Jurista venceu os adversários pelo cansaço na sabatina no Senado
Senadores discutiram mais entre si do que com o sabatinado, que não se afastou da linguagem jurídica
A mais concorrida sabatina de um jurista indicado para o STF lotou os corredores de acesso à sala da Comissão de Constituição e Justiça do Senado e exigiu a intervenção de seguranças para garantir o acesso dos senadores, servidores, jornalistas e autoridades. Visitantes foram encaminhados a outro plenário, para assistir à sabatina por um telão. Fachin entrou na sala da CCJ ao lado da mulher, a desembargadora Rosana Fachin, e de duas filhas, e foi recebido por 20 segundos de aplausos dos convidados que acompanhavam a reunião.
Fachin conseguiu unir em seu apoio os mais aguerridos adversários da política do Paraná, seu estado. Estavam do seu lado o governador Beto Richa (PSDB), a senadora Gleisi Hoffman (PT) e o relator Álvaro Dias (PSDB). Mesmo assim, senadores avisaram que seriam duros na sabatina, e o tucano Cássio Cunha Lima afirmou que a sessão não poderia “se transformar em ação entre amigos”.
Ao ler um texto sobre sua vida e trajetória, Fachin se emocionou ao lembrar das duras condições de vida na infância e adolescência com os pais na lavoura. O jurista precisou interromper a leitura e beber água para conseguir prosseguir sua fala.
Durante a sabatina, porém, Fachin recusou todas as propostas para adiar para hoje a conclusão da sessão e enfrentou da manhã ao inicio da madrugada a batalha travada entre senadores da oposição e do governo. Alimentado apenas com um sanduíche de queijo e barras de cereal, manteve uma oratória técnica, com linguagem jurídica e venceu os adversários pelo cansaço.
A expectativa era de uma sabatina dura, com senadores inquirindo o jurista com virulência, mas o clima foi mais ameno do que o esperado. As desavenças e rusgas ficaram mais entre os próprios senadores. O líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), que tinha 5 minutos para fazer uma pergunta e falou por 14 minutos, criou confusão com as senadoras Gleisi Hoffman, Fátima Bezerra (PT-RN), Marta Suplicy (Sem partido-SP) e Vanessa Grazziotin (PcdoB-AM). Inconformadas com o excesso de tempo de seu discurso, protestaram pedindo que o presidente da sessão, José Pimentel (PT-CE) cassasse sua palavra. Mas Caiado não cedeu.
— Não adianta, ele é autista, não escuta! — reclamou Vanessa Grazziotin.
— Vossa Excelência tem que respeitar a metodologia — protestou Fátima Bezerra.
Caiado ignorou as reclamações e ganhou mais tempo, falando por 26 minutos:
— Se vocês estão com pressa têm que reclamar com a presidenta Dilma, que gastou nove meses para indicar o ministro. Eu tenho o direito de falar! Isso é uma intolerância, o doutor Fachin está constrangido, ele quer responder. Se alguém quer almoçar peça a senha e volte depois!
Fonte: O Globo