Pernambucanos pagam caro a conta da crise econômica
Um dos responsáveis pelo estudo, o economista Everton Gomes diz que a crise bate forte em Pernambuco porque o emprego formal foi puxado pela construção civil, um dos setores mais afetados pela corte de vagas. Em 2012, 12,5% da população empregada no estado estava nos canteiros de obras, acima da média de 8% do país. A inversão acontece a partir de junho de 2014, quando 45% do total de vagas formais destruídas estão no setor. “A construção viveu um boom com as obras na refinaria e estaleiros. Era um fator que jogava positivo e agora joga contra Pernambuco”, diz.
O servente Luciano Martins, 38, surfou na onda do emprego. As construtoras disputavam mão de obra com as grande sobras de Suape. Agora ele experimenta o lado perverso da crise: o desemprego. “A gente saía de uma obra e logo entrava em outra. Tenho 16 anos de profissão e nunca demorei tanto para conseguir emprego”, conta. Luciano faz biscates no bairro onde mora, em Maranguape II, Paulista. Aplica cerâmica, levanta laje, pinta paredes. Assim vai ganhando a vida. “É pouco, mas pelo menos eu tenho dinheiro para as despesas. Não adianta deixar currículo e esperar porque não tem vaga”.
Aperto do crédito imobiliário, estados e municípios sem caixa, obras públicas paradas, mudanças nas regras do financiamento do programa Minha Casa, Minha Vida. Segundo Gustavo Miranda, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-PE), a conjungação desses fatores engrossou o caldeirão das demissões. “A situação é preocupante. Estamos perdendo 2 mil postos de trabalho por mês. A tendência é de retração do mercado de trabalho”. O corte de vagas acende o sinal vermelho. “Estamos preocupados com a paralisação das obras públicas e a falta de financiamento”, reforça a presidente do Sindicato dos Trabalhadores, Dulcilene Moraes. No pico da obras o setor empregava 173 mil trabalhadores. Hoje caiu para 127 mil.
Freio no crescimento
O pico de crescimento de 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 descolou a economia pernambucana da atividade econômica do país. A aceleração do motor com os investimentos estruturadores seguiu até 2012. A partir de 2013, o PIB dá sinais de desaceleração, o que se acentua em 2014 com a crise econômica. Mesmo assim, o crescimento de 2% da economia de Pernambuco é destaque no Nordeste diante do desempenho pífio de 0,1% do PIB do país.
Os efeitos colaterais da crise se aprofundaram este ano com a Operação Lava-Jato, que atingiu em cheio coração do desenvolvimento de Pernambuco, o Complexo Industrial e Portuário de Suape, onde ficam as obras da Petrobras. De acordo com os economistas, as novas fábricas instaladas no estado, entre elas a Jeep, em Goiana, amenizaram os efeitos nefastos, mas são insuficientes para reparar o estrago das demissões em massa nos canteiros de obras e a perda de empregos com carteira assinada.
Ao mesmo tempo, a aceleração da economia pernambucana puxou os índices positivos para cima, o que torna mais evidente , agora, os efeitos negativos da crise, com o aumento do desemprego e a queda da renda das famílias. Maurílio Lima, diretor técnico da Agência Condepe-Fidem, destaca que o crescimento econômico do estado foi ancorado nos últimos anos pelas obras de Suape. Segundo ele, fechado o ciclo da construção civil, falta colher os frutos da industrialização.
“A crise travou o avanço desses empreendimentos de Suape, como as obras do segundo trem da Refinaria Abreu e Lima e da Petroquímica Suape”, salienta. Segundo Lima, as outras regiões mais afetadas pela crise apontadas pelo estudo do Santander também foram atingidas pela Lava-Jato. Ele cita a paralisação das obras das usinas hidrelétricas, no Amapá e Roraima, e o Amazonas, com a desaceleração da Zona Franca de Manaus.
O economista e professor da Faculdade dos Guararapes José Raimundo Vergolino diz que Pernambuco passa pelas “dores do crescimento.” Segundo ele, na fase de implantação dos grandes projetos (os estaleiros, a Petroquímica Suape e a Refinaria Abreu e Lima) a indústria da construção civil “bombou” com 40 mil postos de trabalho.
A desmobilização das obras coincidiu com a Lava-Jato, suspendendo os investimentos da Petrobras. O economista aponta o ajuste fiscal, com o corte de verbas federais e a paralisação das obras públicas, como um dos fatores do agravamento da situação financeira dos estados e municípios.
Mesmo com a tempestade, Vergolino destaca que Suape pulsa forte, e a chegada do polo automotivo com a fábrica da Jeep levarão Pernambuco ao caminho de volta do crescimento, com a retomada do emprego. Além disso, o economista vislumbra a retomada das obras da transposição do São Francisco e da Ferrovia Transnordestina, em 2016, como indutoras de um novo ciclo de desenvolvimento. “Pernambuco tem fôlego porque está se industrializando, mas terá que fazer o dever de casa, diminuindo a máquina pública”.