Aleluia cresce como nome da oposição
Osvaldo Lyra
Político habilidoso e gestor experiente, o democrata diz que a gestão do prefeito ACM Neto será a maior vitrine a ser usada pelo partido e seus aliados na próxima eleição. Para ele, a população escolherá se quer manter a Bahia no ritmo que está ou se quer dar uma guinada nos seus destinos. Vale à pena conferir.
Tribuna da Bahia – O primeiro ano do governo ACM Neto chega ao fim. Como avalia o trabalho na área da mobilidade?
José Carlos Aleluia – Nós demos prioridade, este ano, para reorganizar as linhas de transporte público que estão em andamento. Ainda não temos resultados palpáveis, mas já melhoramos a idade média da frota e foi possível conceder dois grandes benefícios para os usuários do transporte público. O primeiro, que o prefeito ACM Neto decretou, foi o “Domingo é Meia”, que permite que o trabalhador vá durante os fins de semana cumprir uma jornada de lazer com sua família pagando a metade. O segundo é o “Bilhete Único” que, junto com o Domingo é Meia, tem causado uma grande mudança no sistema. Vou dar um exemplo do que acontece: um casal que foi à praia de Itapuã em janeiro de 2013, quando nós assumimos, pagou para ir e voltar R$22,40. Este mesmo casal se for à praia agora, a qualquer domingo, paga apenas R$5,80. É uma combinação que exige que as empresas de ônibus sejam mais eficientes. Por isso nós determinamos que elas operassem em consórcios para que não se tenha, em alguns lugares da cidade, uma concentração muito grande de ônibus, que prejudicam o trânsito dos próprios ônibus.
Tribuna – Aonde está o problema?
Aleluia – O problema é que todas as linhas queriam passar no Iguatemi, na Barra, nos lugares onde tinham passageiros para embarcar. Nós estamos rearrumando as linhas de ônibus e as pessoas vão sentir uma melhoria significativa no transporte público de Salvador. Isso é fundamental. Além de termos atuado na idade da frota, na fiscalização e nas melhorias do trânsito, mas sempre dando ênfase ao transporte público. Nós fizemos, por exemplo, agora, uma intervenção na Pituba, na Av. Paulo VI, com sucesso. É um trecho pequeno, mas reduzimos a menos da metade o tempo médio do percurso, tanto dos carros quanto dos ônibus, estabelecendo a linha exclusiva de ônibus.
Tribuna – Quais eram os maiores gargalos que já foram retirados do trânsito para dar mais fluidez na cidade?
Aleluia – Nós fizemos uma intervenção importante na Rótula do Abacaxi, que melhorou bastante. Trabalhamos com gestão na Av. Tancredo Neves, rearrumando o fluxo de linhas e implantando passarelas. Melhoramos a Magalhães Neto e a Paulo VI. Nós temos feito um trabalho de fiscalização que tem que ser mantido porque algumas obras ainda não foram feitas, como em Cajazeiras. O prefeito está construindo dois acessos: um que sai de Águas Claras com novo acesso, melhorando a acessibilidade, e o outro com acesso direto para Cajazeiras XI.
Tribuna – Tem o próprio cumprimento de lei de carga e descarga que ajuda no processo…
Aleluia – Isso mesmo. Nós implantamos a questão do ordenamento, que melhorou bastante, ou seja, carro não pode atrapalhar fluxo de carro, rua não é para estacionamento. Estacionamento tem que ser em lugar permitido e rotativo. Isso melhorou muito, não dá para perceber, mas hoje, o ordenamento do estacionamento melhorou bastante o trânsito. Além de tudo, o cumprimento da lei de carga e descarga. É uma lei que o governo passado já tinha tentado implantar, mas não deu certo. No entanto, agora fomos cuidadosos. Negociamos com a indústria, com o comércio e distribuidores. Foi um trabalho longo, feito junto com as federações, as associações e empresários no sentido de que todos mudassem os tipos de equipamento que operam na cidade, agora são os chamados vulk, e os horários. Então, houve uma melhoria significativa por ordenar o uso das vias públicas, tanto pelo transporte privado, individual, quanto pelo transporte de carga, que é importante, a cidade não pode deixar de ser suprida, e pelo transporte público.
