A experiência do romancista Graciliano Ramos como Gestor Público, a outra face do escritor
A relação do escritor romancista Graciliano Ramos (Quebrangulo, 27 de outubro de 1892 — Rio de Janeiro, 20 de março de 1953) com a gestão Pública, um envolvimento no mínimo inusitado, segundo confessou em sua última entrevista a um jornal chamado Bula no ano de 1948, afirmou ao ser questionado como havia entrado na política: “- Assassinaram o meu antecessor. Escolheram-me por acaso. Fui eleito, naquele velho sistema das atas falsas, os defuntos votando (o sistema no Brasil anterior a 1930), e fiquei vinte e sete meses na prefeitura”. Observamos um panorama de transição econômica e social em meio a crise de 1929 e a revolução de 30, período em que administrou a cidade de Palmeiras dos Índios, interior de Alagoas, como prefeito. O país em 1929 se apresentava em meio a uma crise internacional centrado pelos EUA, aumentando assim a instabilidade financeira, já no plano interno, os motivos eram desencadeados por políticas econômicas ortodoxas praticadas, pelo governo federal e pelos reflexos externos das circunstâncias internacionais apontadas, apresentando uma inflexão ou queda nas economias regionais não-cafeeiras.
O nordeste brasileiro apresentava uma política opressora mais intensa, coronelismo, período de práticas autoritárias e violentas comandadas pelos coronéis. Como possuíam grande quantidade de colonos em suas terras e havia respeito seguido de “medo” por grande parte da população rural da região, os coronéis abusavam do seu prestígio para manipular as pessoas e até obrigá-las sob forma brutal a fazer sua vontade.
Em meio a este contexto Graciliano Ramos aparece como Gestor Público onde demonstrava sério compromisso com o destino do brasileiro, principalmente daqueles que sofriam e eram explorados. Ele fez de seus escritos, segundo muitos estudiosos, um instrumento de interpretação e intervenção na realidade social e política do país.
Inquieto e inconformado com o contexto político vivido na época, Graciliano Ramos consegue romper muros opressores e assim gerar paradigmas que servem como orientação de um modelo de ética e moralidade na gestão Pública. Em uma época em que os gestores públicos se submetiam ao controle efetivo dos coronéis , Graciliano
procurava manter uma gestão austera e transparente. Quanto à austeridade, ele próprio reconhece que isto não agradava o povo, que queria os “favores” do Estado, algo incompatível com uma administração pública impessoal.
Em suma, para planejar a sua administração, Graciliano Ramos, como gestor, precisou, segundo os seus princípios, combater o nepotismo, o favorecimento de benefícios a pessoas que não necessitavam, alocando-os aos menos favorecidos, saldar dívidas deixadas pelo antecessor, e resolver problemas mais emergenciais, essas eram as questões sociais, econômicas e políticas que precisavam ser resolvidas, buscando a eliminação de pequenos vícios, e que certamente nortearam às suas ações.
Os desafios estão postos, Graciliano Ramos trouxe para o contexto político, econômico e social, atitudes desafiadoras para o papel do gestor público, quebrou paradigmas. Percebemos ao longo dos estudos propostos pela disciplina que até hoje o papel político do administrador público é complexo, que algumas iniciativas são
exclusivas do ofício e por conta disso merecem o máximo de respeito. Os seus relatórios elaborados pela escritor, servem de base para elaboramos parâmetros de analise e reflexão para o cumprimento da execução efetiva dos trabalhos na área administrativa pública.
Graciliano nos deixa como herança, não somente seus romances literários, mais seu exemplo de gestor ético, podemos destacar alguns exemplos que poderiam contribuir para o desenvolvimento da gestão pública no Brasil assim como: Conhecer as leis que regem este país é o principio básico para se fazer cumprir os deveres e obrigações
constitucionais, principalmente na área fiscal, por exemplo, o combate ao nepotismo e ao apadrinhamento político continua sendo as patologias do sistema político brasileiro, gerenciar bem os recursos públicos, priorizar os desvalidos. Estes sãos alguns dos princípios deixados por ele que em minha opinião poderiam ser utilizadas com mais responsabilidade na atual política do nosso país.
Autora: Ana Carolina do Vale Jucá, Pedagoga, estudante da graduação em Administração Pública e especialização em Gestão Pública, ambas pela UNIVASF, Universidade Federal do Vale do São Francisco.
Referências bibliográficas: www.revistabula.com,