto também fazia uma reflexão sobre a própria premiação: “O que leva a empresa (Shell) a optar por premiar artistas do eixo Rio/São Paulo, e não lançar editais de fomento, nem incentivar projetos de cultura?”, questionava.
Pouco antes do início da cerimônia, o grupo foi amplamente aplaudido ao subir ao palco e estender uma grande faixa amarela em que se lia: “Lei da cultura Rio já”.
– O que propomos é que haja uma reflexão sobre uma lei para a cultura. A cidade tem projetos de fomento, mas, se houver mudanças na secretaria ou na prefeitura, podem acabar – afirmou a atriz e produtora Isabel Gomide.
Veja a lista completa dos vencedores:
Autor: Julia Spadaccini, por “A porta da frente”
Direção: Aderbal Freire-Filho, por “Incêndios”
Ator: Enrique Diaz, por “Cine monstro”
Atriz: Laila Garin, por “Elis, a musical”
Cenário: Aurora dos Campos, por “Conselho de classe”
Figurino: Thanara Schonardie, por “A importância de ser perfeito”
Iluminação: Tomás Ribas, por “Moi Lui”
Música: Gabriel Moura, por “Cabaré Dulcina”
Inovação: Marcus Vinícius Faustini, pelo conceito e proposta do Festival Home Theatre