Tribuna – A licitação dos ônibus corre algum risco de não ser lançada em janeiro, como previsto? A pressão é grande?
Aleluia – Eu acho que não. A sociedade está querendo, mas existem alguns grupos organizados que imaginam coisas que não são factíveis. Quando você diz que o seu movimento é de passe livre, evidentemente que é um movimento socialista. O passe livre é uma coisa que não existe, na prática, em nenhuma cidade do porte de Salvador e nem no mundo. Portanto, se houvesse o passe livre, alguém teria que pagar a conta. É uma loucura política de alguns grupos, mas nós temos respeitado as opiniões, todo mundo tem direito de pensar assim, mas não é o que a maioria da sociedade pensa e quer. Inclusive, a maioria do Ministério Público quer que a licitação seja feita e nós temos trabalhado muito com o Ministério Público, com o Tribunal de Contas dos Municípios, temos ouvido a sociedade. Claro que, dentro da sociedade, existem pessoas diferentes.
Tribuna – E o que a cidade pode esperar desse reordenamento do sistema?
Aleluia – Que ele vai ser integrado. Era um sistema ponto a ponto, que se transformou em uma “macarronada”. Agora vai ser um sistema racional, onde o usuário vai sair do próprio bairro com uma frequência maior de ônibus. O passageiro pode não atingir o ponto final, mas poderá fazer uma integração. Por isso que é importante o bilhete único para essa integração que, além de economizar para o trabalhador, tira o empecilho que as pequenas empresas tinham. A pequena empresa, por exemplo, não queria contratar um trabalhador que morasse em bairros distantes porque não queria dar o vale-transporte de “duas pernas”. Agora podem contratar e vão contratar mais, dando acesso ao trabalho. Uma série de efeitos colaterais positivos está acontecendo, mas isso só é possível reordenando o sistema.
Tribuna – O senhor acredita que o ex-governador Paulo Souto aceitará o desafio de disputar o governo?
Aleluia – Paulo Souto é um grande nome, ele governou a Bahia duas vezes, então tem o respeito e o carinho dos companheiros do partido, da oposição e da opinião pública. Na hipótese dele aceitar, é um nome que honraria a oposição. Eu, dentro do mesmo partido de Paulo Souto, coloco o meu nome não para disputar com ele, mas porque o partido tem legitimidade para propor a participação na chapa majoritária. O Democratas foi o partido que teve mais votos para prefeito na última eleição. É bom lembrar, nós tivemos mais votos do que o partido do governador. Além de tudo, nós vencemos a eleição em Salvador, maior cidade do Estado, vencemos em Feira de Santana que é a segunda maior cidade do Estado, e quase vencemos em Itabuna, perdemos por muito pouco. Esse conjunto nos deu uma boa posição. Além disso, em uma democracia, as duas figuras de maior destaque são o chefe do governo, que é o Jaques Wagner, e o prefeito ACM Neto, que governa o segundo maior orçamento do Estado. Eu coloco o meu nome e faço isso porque tenho muito desejo, disposição e energia para governar a Bahia, mas não para dar continuidade ao projeto que está aí há sete anos. O atual governo é conhecido de todos, eu não preciso criticar. A eleição do ano que vem tem um candidato que é a imagem do governo atual, com o chefe da Casa Civil. Portanto, tem uma participação em tudo que está sendo feito e a população dirá se quer que a Bahia continue do jeito que está ou se quer construir uma nova Bahia. Eu quero liderar o projeto da nova Bahia.
Tribuna – O prefeito ACM Neto deu entrevista recentemente e não citou o senhor como candidato. Está no páreo?
Aleluia – Estou no páreo e muito empenhado em ser o candidato ao governo pela oposição. Não admito nenhuma outra hipótese no momento. Este ano de 2013 foi integralmente dedicado ao trabalho, tanto que muitas das inaugurações do prefeito, muito interessantes sob o ponto de vista político, eu não pude participar. O prefeito compreende que é mais importante para Salvador eu estar trabalhando na secretaria, como passei a manhã inteira aqui produzindo. Enquanto isso, Neto está, junto com outros secretários, inaugurando coisas que não posso participar. A minha prioridade é trabalhar para disputar o governo do Estado.
