ACM, o ajudante de Irmã Dulce

Por Jorge Gauthier 

“Eu nunca estive em posição de dizer não a ela. Não era possível porque ela chegava com aquela doçura capaz de desarmar o coração mais duro. Muitas vezes ela me abraçou e acariciou com ternura e eu conhecia o interesse que ela tinha em ajudar aos pobres”. Com essas palavras, no ano 2000, ex-governador da Bahia, ACM sintetizou sua relação com Irmã Dulce em depoimento para o processo de beatificação da freira no Vaticano. Ele foi, durante sua vida pública especialmente nos seus três mandatos como governador, um dos políticos que mais ouviu os clamores da freira.

ACM, a quem Dulce chamava de Antonio Carlos, desapropriou em 1979 terrenos da falida fábrica de tecidos da Companhia Empório Industrial do Norte para que fosse feita a ampliação do Hospital Santo Antônio, no Largo de Roma.

Irmã Dulce, ACM e Ângelo Calmon no Hospital Santo Antonio (Foto: Osid/Divulgação)

ACM integrou – a pedido da freira – uma grande frente com apoio jurídico para que o terreno pudesse virar um hospital maior. Segundo relata Maria Rita Pontes, sobrinha da freira  no livro Irmã Dulce dos Pobres (17ª edição, 2011), ACM com o auxílio do advogado Phidias Martins Jr conseguiu que o terreno fosse desapropriado pelas dívidas que a fábrica tinha e que o governo da Bahia pudesse reclamar o débito e conseguisse pegar o terreno para ser doado à Dulce.

“Reza a lenda que naquele dia ACM disse, em tom de brincadeira, ‘Irmã Dulce pode invadir o terreno que ele agora é seu’. Teria sido o empurrãozinho para tudo se ajeitar mais rápido. Irmã Dulce não tinha partido, mas ACM a ajudou de uma forma extraordinária. Ela nunca subiu em um palanque dele. Contudo, era uma figura a quem ela sempre recorria. Ele conseguiu que ela fizesse campanhas publicitárias e ganhasse mais visibilidade nacional. Essas ações de mídia se reverteram em muitas doações”, ressalta Ângelo Calmon de Sá, empresário e dono do extinto Banco Econômico e atualmente conselheiro das Osid.

(Foto: Osid/Divulgação)

No dia da morte de Dulce, ACM era governador do estado e seguiu a pé o cortejo fúnebre do Hospital Santo Antônio, no Largo de Roma, até a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, no Comércio.

“Temos que lutar para manter o espírito da obra de Irmã Dulce. Perdemos nossa grande santa e eu perdi uma grande amiga, que sempre me acompanhou em minha vida pública e me conhecia muito bem. Com Irmã Dulce ausente, é uma obrigação do governo redobrar esforços. Era ela quem conseguia tudo isso para a Bahia, nessa obra notável em todo o Brasil”, declarou ACM, em matéria publicada no jornal Correio da Bahia, em 14 de março de 1992.

ACM tinha uma relação de profunda admiração pela religiosa. “Ele sempre olhava nos olhos da freira e estava disposto a ajudar. Meu pai tinha uma relação de respeito e admiração por ela muito grande. Ele sempre buscou convênios e formas de ajudar a ela no propósito que ela tinha de ajudar ao próximo. Visitei Dulce com meu pai algumas vezes e via que eles tinham uma proximidade muito grande. Ela era uma pessoa admirável e ele confiava e acreditava no trabalho que ela fazia. Ele era um benemérito das Osid e, por inspiração dele, a Rede Bahia começou a ajudar e a prestigiar as Obras. Foi um pedido dele e continuamos  dando esse apoio”,  lembra o  presidente do conselho da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior.

Irmã Dulce com ACM no-Hospital Santo Antonio (Foto: Osid/Divulgação)

Ao CORREIO, em 19 de maio de 2019, a sobrinha de Irmã Dulce, Maria Rita Lopes Pontes,   destacou que mesmo após a morte de Dulce o ex-governador seguiu apoiando as obras. “Ele foi um dos meus grandes conselheiros no início. Sempre me dizia que eu não deveria me distanciar da igreja. Talvez ele já sentisse que ela iria virar santa”, rememorou Maria Rita.

O projeto Pelos Olhos de Dulce tem o oferecimento do jornal CORREIO e patrocínio do Hapvida

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