A cultura assassina republicana do Brasil
O ministro
Na festa de recepção aos militares que participaram da Guerra de Canudos, no Arsenal de Guerra, no Rio, em 5 de novembro de 1897, o soldado Marcelino Bispo de Miranda se aproximou do presidente da República, Prudente de Morais (ao lado). Ao perceber que o soldado apontava um revólver, o ministro da Guerra, Carlos Machado Bittencourt, entrou na frente do presidente. Miranda engatilhou a arma, que falhou. Em segundos, o soldado tirou uma pequena faca da cintura e a enfiou no peito e na virilha do ministro, que caiu morto.
O assassino foi preso. Meses depois, foi encontrado enforcado na cela. O atentado permitiu que Prudente de Morais decretasse estado de sítio e neutralizasse a oposição e as críticas pelos gastos do governo no massacre de sertanejos na Bahia. Ele podia encerrar com tranquilidade seu mandato no ano seguinte. A polícia prendeu diversos políticos pela suposta formação de um conluio para matá-lo.
Entre os presos estavam o senador Pinheiro Machado, que foi liberado por falta de provas.
A “Sombra”
Após deixar a prisão por suposta participação no atentado contra Prudente de Morais, o senador Pinheiro Machado ganhou destaque nos bastidores da política. Ele criou o Partido Republicano Conservador, um dos primeiros com características nacionais. A 8 de setembro de 1915, ele foi apunhalado pelo padeiro Francisco Coimbra, ao chegar ao hotel onde estava, no Rio. O Partido Republicano Conservador foi dissolvido.
Crimes de uma Revolução
A 26 de julho de 1930, o presidente da Paraíba, João Pessoa, vice de Getúlio Vargas na chapa derrotada da oposição que disputou o Palácio do Catete, foi morto com dois tiros pelo advogado João Duarte Dantas, no Recife. Eles travavam uma disputa política regional. Dantas havia se sentido ofendido com a divulgação de cartas que recebeu da namorada, Anayde Beiriz, tiradas de seu escritório. Vargas usou o homicídio para levar adiante sua revolta, que desembocou na Revolução de 1930.
O primeiro ato de violência desse processo ocorreu cinco meses antes, em Montes Claros, Minas. O vice-presidente da República, Fernando de Melo Viana, participava de um comício do candidato do governo, Julio Prestes, a 6 de fevereiro, quando seu grupo político entrou em choque com oposicionistas da Aliança Liberal. Melo Viana levou três tiros e sobreviveu. Rafael Fleury, seu secretário, e outras cinco pessoas morreram.
Atentado
Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas, confessou ser o mandante do atentado da Rua Toneleros, no Rio, na noite de 4 de agosto de 1954, que resultou na morte do major-aviador Rubens Florentino Vaz. Este era segurança do jornalista Carlos Lacerda – um ferrenho opositor das esquerdas e do governo. Ele escapou da morte. O caso incendiou o clima político. Vinte dias depois, Vargas se matou com um tiro no peito, em seu quarto, no Palácio do Catete.
Tiros no Senado
O senador de Alagoas Arnon Afonso de Mello, pai do ex-presidente e atualmente senador Fernando Collor, sacou sua arma, no plenário do Senado, e disparou três tiros contra o rival Silvestre Péricles, também senador por Alagoas, em Brasília, no dia 4 de dezembro de 1963 (ao lado). Péricles não foi atingido. Mas um dos tiros atingiu o senador José Kairala, perfurando seu coração. Arnon, que dispunha de imunidade parlamentar, não foi punido.
Políticos influentes gozavam de imunidade parlamentar.
Fonte: Estado de S. Paulo