Tribuna – Pode continuar na secretaria? Cogita ficar na prefeitura para se cacifar e suceder ACM Neto?
Aleluia – Não, esses planejamentos de longo prazo, em política, não dão certo. Você faz planejamento de longo prazo na empresa, na administração pública, na cidade, na vida pessoal, mas a política é comandada por tantas variáveis, inclusive as variáveis de ordem pessoal, que não deve ser objeto de planejamento de dois passos. É a mesma coisa que o jogador de xadrez fazer dois movimentos e ir tomar café. Certamente ele vai perder a partida. Nem mesmo os grandes mestres fazem esse movimento. Nada de pensar em 2016, eu tenho a hipótese de permanecer onde estou: ser candidato a governador ou posso outra coisa qualquer. Uma coisa é certa, continuo na política, embora tenha me dedicado integralmente à administração.
Tribuna – Quais devem ser os critérios, na visão do senhor, para definir o candidato das oposições?
Aleluia – Deve ser colocado o que melhor possa reunir os desejos dos partidos que vão compor essa aliança. É importante que não seja o meu ou nenhum outro partido impondo, mas seja alguém que traga um projeto desse arco de aliança que governa Salvador e Feira de Santana. Esse arco de aliança deve ter um candidato único.
Tribuna – Como vê a possibilidade de aproximação com o PP?
Aleluia – Não podemos fechar nenhuma possibilidade. O único partido com o qual não posso enxergar aliança é o núcleo duro da esquerda. O PT é o núcleo duro do governo. Com esse não vou imaginar aliança porque seria pensar uma candidatura única e em política isso não está certo. Nós não pensamos e não governamos igual a eles. Em um ano de governo de ACM Neto dá para ver que há uma diferença muito grande na forma de governar. A maneira como eles governaram Salvador, o prefeito anterior foi sempre aliado do governo do Estado e fez o que fez com a cidade. Wagner está há sete anos governando o Estado e essa semana ele falou em um discurso que o ano de 2013 foi de crise. Portanto, é a forma de governar que é diferente da nossa. O prefeito ACM Neto arrumou a casa, tem programas sociais efetivos na área habitacional, na área de legalização das habitações, na área de infraestrutura urbana, na área de turismo, na área de lazer, tudo para recolocar Salvador em destaque no cenário nacional. Este Réveillon, por exemplo, o prefeito recoloca a cidade no cenário do entretenimento nacional. As pessoas não vinham a Salvador por causa de uma festa, exceto o Carnaval, que tinha um pouco de frequência, e o grande obstáculo para isso é a violência. Por isso que é fundamental o novo projeto para o Estado. A violência é responsabilidade do Estado.
Tribuna – A segurança pública vai ser o calcanhar de Aquiles do governo?
Aleluia – Eu acho que a prioridades ara a Bahia deve ser segurança pública, não dá para continuar com o nível de criminalidade, fato que levou a Bahia a ser o Estado campeão em criminalidade. O crime ficou mais forte do que o governo, o governo perdeu o apoio das polícias, que não foram tratadas como deviam. O nosso projeto é de valorização das polícias, dando a elas capacidade operacional, fazer com que trabalhem de forma resolutiva e em conjunto para combater o crime em todos os níveis. Claro que combater o crime significa ter uma atuação forte na educação e na criação de oportunidades para os jovens. Salvador tem cerca de 20% dos jovens que não estudam e não trabalham. Portanto, quem não estuda e não trabalha e já passou da adolescência é um problema social. É preciso dar oportunidades de trabalho, de lazer, de estudo, ir ao encontro dessa juventude para que possamos ter um governo que realmente se preocupa com a juventude e não apenas com discurso. Tudo isso, além da saúde, que é um problema também. A eficiência da saúde pública precisa melhorar. Esse é o tripé de qualquer governo. Falar em questão orçamentária, isso tudo arruma a casa, mas a prioridade tem que ser essas três coisas.
