Tráfico faz festa quando mata policiais em ação
Churrascos regados a bebidas e drogas se estendem até de madrugada, denunciam moradores
A ousadia dos criminosos que dominam o Complexo do Chapadão, na Zona Norte, parece não ter limites. Além de exigir comprovante de residência para não roubar carros de quem mora na região em falsas blitzes, conforme O DIA noticiou neste domingo com exclusividade, as quadrilhas passaram a fazer churrascos em vias públicas, ao som de ‘proibidões’, após operações da Polícia Militar. O complexo, com mais de 220 mil moradores, é formado por 24 favelas, espalhadas por Anchieta, Costa Barros, Guadalupe, Pavuna e Ricardo de Albuquerque.
Algumas festas dos grupos criminosos são anunciadas, inclusive com fotos de traficantes armados, sem a menor preocupação, em redes sociais. A internet também é usada por moradores para protestar contra o que chamam de “absurdo”. “Hoje (27 de maio), criminosos do Chapadão fazem churrasco após operação na Rua Moraes Pinheiro, na boca do Pistão, em Ricardo de Albuquerque, e na Rua Oliveira Bueno, no Parque Esperança”, descreveu um internauta no site Guadalupe News.
No dia seguinte, novas incursões da polícia desencadearam tiroteios em algumas áreas, como nas ruas Javatá e Coronel Moreira César, na Pavuna. À noite, houve relatos de novas festas. “Assim vem sendo ao longo das últimas semanas. Os traficantes comemoram com mais intensidade quando PMs são mortos”, diz um comerciante. Segundo ele, os churrascos costumam se estender até de madrugada. “Quanto mais o som fica alto, mas eles bebem e se drogam. Há muitos menores. E, pior, saem das festas alterados, prontos para cometer novos crimes”, lamenta.
OUSADIA DE LONGA DATA
Outras demonstrações de audácia já foram registradas e divulgadas pelos próprios bandidos, desde 2014. Como em outubro, quando integrantes do bando de Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, o criminoso mais procurado do estado, líder da ADA, posaram de fuzis dentro da piscina da Vila Olímpica de Honório Gurgel. Ano passado, traficantes da ADA postaram também no site Notícias Rio Brasil (no ar até hoje), duas fotos em que apareciam armados de fuzis a 30 metros de um Caveirão em Costa Barros.
O 41º BPM informou ao DIA , em nota, que tem intensificado as operações no Chapadão, inclusive com a ajuda de outros batalhões, como o de Operações Especiais (Bope). A Polícia Civil garante que boa parte dos bandidos das duas quadrilhas está identificada em inquéritos de delegacias locais e da de Combate às Drogas. Vinte e seis traficantes da região já foram presos este ano. As polícias Militar e Civil informam não ter registro de denúncias sobre exigência de comprovante de residência por parte dos traficantes de quem mora ali.
Guerra pode matar muito mais gente
Para o consultor Paulo Storani, ex-capitão do Bope, no Chapadão, só não há mais tragédias “por força divina”. “Só mesmo por Deus mais inocentes não morrem lá”, diz. A estimativa é que existam mais de 200 fuzis, fora pistolas, nas mãos dos bandos. “Um tiro de fuzil, a 850 metros por segundo, leva menos de dois segundos para percorrer um quilômetro, que é seu alcance. Imagina isso num lugar densamente povoado como o Chapadão?”, justifica.
A rotina de medo faz mal à saúde. Estudo da psiquiatra Maria Thereza Aquino, da Uerj, revela, como O DIA noticiou recentemente, que quem convive num território deflagrado pela violência desenvolve diversos tipos de doenças. “Como cardíacas, depressão, ansiedade e desnutrição. O medo perene instala uma eterna angústia”, compara. “Eu moro há oito meses perto do Morro do Chapadão. O clima tenso e os tiroteios diários já me fizeram adquirir síndrome do pânico e hipertensão”, diz o auxiliar de escritório K., de 39 anos.