A miséria na região Nordeste, desde muito tempo, é debatida como um fenômeno histórico que assola essa porção do território brasileiro. Geralmente, diversas famílias pressionadas pela falta de oportunidade de emprego e a ausência de qualquer outro meio de vida se deslocam de seu local de origem para tentar uma vida melhor em outras partes do país. Sendo um fenômeno comum em nossa história, o professor pode iniciar um trabalho no tema por meio de uma pesquisa.
Nessa atividade, ele deve elaborar um roteiro de perguntas junto aos membros da turma. O conjunto de questões formará um guia pelo qual o aluno entrevistará alguém que saiu de sua terra natal em busca de novas oportunidades. Neste roteiro, tenha o cuidado de salientar as motivações da mudança e as regiões envolvidas no processo de deslocamento. Após a realização da tarefa, selecione o resultado de alguns alunos para compartilhá-los entre os demais colegas.
Dessa forma, o aluno tem uma primeira visão de que o êxodo não só acontece na região nordeste e que atinge grupos populacionais de outras regiões do país. Ao mesmo tempo, a familiaridade com o tema se transforma em outro fator atrativo para que cada um reflita a questão. Superada essa primeira etapa de aproximação, o professor tem condições de promover uma última atividade interpretativa utilizando um trecho do romance “O quinze”, da escritora Rachel de Queiroz.
Sendo uma obra extensa, recomendamos o destaque especial a esse trecho específico do romance:
Agora, ao Chico Bento, como único recurso, só restava arribar.
Sem legume, sem serviço, sem meios de nenhuma espécie, não havia de ficar morrendo de fome, enquanto a seca durasse.
Depois, o mundo é grande e no Amazonas sempre há borracha…
Alta noite, na camarinha fechada que uma lamparina moribunda alumiava mal, combinou com a mulher o plano de partida.
Ela ouvia chorando, enxugando na varanda encarnada da rede, os olhos cegos de lágrimas.
Chico Bento, na confiança do seu sonho, procurou animá-la, contando-lhe os mil casos de retirantes enriquecidos no Norte.
A voz lenta e cansada vibrava, erguia-se, parecia outra, abarcando projetos e ambições. E a imaginação esperançosa aplanava as estradas difíceis, esquecia saudades, fome e angústias, penetrava na sombra verde do Amazonas, vencia a natureza bruta, dominava as feras e as visagens, fazia dele rico e vencedor.
Dessa vez, sem contar com a presença de um interlocutor, o aluno deve responder as mesmas questões do questionário com os dados do texto de Rachel de Queiroz. Dessa forma, utilizando uma experiência ligada ao seu cotidiano, o aluno tem condições para observar a perspectiva dessa mesma questão explorada na arte. Com isso, conteúdos de Redação, Literatura e História podem interagir simultaneamente.
Caso ache interessante, o mestre pode fechar a atividade promovendo uma diferença entre o teor das informações do texto literário e da entrevista. A cada pergunta respondida, vemos que a abordagem da mesma questão se modifica em função de seus autores. Por fim, realidade e arte se misturam como meios de se entender o que ocorreu no passado.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola