A voz rouca virou hi-tech

Por Marcelo Tognozzi

Colunista do Poder360

Com mais de 300 milhões de visualizações, o vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre o Pix virou uma espécie de versão digital da passeata dos 100 mil, que tomou o centro do Rio em 1968 e entrou para a história como o maior protesto popular contra a ditadura militar. A crítica contundente ao governo que sofre do mal da falta de confiança ganhou corações e mentes numa velocidade jamais vista.

Ele marca a chegada de uma nova era em que os velhos políticos estão sendo substituídos pela nova geração, pelo sangue novo de Nikolas, 28 anos, João Campos (PSB), 31 anos, Marcel van Hattem (Novo), 39 anos, Hugo Motta (Republicanos), 35 anos, Carol de Toni (PL-SC), 38 anos, Duarte Junior (PSB-MA), 38 anos, e Silvio Costa (Republicanos), 42 anos.

O Brasil está mudando rápido. Mais rápido ainda o poder se renovará. É inexorável. A falta de confiança no governo Lula 3 virou o novo normal.

A decisão de usar o Pix para aumentar a fiscalização da Receita foi a gota d’água para a viralização do vídeo de Nikolas Ferreira. Ele soube fazer comunicação política com extrema eficiência, verbalizando o que se ouve cotidianamente em ruas, bares, Uber, táxis, metrô, fila de hospital, igrejas, escolas, mercados, em qualquer lugar. Confiro isso todos os dias aqui em São Paulo.

O deputado Ulysses Guimarães falava da voz rouca das ruas. A tecnologia, os celulares e as redes sociais deram som, imagem e movimento à essa voz. Ela não é mais rouca. Soa em alta definição e permite que um deputado de 28 anos grave um vídeo de 4 minutos e deixe o governo de joelhos, desmontando a narrativa do poder.

Ali não tem fake news, mas umas boas verdades e uma aula de comunicação política justamente na semana em que o ministro Sidônio Palmeira, marqueteiro oficial de Lula 3, tomou posse como comandante da comunicação do governo.

Com todo respeito ao ministro, o problema do governo é de credibilidade, não propriamente de comunicação. Não há marqueteiro milagreiro.

Este governo assumiu com todo apoio da grande mídia, de boa parte da Faria Lima, da União Europeia, do governo norte-americano e da China. Se não conseguiu decolar, não foi por culpa da oposição, mas por pura incompetência, não apenas para comunicar, como para articular politicamente.

Diferentemente de Lula 1 e 2, Lula 3 parece ter perdido o apetite para a política do dia a dia, na qual sempre foi craque. Se agarra ao Supremo e a uma narrativa de golpe, cujo efeito sobre o eleitor comum é zero. É aí, que o próprio governo dá palanque para a oposição, ao deixar de focar nas necessidades básicas do cidadão.

A coisa piora ainda mais quando o Banco Central divulga um vídeo vulgar para responder à oposição e os analistas de poltrona da imprensa amiga fazem coro acusando a oposição de produzir fake news.

Crítica não é fake news, muito menos desinformação. O vídeo do deputado Nikolas começa dizendo que o governo não vai taxar o Pix, mas que acompanhará com lupa as transações para fiscalizar quem movimenta R$ 5.000 ou mais e cobrar Imposto de Renda, o que é verdade. O próprio governo não desmentiu.

O ministro Sidônio tem um nome incomum. Os sidônios são habitantes de Sidom, cidade fenícia fundada há uns 4.000 anos no território onde hoje é o Líbano, vizinha de Biblos e Tiro. Sidom era sinônimo de prosperidade e riqueza na era pré-cristã, um dos centros mais importantes da região conhecida como Canaã.

Ali, eram produzidos os famosos tecidos de cor púrpura, cuja tinta extraíam de um caramujo. Até que Ciro, rei da Pérsia, conquistou a Fenícia em 539 A.C. e a dividiu em 4 reinos: Sidom, Biblos, Tiro e Arwad. Depois, Sidom caiu nas mãos de Alexandre o Grande e virou parte do império helênico.

Os sidônios, como a maioria dos fenícios, adoravam Baal, deus da vida e da fertilidade, que travava uma batalha permanente com Mot, deus da morte e da esterilidade. Quando Baal vencia, os tempos eram de prosperidade. Nas vitórias de Mot, vinham tempos sombrios. A grande lição de Baal é a de que a luz, sua principal arma, é o antídoto para as trevas.

O Sidônio do Planalto terá de usar inteligência e sagacidade –e quem sabe um pouco da sabedoria de Baal– para vencer as batalhas de uma campanha eleitoral que já está nas ruas.

Até aqui, vimos a repetição de erros como a tentativa de calar opositores. O Prerrogativas, grupo de advogados que comeu o pão que o diabo amassou na Lava Jato, agora se tornou punitivista e quer cassar Nikolas Ferreira usando os mesmos métodos que tanto condenaram. O governo mandou a Polícia Federal investigar opositores acusados de disseminarem fake news contra o Pix e já investiga o deputado Marcel van Hattem por criticar um delegado.

Este tipo de reação é a anticomunicação política. Vai dar muito trabalho a Sidônio Palmeira, porque não é perseguindo, amordaçando e vitimizando opositores que o governo ganhará a tão desejada popularidade. Lula 3 não tem ao seu lado gente capaz de apontar erros, o famoso ministério do Vai dar Merda a que costumava se referir o ex-deputado Miro Teixeira.

Este é o caminho mais curto para multidões tomarem as ruas em protesto, seja a avenida Paulista ou a Atlântica, o Eixão de Brasília ou a Boca Maldita de Curitiba. Acabou aquele tempo em que se venciam eleições com um saco de dinheiro numa mão e um chicote na outra. Agora, elas são ganhas com um celular numa mão e uma comunicação política eficiente na cabeça. A força bruta, como vemos na Venezuela, é o caminho mais curto para a decadência, a impopularidade e a rejeição.

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