A vida de João Pernambucano

Um dos pioneiros do Sertanejo que viveu entre 1883 e 1947

João Teixeira Guimarães, violonista e compositor nasceu em 2/11/1883, em Jatobá-PE e morreu em 16/10/1947, no Rio de Janeiro-RJ. É considerado um dos grandes artistas da primeira metade do século XX.
Nascido na cidade de Jatobá, no interior de Pernambuco, João foi o terceiro dos onze filhos de Manuel Teixeira e Teresa Vieira, uma descendente de portugueses. Após a morte do pai, sua mãe casa-se com Eugênio Alves Mendes e a família se muda para Recife em busca de melhores condições de vida. É na capital pernambucana que João aprende o ofício de ferreiro, ao mesmo tempo em que começa a tocar viola, frequentando animadas rodas de cantadores, repentistas e violeiros no mercado da cidade.
Em 1904, com 21 anos, chegou ao Rio de Janeiro. O oficio de ferreiro garantia seu sustento, mas era extremamente desgastante com até 16 horas diárias de trabalho, além de não ser aconselhado a um violonista. Contudo, João sempre arrumava tempo para tocar seu violão e contar histórias de sua cidade natal, fato que lhe rendeu o apelido: João Pernambuco. Mudou-se para uma república na Rua Riachuelo, na Lapa, onde conheceu Donga e Pixinguinha que lá moravam. Em 1908 passa a trabalhar como calceteiro (trabalhador que calça ruas com pedras ou paralelepípedos) com um maior desgaste das mãos, mas com um salário maior e uma jornada de trabalho menor. Em 1910 intensificou suas aparições nos meios musicais como a tradicional Festa da Penha, onde os compositores lançavam suas novas composições para o carnaval do ano seguinte.
Sua carreira artística é marcada por sua atuação como instrumentista e compositor de canções com a temática sertaneja. Em 1912 realiza sua primeira gravação como solista de violão, época também que inicia sua parceria com Catulo da Paixão Cearense que nos rendeu canções como Luar do Sertão, Engenho de Humaitá e Caboca de Caxangá. Esta última música foi sucesso no carnaval de 1913, quando foi lançada pelo Grupo do Caxangá (conjunto criado por João que utilizava roupas típicas do sertão nordestino como sandálias de couro, lenços no pescoço e chapéus de palha), que atuou entre os carnavais de 1913 e 1919. Ao longo dos anos vários músicos como Pixinguinha, Donga, Bonfiglio de Oliveira, Quincas Laranjeiras e Nelson Alves passaram pelo grupo que foi desfeito para dar origem ao famoso Os Oito Batutas, grupo do qual João também participou em formações posteriores.
Na década de 1920 passou a dar aulas na loja O Cavaquinho de Ouro. Lembramos que a prática de manter grandes instrumentistas como professores nas lojas de música ajudava a aumentar sua clientela. Na década de 1930, a convite de Villa-Lobos, João passou a trabalhar como contínuo na Superintendência de Educação Musical e Artística, podendo se dedicar ainda mais a composição e ao violão.
De 1926 a 1930 gravou parte de sua obra para violão, interpretando obras como Sons de Carrilhões (1926), Magoado (1926), Reboliço (1930), Recordando (1930), Dengoso (1930), dentre outras. João Pernambuco foi homenageado por diversas vezes com regravações de sua obra para violão. Dentre os discos citamos Caio Cézar Interpreta João Pernambuco – Volume 1 (Carrilhões, CD/1992); João Pernambuco, o Poeta do Violão (Eldorado, CD/1997) e Descobrindo João Pernambuco (Eldorado, CD/1999) com Leandro Carvalho; Baden: João Pernambuco e o Sertão (SESC-SP, CD/2000), com Baden Powell.
A obra de João Pernambuco é extremamente importante na consolidação de um caráter essencialmente brasileiro em nossos choros, polcas e maxixes. Sons de Carrilhões foi uma das peças brasileiras mais gravadas mundo a fora. O musicólogo Mozart Araújo afirmou que João é para o violão brasileiro o que Ernesto Nazareth representa para o piano e Villa-Lobos chegou a declarar que “J. S. Bach não se envergonharia de assinar os estudos de João Pernambuco”.
LEAL, José de Souza e BARBOSA, Artur Luís. João Pernambuco – Arte de um povo. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

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