Ditadura planejava um atentato para jogar dom Helder Camara e Juscelino Kubitschek no mar

Tércio Amaral
Silvio Tendler dirigiu o filme Militares na democracia: os militares que disseram não , que teve pré-estreia no Recife nesta quinta-feira. Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press (Teresa Maia/DP/D.A Press)
Silvio Tendler dirigiu o filme Militares na democracia: os militares que disseram não , que teve pré-estreia no Recife nesta quinta-feira. Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press
A morte do então arcebispo de Olinda e Recife dom Helder Camara (1909-1999) poderia ser antecipada pelas Forças Armadas. Um complexo plano anticomunista do regime militar brasileiro (1964-1985) teria acertado a morte do religioso, além do ex-presidente Juscelino Kubitschek e do ex-governador Carlos Lacerda para o ano de 1968. A intenção dos militares era provocar a explosão do sistema de distribuição de gás da cidade do Rio de Janeiro e criar um “clima favorável” na perseguição de opositores. O projeto foi abortado depois de recusa de um militar, o então capitão Sérgio Miranda, encarregado da missão.
dom helder

“Eles queriam criar um clima favorável para perseguir os comunistas”, relatou Miranda. Segundo ele, cerca de 100 mil pessoas poderiam ter morrido com o atentado. Depois da missão, dom Helder, JK e Carlos Lacerda seriam sequestrados e seus corpos jogados no mar. “Eu não me considero um herói”, disse o ex-militar.

Esta história pode parecer, inicialmente, até um contrassenso, mas faz parte de um conjunto de relatos coletados no documentário Militares na democracia: os militares que disseram não, dirigido e idealizado pelo cineasta brasileiro Silvio Tendler. O filme foi exibido, com exclusividade, na tarde desta quinta-feira (13) no Congresso Internacional dos 50 anos do Golpe de 1964, realizado na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

“Sempre quis contar esta história. Pouca gente sabe, mas alguns militares resistiram ao Golpe de 1964. Se venda a história do Golpe como se fosse algo rápido e pronto e não foi. Foram 20 anos de sofrimento para eles, que foram colocados na reserva e perderam até a licença em pilotar. Foram tempos difíceis”, disse o cineasta após a primeira exibição do filme. O documentário será lançado no dia 1º de abril nas comemorações do aniversário do golpe no Museu da República, no Palácio do Catete (antiga sede da Presidência da República), na cidade do Rio de Janeiro.

“A ideia deste filme ainda é da década de 1980. Uma vez eu estava saindo do bairro da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, onde moro, e ia para o Aeroporto do Galeão. Conheci um taxista que era militar e foi afastado por não concordar com o Golpe. Ele procurou outra profissão para sobreviver e nunca mais o encontrei”, completou Silvio Tendler. O documentário foi bastante aplaudido e será exibido em festivais em todo o país, além das emissoras de TV públicas e privadas brasileiras.

O filme contou com o apoio da Comissão da Anistia, que deve encarar um novo desafio pela frente. A produção teve a classificação indicativa de idade para 16 anos, o que gerou protestos do autor. “Eu quero que Paulo Abrão (presidente da Comissão da Anistia) consiga fazer uma mobilização para mudar a classificação do filme. Colocaram para 12 anos. Não que eu ache que crianças devam assistir o filme. Mas é porque eu perco uma boa parcela do público adulto que só poderá assisti-lo na televisão a partir das 20h”, reclamou Tendler. “Alegaram que o filme continha cenas de violência. Violência tinha na ditadura”.

Fonte: Diário de Pernambuco

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