Ex-detentos e moradores de rua lutam por nova chance

Gilson Jorge

  • Ex-detento, Gilvanir coordena equipe de presos em fábrica dentro do presídio - Foto: Raul Spinassé | Ag. A TARDE

    Ex-detento, Gilvanir coordena equipe de presos em fábrica dentro do presídio

Dos muitos documentos exigidos para a contratação de uma pessoa, dois são particularmente determinantes para a sorte dos excluídos sociais: o atestado de antecedentes criminais e a comprovação de endereço. Se candidatos que sabem inglês e informática saem na frente na busca por uma vaga, quem cometeu um crime ou mora na rua acaba recebendo uma condenação permanente a não entrar no mercado de trabalho.

Mesmo já tendo cumprido pena, Edson Guimarães, 58, anos, por exemplo, não gosta de mostrar o rosto. “Nos finais de semana, faço bicos e visito a casa de clientes”, explica Guimarães, que teme ser rejeitado. Ele não gosta de falar sobre o crime que cometeu e reluta em largar a solda para dar uma entrevista.

Guimarães não consegue trabalho formal fora da prisão.  Mecânico por ofício, aceitou voltar à Penitenciária Lemos de Brito para coordenar o trabalho de detentos  em uma das empresas que mantêm linhas de produção dentro do complexo. Os reclusos recebem 75% de um salário mínimo e redução de pena proporcional aos dias trabalhados.

O mecânico é um exemplo claro de que as portas da sociedade dificilmente se abrem para quem entrou na zona de exclusão social, voluntariamente ou não.

Segundo levantamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento Social, em 2008, havia 50 mil moradores de rua no país. Uma parte desse contingente é formada por gente que tem uma profissão, mas que por circunstâncias de família ou crise econômica perdeu o teto e agora não consegue mais um emprego. “O principal problema enfrentado pelos sem-teto é que as empresas rejeitam quem não tem um endereço”, afirma o publicitário Edgard Vidal, que juntamente com quatro colegas  lançou há cinco meses o Projeto Olhe.

O site dedica-se a promover o currículo de pessoas que moram na rua para empresas que  se dispõem a não fazer da falta de endereço fixo uma barreira para a contratação. “Estamos fazendo contato com empresas e ONGs de todo o Brasil”, afirma Lucas Cordeiro. Ambos integram o Projeto F5, que coordena o site. Na incipiente plataforma é possível ver o currículo de um eletricista, um cozinheiro e um enfermeiro.

Humanização dos presídios
Para os detentos baianos, o diretor de inclusão social da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap), Hari Alexandre Brust, anunciou que até outubro deste ano serão oferecidos novos  cursos de corte e costura no sistema prisional baiano. Ainda não está definido o número de vagas. “É uma das medidas que estamos tomando para a humanização dos presídios e a redução da taxa de retorno ao crime”, afirmou Brust.

Uma pesquisa feita pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) indica que 70% das pessoas que cumprem pena voltam a praticar crimes. Na Bahia, há cerca de 2,5 presos em processo de ressocialização. “Os interessados passam por avaliação de psicólogos e sociólogos que dura até uma semana”, diz o diretor da Lemos de Brito, Everaldo Carvalho.

Aos 39 anos, o ex-detento  Gilvanir de Jesus coordena uma equipe de presos numa fábrica de sacos de lixo instalada dentro do presídio. Encarcerado aos 18 anos por homicídio, antes de poder começar uma carreira profissional, Gilvanir está livre há dois anos. “Paguei pelo que fiz e não devo nada à sociedade”, afirma.

Fonte: A Tarde

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