A cada nova prova e depoimento, os policiais da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) reconstituem o histórico das possíveis vítimas do advogado Roberto Malvar Paz, de 63 anos, preso na quarta-feira e suspeito de fazer parte de uma rede de pedofilia. Já foram apontadas pelo menos sete crianças que sofreram abusos. Duas delas teriam sido levadas até ele pela professora Tatiana Mara Araújo, de 39 anos, que também foi presa.
A própria presa relatou pelo menos cinco casos. Em novo depoimento dado à polícia, na tarde de quinta-feira, ela diz que o advogado contara a ela sobre as menores de idade com as quais tivera algum tipo de relação sexual. Segundo a professora, as vítimas de Roberto foram a filha de um vizinho — ela não precisa em que bairro o advogado morava à época — duas filhas de uma empregada, uma menina de rua que lhe pedira ajuda e uma criança de 2 anos.
Esta última, segundo Tatiana, era uma menina da qual tomava conta uma mulher que frequentava o escritório do advogado. De acordo com o relato da professora, Roberto contou que criança colocou a boca em seu pênis.
A DCAV também avança na apuração das crianças que teriam sido aliciadas por Tatiana. Já são pelo menos dois casos. Ontem, os policiais descobriram que a professora também levou ao advogado uma menina de 10 anos, em 2004. Foram encontradas fotos da criança no escritório de Roberto, fazendo sexo oral nele. A professora estava presente.
O outro episódio de aliciamento ocorreu em 2009, quando Tatiana levou uma garota de 9 anos para ter relações com o advogado. Em depoimento à polícia, a professora disse ter recebido cerca de R$ 100 pelo serviço. Ela relatou ainda que conheceu Roberto quando era garota de programa.
— Aos poucos, estamos traçando o perfil de quem são esses dois. Mas já fica claro que ele é uma pessoa pervertida, e ela se aproveitava disso para ganhar dinheiro — explicou a delegada Cristiana Bento, titular da especializada.
Tramando para aliciamento
Ontem, a mãe de uma menina de 4 anos, aluna da creche na qual Tatiana era professora, prestou depoimento na DCAV. A delegada Cristiana Bento acredita que a presa estava tramando para tentar aliciar a criança. Numa troca de mensagens entre o advogado e a professora, ele pede que a comparsa leve a garota até sua casa. Tatiana promete fazer o que ele quer.
A mãe da menina relatou à polícia que Tatiana estava muito próxima dela. Além disso, contou ter sido abordada pela professora recentemente. Tatiana disse desconfiar que o marido da mulher estava abusando da própria filha. A presa pediu que a mãe não contasse sobre isso para a diretora da creche.
Em seu depoimento, Tatiana alegou realmente suspeitar dos abusos do pai contra a criança, e alegou que a dona da creche sabia disso.
— Ela provavelmente inventou essa história para poder se aproximar da mãe e preparar tudo para levar a menina até o Roberto. Porque, caso a menina falasse algo que desse a entender que estava sofrendo qualquer tipo de abuso, a mãe logo pensaria que o pai era o responsável — explicou a delegada.
A dona da creche negou, em relato à polícia, que soubesse do caso, como disse Tatiana.
Procurado pelo EXTRA, o advogado de Roberto, Francisco Ortigão, disse que não tem como se manifestar sobre o depoimento de Tatiana pois não teve acesso ao documento.
— Eu não posso comentar nada sobre o que ela disse, pois realmente ainda não tive acesso. O que posso falar é que meu cliente relatou que teve contato com Tatiana em razão apenas de sua atuação como advogado. A relação entre eles foi de advogado e cliente. Isso é o que sei. A posição da defesa é de que temos que agir com cautela num caso delicado para que erros judiciários não sejam cometidos — afirmou.
Em depoimento, Roberto negou todas as acusações contra ele. teve a prisão em flagrante convertida em preventiva pela Justiça do Rio. Ao negar o pedido de relaxamento feito pela defesa do advogado, o juiz José Mattos Couto justificou a necessidade de se manter o suspeito sob custódia para a garantia da ordem pública e por conveniência da instrução criminal, já que a concessão de liberdade poderia constranger as crianças e seus familiares a depor em juízo.
Transferência
Ontem, a professora foi transferida da Dcav para o Complexo de Gericinó. Antes, passaria pelo Instituto Médico Legal (IML). As investigações apontam que Tatiana, professora em uma creche na Baixada Fluminense, enviava fotografias dos alunos nus os seminus para Roberto.
A polícia já identificou outros dois estabelecimentos de ensino onde a mulher trabalhou e fará diligências para tentar identificar outras crianças que possam ter sido vítimas da dupla.Já se sabe, por exemplo, que pelo menos duas vítimas que aparecem em dezenas de fotografias apreendidas pela polícia no escritório de Roberto, no Centro do Rio, não estudavam na creche em que Tatiana trabalhava atualmente.