Agricultores familiares já sentem o impacto das baixas temperaturas que atingiram a região do São Francisco nas últimas semanas. Na Zona Rural de Petrolina, o frio provocou a quebra de safra, o surgimento de pragas e uma perca de 70% da produção de culturas como a acerola.
“A situação está mais ou menos. Estamos colhendo pouco, o suficiente pelo menos para pagar a água [da roça]. Em 2016, chegávamos a 40, 50 caixas por colheita/dia, e este ano caiu para 10, 12 no máximo. Se a produção é pouca, o dinheiro reduz; o problema é que as contas não deixam de chegar”, diz o produtor familiar, Isaias Alves, que cultiva acerola em um hectare no Núcleo 4 do Projeto Senador Nilo Coelho.
Segundo ele, a queda de produção não causou até agora um aumento no valor do produto, o que tem intensificado as despesas. “As empresas que pegam acerola para fazer polpa, compram por R$ 28 a caixa, se você tiver alguém ajudando na colheita, o custo é de R$ 8 a unidade; então sobram R$ 20 para despesas da roça, da casa, de tudo”, criticou.
Mas mesmo com a temperatura mais baixa na região, fontes ouvidas pela reportagem afirmam que vários fatores contribuíram para a perda de produção. Para o agrometeorologista da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Júlio César de Melo Jr, a elevada nebulosidade, a pouca irradiação solar e a redução de insetos polinizadores podem ter influência num cultivo. “Esse fato [quebra de safra] está ocorrendo também com outras culturas aqui no Vale [do São Francisco]”, explicou ele ao lembrar que as plantações da região não são adaptadas ao frio.
Problemas e soluções
Outro problema encontrado pelos agricultores familiares é a falta de experiência em lidar com a colheita nesse período. De acordo com Melo Jr, uma solução seria as casas de vegetação. “Embora as extensões das roças e os invernadouros sejam muito caros e fora da realidade desses produtores”, salientou.
Moisés Nascimento, que também é agricultor familiar no projeto N4, casado e pai de duas crianças, disse que vem acompanhando o clima nos noticiários e que pretende reiniciar a produção no mês que vem. “Tem uma previsão aí de que a partir de 15 de agosto o clima volta ao normal, e a nossa expectativa é começar a adubação fuliar”, adiantou.
Segundo Isália Damacena, presidente do Sindicato dos Agricultores Familiares de Petrolina (Sintraf), que tem observado a quebra de safra, os problemas da categoria não estão sendo acompanhados pelo Poder Público ou órgãos de Estado. “Não vimos nem mesmo pesquisadores indo aos projetos analisar os resultados das baixas temperaturas, para nos ajudar nas estratégias e previsões para os próximos meses ou ano”, concluiu ela.