Tribuna – O candidato Rui Costa, do PT, terá dificuldade de se viabilizar ou é um nome que será facilmente abatido pelas oposições?
Aleluia – Eu não acho que eleição é fácil, nunca é fácil. Quem entra em uma eleição achando que é fácil pode ter o revés que teve o Atlético Mineiro, agora, no Marrocos. O Atlético achou que aquela seria uma disputa onde eles já estavam preocupados com o Bayern de Munique. Quem entrar na campanha tem que entrar preocupado, fazer uma campanha séria, de bom nível. É isso que vamos fazer, vamos discutir os problemas do Estado, vamos mostrar que temos um projeto diferente, melhor para as pessoas, um projeto para as pessoas. Não é para as corporações, não é para grupos, é um projeto para os baianos. Eu acredito que o governo do Estado vai defender o legado de Wagner, é uma obrigação do governo, mas nós temos que mostrar que somos capazes de fazer um projeto melhor. Aí, é importante comparar o que ACM Neto está fazendo em Salvador, a equipe que ele montou, os resultados que conseguiu e o fato de chegar o fim do ano com a casa arrumada, com resultados concretos na rua. Todo mundo sente que Salvador, hoje, respira um novo ar.
Tribuna – O que vai estar em discussão é a capacidade gerencial do PT?
Aleluia – A capacidade de cuidar das pessoas. Governar é cuidar das pessoas, o que está em discussão é isso, cuidar das pessoas. Fazer com que o baiano volte a dormir tranquilo, volte a sair de casa tranquilo, volte a trabalhar tranquilo. Qual é o maior patrimônio de uma família? São os membros da família, os filhos, sobretudo. É preciso ter certeza que aquele patrimônio vai ser valorizado, que o filho vai ser valorizado, que ele vai ter boa escola, que vai ter saúde quando precisar, que vai ter segurança, que vai para a escola e volta para casa. Quando esse filho chegar à adolescência e tiver que sair, saia a pé e ninguém vai roubar o tênis dele.
Tribuna – Voltando à política, o PSB deu claros sinais de distanciamento do PT. Acredita que Lídice vai tirar votos de Rui?
Aleluia – Lídice vai trabalhar para tentar fazer um projeto distinto, mas ela também terá que defender o legado de Wagner porque ela participou do governo Wagner o tempo todo e ainda participa. Eu tenho grande respeito pela senadora e o projeto dela tem, no mínimo, uma grande semelhança com o governo Wagner. Nós não, o nosso projeto não é o governo Wagner, nossa postura não é do governo Wagner. Portanto, a senadora Lídice tem que defender o Wagner também. Isso é inevitável.
Tribuna – O senhor acredita que o ex-ministro Geddel Vieira Lima vai marchar com as oposições ou há risco de o PMDB mudar os rumos?
Aleluia – Na última conversa que tive com Geddel, durante um almoço em Itabuna, declarei que o apoiaria, caso ele fosse candidato, e ele declarou que me apoiaria também se eu fosse candidato. Nós estamos trabalhando como um conjunto de pessoas que querem um projeto novo para Salvador, para uma nova Bahia. Eu acredito muito que vamos marchar juntos.
Tribuna – A demora da oposição em se posicionar, em apresentar um candidato pode ser uma estratégia equivocada?
Aleluia – Não, é correta. Estou lendo um livro que se chama Davi e Golias. Ele começa descrevendo como foi o duelo entre Davi e Golias, de acordo com a mitologia. Golias era um gladiador com todo o aparato de defesa e era tão forte que tinha que ter um auxiliar para carregar a armadura com a qual ele se deslocava, com armas muito letais para a época. E Davi era um jovem guerreiro que foi a campo e usou uma tática distinta, por isso ganhou. Ele percebeu que Golias não enxergava bem, era muito pesado, tinha que carregar muitas coisas. Então, nós não temos que usar a mesma tática do governo porque não queremos governar da mesma maneira que ele governa e nem temos a estrutura que ele tem. Nós vamos vencer pela nossa capacidade de mostrar uma forma diferente de servir às pessoas.
Colaboraram: Fernanda Chagas e João Arthur Alves