Repúdio, revolta e indignação com dois pastores que usaram indevidamente nomes de outras pessoas para tentar retirar imagens do Rio São Francisco
Ação Popular
A escultura da Iemanjá continua a render muitas controvérsias. Depois de ser apontada pelo vereador Zenildo do Alto do Cocar (PSB), como “culpada” pela falta de chuvas na região, a obra volta ao topo de uma nova polêmica, desta vez protagonizada por pastores da região, que decidiram acionar o Ministério Público (MP) para pedir a retirada do símbolo.
A ação foi protocolada pelos pastores Jorge Ancelmo Alves e Kenaidy Ferreira de Amorim. Eles justificam que as referidas imagens foram colocadas no leito do rio ao arrepio da lei. De acordo com o representante do movimento, Pastor José Kenaidy, a justificativa é que o leito do Rio São Francisco pertence à União e, uma vez sendo o Estado laico, nenhuma escultura de cunho religioso deveria ser colocada nas águas do Velho Chico.
“As imagens foram colocadas no rio e feriu o artigo 99 do código civil brasileiro e a constituição brasileira. O artigo 20 da constituição diz que o rio é um bem da União, e como bem da União isso é inadmissível. O IBAMA e todas as autoridades foram omissos, principalmente em Juazeiro que é um posso de merda, essa discussão é antiga e somente agora foi levantada pelo vereador Zenildo”.
O pastor explica ainda que não se trata de uma “briga” religiosa, mas sim de defesa aos direitos civis e à preservação do rio. A ação no MP também pede a retirada da antiga escultura do Nego d’água, sob a mesma justificativa. “Estamos entrando com uma ação no MP para retirar a Iemanjá e o Nego d´água. Queremos deixar claro que não é uma questão de religião, é uma questão de legalidade e direitos civis. O ambiente público é para todos. Assim como as imagens eu também não concordo colocar em espaço público a logomarca do Rotary, Maçonaria, entre outros, assim com a imagem da bíblia também. Não podemos contrariar o principio da lei”, disse Kenaidy.
A decisão de Kenaidy não agradou algumas pessoas, a exemplo, do comunitário Joseph que discordou da sua opinião e teceu algumas criticas. “Kenaidy está defendendo o estado laico agora, há muito tempo atrás tínhamos a praça da bíblia em Juazeiro e eu nunca vi o pastor falar sobre isso, ele deveria procurar o que fazer e não ficar falando o que não sabe”, disparou.
Religioso, o comunitário João Batista que reside no bairro Piranga I, frisou que os pastores são para doutrinar a igreja e os fiéis e não se comprometer com os temas polêmicos que o mundo oferece. “Em todos lugares existem estátuas e a gente não ver discussões como essas, a responsabilidade do pastor é doutrinar, acho que Kenaidy deveria fazer isso”, disparou.
Por sua vez, o ex-vereador Ruy Wanderley contestou, pelas redes sociais, uma foto na qual aparece ao lado de pastores evangélicos em relação à polêmica da retirada do Rio São Francisco das esculturas de Iemanjá e do Nego D’Água. Ruy disse que não compartilha da decisão dos pastores Jorge Ancelmo, de Petrolina, e José Kenaidy, de Juazeiro, em acionar o Ministério Público Federal solicitando a retirada dos símbolos.
“Recentemente foi divulgada na imprensa e nas redes sociais uma imagem de pastores e líderes evangélicos a qual não condiz com a realidade. Esclareço que, na reunião em questão, além de outros temas, foi abordado o que tange as esculturas de Mãe D’Água e Nego D’Água, colocadas no Rio São Francisco, entretanto, em nenhum momento foi estabelecido que os presentes acionariam o Ministério Público para retirá-las. Essa decisão foi exclusivamente de dois líderes evangélicos também presentes no local”, esclareceu.
Wanderley disse ainda que “na época da colocação da estátua de Mãe D’Água me posicionei publicamente contrário a esse ato, enquanto outros se calaram. Mas, no momento atual, entendo que não cabe tal discussão. Temos que orar a Deus para que ele nos abençoe e nos dê sabedoria para debatermos sobre temas que possam nos levar a ter amor e respeito para com as pessoas, e que nos conduza a proporcionar uma melhor qualidade de vida ao povo do nosso país”.
Repúdio
Por fim, o ex-vereador disse que gostaria de expressar o seu “repúdio acerca das falsas afirmações que foram vinculadas a imagem em questão, pois, como servo de Deus, prezo pela verdade, e que se for para haver a propagação dessa foto, que seja feita com o real contexto condizente com a mesma. Fica minha oração para que possamos fazer com que a verdade possa prevalecer sempre”.
Contra a intolerância
Por outro lado, o prefeito Julio Lossio disse que as imagens colocadas no Rio são manifestações culturais e associadas ao Rio São Francisco. “Acredito que todos nós cristãos devemos levantar bandeiras voltadas para combater a droga, exploração sexual de menores, analfabetismo e tantas outras lutas. As igrejas evangélicas durante muito tempo foram vítimas de intolerância religiosa, peso que a tolerância e o respeito as manifestações culturais é algo sagrado na nossa constituição e cultura, acredito que essa manifestação não condiz com os ensinamento de Jesus Cristo”.
Indignado com a atitude dos pastores, o comunitário Jonas Mendes, disse que eles têm tanta coisa para fazer e ficam se preocupando com as imagens do rio. “Eles deveriam andar nos bairros para pregar a palavra de Deus e ficam se preocupando com a imagem de Iemanjá, mas a culpa foi de Zé Nilton (Vereador) que abriu a boca e disse que o rio está secando por conta que a imagem de Iemanjá está lá, o rio está secando por culpa dos homens que não sabem preservar”.
Para o comunitário Dewilson Ribeiro, morador do Distrito de Itamotinga, em Juazeiro, o Pastor Kenaidy deveria procurar uma trouxa de roupa suja para lavar. “Esse pastor não conhece a história de nós ribeirinhos. Ele deveria procurar o que fazer e respeitar o povo de nossa cidade já como ele não é daqui. Se ele quiser retirar as imagens que pegue e coloque em sua casa para ficar olhando”, desabafou.
Diante do fato, o Presidente União dos Pastores de Petrolina, Clayton Antônio, afirmou que a entidade não vai entrar com representação no MPF, devido ao respeito que tem com as outras religiões. Ainda assim, ele afirmou que a decisão tomada pelos pastores Jorge Ancelmo Alves e Kenaidy Ferreira de Amorim são posições isoladas.