Agressão, racismo e transfobia: estudantes brigam na Ufba

Mulher teria dito que “preto só serve para vender maconha” e aluna trans era “marginal de saia”

Por: Carol Neves e vitor Rocha

Confusão aconteceu no PAC

Confusão aconteceu no PAC Crédito: Reprodução

Uma confusão entre alunos aconteceu na tarde desta terça-feira (19), no Pavilhão de Aulas do Canela (PAC), da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A briga, que começou por conta de alimentação, acabou descambando para agressões físicas e teve ainda xingamentos racistas e transfóbicos, segundo testemunhas.

O desentendimento começou no Ponto de Distribuição de Alimentos da universidade e prosseguiu até o PAC, onde, em meio a um grupo observando a situação, a aluna avança na direção da suposta agressora, a empurra e joga no chão. Um segurança e outras pessoas que testemunhavam o momento tentam apartar as duas.

De acordo com Maria Costa, vice-secretária de Organização do Diretório Central dos Estudantes (DCE-Ufba), uma estudante do curso de Fonoaudiologia iniciou xingamentos motivados pela falta de fichas no Restaurante Universitário (RU). “No RU, há uma separação entre fichas de bolsistas e não bolsistas. Quando as fichas dos não bolsistas acabaram, essa estudante passou a proferir injúrias raciais. Ela afirmou que os bolsistas se ‘alimentam de migalhas’ e que ‘preto só está na universidade para vender maconha'”, relatou.

Maria também disse que a agressora teria dito a um estudante negro que ele “deveria voltar para o navio negreiro para receber chicotadas” e “agradecer” aos colonizadores por trazerem os negros ao Brasil. Além disso, uma estudante transexual também teria sido alvo de transfobia da acusada, sendo chamada de “marginal de saia”. A vice-secretária informou que o DCE, junto com as vítimas, a agressora e representantes da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (Proae) e do PAC, registraram a ocorrência na delegacia. A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil para confirmar a declaração, mas não obteve retorno até o momento.

Em nota, a Ufba lamentou o episódio. “Os administradores do PAC e o vigilante presente interferiram para conter os ânimos e tomar as providências necessárias, que incluíram o encaminhamento dos envolvidos às autoridades policiais competentes”, diz o texto.

A universidade ainda afirma que após apuração, os envolvidos estão sujeitos a punição na instituição. “A Ufba é uma instituição de ensino público superior reconhecidamente inclusiva, diversa e predominantemente negra, jovem e feminina. Assim, manifestações de intolerância, racismo ou violência física agridem igualmente aos envolvidos e à instituição, ao próprio espírito da universidade, devendo os fatos ser rigorosamente apurados e, uma vez devidamente comprovados, punidos conforme as leis do país e os regulamentos da Universidade Federal da Bahia”, acrescentou.

Denúncias devem ser encaminhadas pelos canais institucionais. “As denúncias são apuradas e os processos transcorrem de modo a assegurar o amplo direito de defesa dos acusados, assim como preservando-se as partes envolvidas, até o final do devido processo legal”.

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