A capital esquecida de antigo reino maia é encontrada em rancho de fazendeiro no México

 

Mapa das ruínas encontradas no MéxicoMapa das ruínas encontradas no México

A capital esquecida de um antigo reino maia foi encontrada no rancho de um fazendeiro no México por professores de antropologia da Universidade de Brandeis e da Universidade de Brown, nos EUA.

Em parceria com um time de pesquisadores dos EUA, do Canadá e do México, os professores Andrew Scherer e Charles Golden começaram uma escavação no local em junho de 2018 e publicaram os resultados em dezembro na revista científica Journal of Field Archaeology.

Segundo a pesquisa de Sherer e Golden, o local — que hoje é um rancho cheio de gados no sudoeste do México — já foi a capital do reino Sak Tz’i’, provavelmente fundada no ano 750 a. C. e ocupada durante mais de mil anos. Hoje o sítio arqueológico é conhecido como Lacanjá Tzeltal, o mesmo nome do vilarejo de onde ele está próximo.

Pesquisadores procuram por pistas sobre Sak Tz’i’ desde 1994, quando referências sobre ele foram encontrados em outros sítios arqueológicos maias. O reino também é mencionado em algumas esculturas espalhas por museus no México e no resto do mundo, diz o estudo.

Golden disse ao site de divulgação científica Phys que o encontro de Sak Tz’i’ é um enorme avanço no entendimento da política e da cultura maias. Ele comparou com tentar entender como era o mapa da Europa medieval a partir de documentos históricos ler sobre um local chamado França, então finalmente descobrir onde a França ficava. “É uma enorme peça do quebra-cabeça”, disse ele ao Phys.

O encontro de cidades “perdidas” se tornou muito raro nos últimos anos devido ao avanço da tecnologia de varredura e identificação e ao fato de que grandes centros urbanos de antigas civilizações raramente passam desapercebidos pela população local, diz o estudo. Os grande sítios arqueológicos escavados por pesquisadores normalmente foram encontrados com ajuda da população local, que já sabia da existência de ruínas nos locais.

No entantoi o reino Sak Tz’i’ era pequeno comparado com outras civilizações maias como as encontradas nas sítios arqueológicos de Chichen Itza e de Palenque, por exemplo, e sua capital de fato ficou escondida durante séculos.

O reino de Sak Tz’i’

Os pesquisadores não sabem porque o reino era chamado de Sak Tz’i’ (que significa ‘cachorro branco’), mas as inúmeras referências a ele e o novo achado científico dão muitas pistas de como era a vida e a cultura nessa sociedade.

O reino tinha a economia baseada em agricultura, com campos de cultivo ao redor da cidade produzindo uma séria de alimentos. Os fazendeiros usavam instrumentos de pedra e cerâmica, que eram vendidos em mercados ao ar livre.

Vestígios desse mercado foram encontrados por pesquisadores, que também se depararam com resquícios de um palácio real e uma pirâmide. Ao redor delas, diversas estruturas foram encontradas — os pesquisadores acreditam que os locais eram usados para rituais e para residência da elite.

Uma praça de 6 mil metros quadrados era o centro político e cultural do reino, onde as pessoas se reuniam para cerimônias.

Desenho de Stephen Houston (à esq.) e modelo em 3D do painel encontrado no localDesenho de Stephen Houston (à esq.) e modelo em 3D do painel encontrado no local

Também foram encontradas diversas esculturas nas ruinás do sítio arqueológico.

A mais bem preservada tem inscrições com histórias míticas: uma serpente, alguns idosos, deuses com nomes desconhecidos.

Outra inscrição relata histórias sobre um dilúvio. Em uma, há datas de nascimentos e batalhas.

Guerras e conflitos era provavelmente algo muito presente no reino Sak Tz’i’, diz o estudo, pois ele se encontrava cercado por outras nações mais poderosas.

Os pesquisadores encontraram indícios de um enorme muro construído na capital para deter invasores — que nem sempre deve ter sido efetivo.

Há indícios de que pelo menos uma parte da cidade pegou fogo durante um conflito com um reino vizinho.

O encontro do sítio arqueológico

Em 1998, um arqueólogo chamado Gabriel Laló Jacinto visitou um enorme sítio na cidade de Lacanjá Tzeltal e reconheceu que o local parecia ser as ruínas de uma antiga cidade. Mas ele relatou que não foi capaz de continuar sua investigação graças à desentendimento sobre a propriedade da terra e interesses da comunidade.

Segundo o estudo de Golden e Scherer, nenhum arqueólogo visitou o local entre 1998 e 2014, ano em que um conhecido do dono da terra procurou pesquisadores quee estavam pela região para conversar sobre a possibilidade de colaboração para uma pesquisa. O reconhecimento e mapa preliminar do local foram publicado por Golden e Scherer no Instituto Nacional de Antropologia e História do México em 2015.

As primeiras escavações foram em 2018. O inventário inicial dos arqueólogos relatou o encontro de um painel, onze altares, onze esculturas de pedra, dez monumentos não classificados e doze fragmentos não identificados.

Exposição à chuva, fogo de queimadas para a agricultura, roubos e crescimento da vegetação destruíram a maior parte dos detalhes dos textos e imagens, diz o estudo.

No entanto as inscrições mais preservadas oferecem fortes evidências de que o local era a dinâmica capital de Sak Tz’i’.

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