Alunos usam chapéus para se proteger em sala de aula sem teto após passagem de ciclone em Moçambique
Já parou para pensar como é a recuperação de uma cidade após uma tragédia? Cada dia é um novo desafio. Tem sido assim em Beira, segunda maior cidade de Moçambique. A escola secundária Marocanhe foi uma das atingidas pelos ventos de 170 km/h do ciclone Idai. As paredes do educandário resistiram, mas o teto não. Dez dias depois da tragédia, os professores retomaram as atividades em salas de aulas descobertas.
Para se proteger do sol intenso, os estudantes usam chapéus, pedaços de tecido e até guarda-chuvas dentro das quatro paredes da sala durante as aulas. A escola pública que fica no bairro de Muavi, bem perto da praia, possui mais de 2 mil alunos e chegou a proibir o uso dos adereços, mas precisaram voltar atrás.
“Em princípio, proibíamos os alunos de usarem chapéus, mas depois fomos ver que não havia condições e passamos a aceitar tudo isso. Liberamos também para os docentes. A duração das aulas, que era de 45 minutos, também foi reduzida para 25”, contou ao G1 o diretor e professor de filosofia da escola, Abu Bacar Abdula.
A situação difícil da escola Marocanhe é apenas uma entre as 2,9 mil que sofreram as consequências do ciclone Idai, segundo a Unicef. “É muito triste esse cenário, mas não temos outra opção. Precisamos prosseguir com o programa nacional de ensino. Os professores preferem dar continuidade e os alunos querem aprender. Eles vêm, participam como podem. Estão com muita vontade de aprender”, afirma o diretor.
A tragédia
Os ventos de 170 km/h do ciclone Idai e inundações, que atingiram Moçambique, causaram destruição total em 11 mil casas entre a noite do dia 14 e a madrugada do dia 15 de março.
A ONU estima que cerca de 1,8 milhão de pessoas foram afetadas de alguma maneira em Moçambique, sendo que mais de 460 pessoas morreram. O número de mortes já supera 700 se somado o impacto do ciclone nos vizinhos Zimbábue e Malaui.
A direção da escola recebeu a notificação da morte de dois alunos, mas teme que esse número aumente, pois até as telecomunicações ainda não foram totalmente restabelecidas.