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Em 469 anos, São Paulo passou por diversas transformações até se tonar a cidade que conhecemos hoje. Embora seja uma das capitais mais modernas do país, a “terra da garoa” também é lar de edifícios históricos que eternizam a memória coletiva em sua arquitetura. A preservação desses prédios e os novos usos atribuídos a eles possibilitam uma nova rotina para construções centenárias
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A atual sede da FAU-Maranhão, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, localizado na rua Maranhão, no bairro da Consolação, já foi residência do fazendeiro, industrial e comerciante Álvares Penteado. O edifício foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) em 1978 e hoje abriga a faculdade
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Projetado pelo arquiteto sueco Carlos Ekman em 1902, o edifício Vila Penteado é um dos últimos remanescentes do estilo art nouveau na cidade de São Paulo. Como disse Angelo Filardo, arquiteto e professor da FAU- USP, “são as construções que o passado nos legou que nos fazem lembrar da nossa história”, evidenciando a importância da preservação do patrimônio material na cultura e identidade da sociedade
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O condomínio Oscar Rodrigues, localizado na avenida São João, número 314, no centro histórico de São Paulo, foi construído em 1928. Apesar do tempo, suas características arquitetônicas foram mantidas e, embora ainda seja um prédio residencial, sua fachada abriga pequenas e médias empresas de serviços e comércios – o que ressalta a sinergia entre o novo e o antigo
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O edifício foi tombado em 1984 pelo Conpresp, o conselho municipal de preservação do patrimônio histórico. O professor Angelo Filardo explica que esse procedimento serve para “proteger imóveis de interesse histórico-cultural contra pressões do mercado imobiliário, que em nossa cidade são muito fortes”. A importância de qualquer preservação é manter o registro de atividades, técnicas, artefatos e culturas do passado para que possam servir de referência. “Na medida em que você faz a preservação e conservação desses prédios, você está deixando o registro, não só para as gerações atuais, mas também para as futuras, de como se vivia naquela época”, destaca Jose Geraldo Simões Junior, arquiteto e professor da FAU-Mackenzie
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A antiga casa da família do Barão de Bocaina, construída em 1911, na época da implantação da avenida Paulista, hoje divide o terreno de 2,1 mil metros quadrados com um prédio comercial de 17 andares. Tombado pelo governo em 2012, o casarão foi restaurado pela Stan Incorporadora, que preservou o lugar com as características originais. Já as construções acrescentadas durante reformas na década de 1940 foram demolidos para dar lugar ao novo edifício revestido de vidros laminados, que servem de espelho para o casarão. Foi mantida a área ajardinada que possui espécies originais como pau-brasil, figueiras, jabuticabeiras e palmeiras imperiais. A casa que pertenceu a Francisco de Paula Vicente de Azevedo, filho do Barão de Bocaina, hoje abre portas para o público, que pode conhecer o restaurante que funciona no local. “Dar um uso ao bem tombado que seja compatível com a preservação é fundamental para que o tombamento se sustente ao longo do tempo. Imóveis sem uso caminham rapidamente para a ruína”, afirma o arquiteto Angelo Filardo
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Localizada na avenida Paulista, a milésima franquia da marca McDonald´s do Brasil, inaugurada em 2019, já foi casa de uma família de imigrantes na década de 40. A origem do casarão começa com o casal Maria e Wagih Hannud. Ela, filha de pai sírio e mãe italiana. Ele, imigrante sírio e comerciante da região da 25 de Março. O sonho de comprar uma casa na Avenida Paulista se tornou possível quando um antigo chalé suíço foi colocado à venda. O local foi demolido e deu espaço para a construção do Casarão Hannud. A obra levou quase 5 anos para ser completada e seguiu exatamente os planos que Maria tinha para o imóvel
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A família morou ali por muitos anos, até que o casal não conseguia mais se locomover com facilidade por conta das grandes escadarias, o que os fez mudar de casa. Após a saída, o casarão foi alugado para o banco Boston em 1996 e depois para o Itaú, até 2016. Depois do fim do contrato, o casarão tornou-se um local requisitado para eventos de grandes empresas. Por ser inicialmente casa de imigrantes, Angelo explica que, assim como este, muitos prédios tombados contam uma história que originalmente não é a do paulistano típico. “Esses imóveis, no entanto, contam a história da nossa cidade, e isso é importante para todos, mesmo que nossa memória coletiva seja fragmentada por histórias de vida muito díspares”, diz
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Inaugurado em 1924, o Palácio das Indústrias já foi galeria de exposições, Assembleia Legislativa, sede da Secretaria de Segurança Pública, sede da Prefeitura da Cidade de São Paulo e, desde 2009, abriga o museu Catavento, dedicado às Ciências e Tecnologias. Localizado no parque Dom Pedro II, no centro de São Paulo, desde 1982, o Palácio das Indústrias faz parte dos patrimônios históricos tombados pelo Condephaat, sendo reconhecido como um edifício que faz parte da histórica econômica, política e cultural de São Paulo
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Com estilo arquitetônico eclético, o prédio foi construído com o intuito de abrigar exposições relacionadas à indústria paulista e fazia parte do plano de renascimento da capital, com o objetivo de revitalizar a região, levando saneamento básico e melhorias. Hoje o lugar atrai principalmente o público infantil com exposições interativas que estimulam a criatividade
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Muito além da preservação de um patrimônio histórico, trata-se também da preservação da memória coletiva, já que esses prédios carregam parte da identidade de uma sociedade. Levam características, costumes, comportamento e um registro do passado. Como explica o professor Angelo Filardo, essa memória acaba sendo assimilada pelo paulistano. “As memórias do prédio acabaram sendo minhas memórias”, explica, referindo-se à população da cidade