A participação de negros alforriados na Guerra do Paraguai

Soldados negros, ex-escravos ou não, lutaram nos quatro exércitos dos países envolvidos da Guerra da Tríplice Aliança. Os exércitos paraguaio, brasileiro e uruguaio tinham batalhões formados exclusivamente por negros. Como exemplos temos o Corpo dos Zuavos da Bahia e o batalhão uruguaio Florida. Escravos propriamente ditos, engajados como soldados, lutaram comprovadamente nos exércitos paraguaio e brasileiro.
Na época da guerra (1864-1870), no Paraguai, o negro era, antes de tudo, o inimigo. O exército brasileiro era o exército macacuno, e seus líderes, segundo a propaganda lopizta, macacos que pretendiam escravizar o povo paraguaio, conduzindo-os da liberdade à escravidão.
Com base na propaganda poder-se-ia pensar que no Paraguai da época não existiriam negros nem escravos. Por conseguinte não existiriam, também, negros escravos ou ex-escravos no exército paraguaio.
A realidade era diferente. A escravidão não havia sido abolida do Paraguai. O que havia era uma lei do ventre livre promulgada em 1842 por Carlos Lopes, pai de Francisco Solano López. Os libertos da República, os que nasciam de Janeiro de 1843 em diante, deveriam, no entanto, trabalhar para seus senhores, patronos, os homens até a idade de 25 anos e as mulheres até os 24. Era uma liberdade bastante relativa, portanto.
O recrutamento sistemático de escravos no Paraguai inicia-se em setembro de 1865, apenas um ano depois do início da guerra, para preencher as baixas de feridos e de epidemias que assolaram o exército. Destacamentos formados por ex-escravos vindos do interior foram vistos em Assunção em meados de 1866.
A população brasileira em 1850, 14 anos antes da guerra, era de aproximadamente dez milhões de pessoas, das quais uma quarta parte era constituída de escravos. Os insuficientes efetivos do exército brasileiros foram reforçados, para a guerra, pelos contingentes da polícia, da Guarda Nacional e dos Voluntários da Pátria, das províncias do império.
Não existem números certos sobre a porcentagem de escravos alistados no exército imperial. Salles (1990:103), que dedicou um livro ao assunto, cita algumas estimativas. Segundo o general Queiroz Duarte, que trabalhou os números dentro de uma ótica que visava a valorizar os alistamentos voluntários, os ex-escravos, libertos, seriam apenas 8.489 pessoas em meio ao contingente mobilizado para a guerra, que perfazia um total de 123.150 soldados. Ou seja, 6,9% de escravos do total de soldados do exército.
Tais dados, apesar de precários e insuficientes, demonstram que o exército brasileiro dificilmente poderia ser compreendido como um exército de escravos, como afirma Chiavenatto.
Fonte: A participação dos negros escravos na guerra do Paraguai. André Amaral de Toral. Guerra do Paraguai: História e Polêmica

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