Escolhido para assumir a Procuradoria-Geral da República com apoio de bolsonaristas durante sua sabatina no Senado Federal, Paulo Gonet se manifestou favorável à realização de buscas nos endereços do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e sua assessora. Os pedidos foram feitos pela Polícia Federal como um dos desdobramentos da investigação sobre a “Abin paralela” que teria sido montada durante o governo de Jair Bolsonaro para espionar desafetos políticos e auxiliar nos interesses do clã Bolsonaro.
Em seu parecer emitido na quinta-feira (25), Gonet aponta que a investigação reuniu elementos suficientes para justificar a operação policial envolvendo o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“A providência de busca e apreensão se mostra justificada, quanto ao sr. Carlos Bolsonaro e à sra. Luciana Almeida (assessora de Carlos), na medida em que se infere a causa provável do contexto espelhado na peça policial em apreço. Outros fatos mais, de ordem similar ao que a investigação mencionou, podem vir a ser desvendados como resultado da providência requerida”, afirmou o atual PGR em sua manifestação encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, que conduz a investigação.
Luciana Almeida foi a assessora de Carlos Bolsonaro que solicitou ao então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem (hoje deputado federal pelo PL-RJ), informações sobre inquéritos em andamento na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro que poderiam implicar o então presidente e seus filhos. A mensagem dela a uma auxiliar de Ramagem foi o principal elemento para justificar a operação envolvendo o vereador carioca.
Além disso, os investigadores também encontraram documentos impressos por Ramagem que listavam inquéritos eleitorais em andamento na PF no Rio de Janeiro em 2020 relativos a diferentes políticos.
‘Conservador raiz’
Antes de assumir a PGR, no fim do ano passado, Gonet foi alvo de críticas de movimentos progressistas e políticos de esquerda devido a sua postura considerada conservadora. A própria deputada federal Bia Kicis (PL-DF), uma das expoentes do bolsonarismo chegou a classificá-lo como “conservador raiz” e defendia sua nomeação para a PGR ainda durante o governo Bolsonaro. Ela, inclusive, comemorou a indicação feita por Lula e foi uma das parlamentares que acompanhou presencialmente a cerimônia de posse de Gonet na sede da PGR no ano passado.
Além dela, o também bolsonarista senador Marcos do Val (Podemos-ES) esteve presente na cerimônia de posse de Gonet.
Ao ser sabatinado pelos senadores no ano passado, Gonet chegou até a ser elogiado por parlamentares da oposição em alguns momentos e teve os questionamentos mais duros vindos de um parlamentar do PT, o senador capixaba Fabiano Contarato. Seu nome passou com folga, tanto na Comissão de Constituição de Justiça quanto no plenário do Senado, onde teve voto de 65 senadores.
Agora, pouco mais de um mês após tomar posse, ele defendeu a operação que inclui Carlos Bolsonaro como um dos destinatários das informações que eram levantadas pela “Abin paralela”.
Antes de assumir a PGR, Gonet atuou como vice-procurador-geral Eleitoral na gestão de Augusto Aras e ganhou notoriedade por se manifestar favorável à ação que tornou Bolsonaro inelegível no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Agora, porém, ele defendeu uma operação que representou um dos mais duros golpes ao clã Bolsonaro, que vê o cerco judicial se intensificar ainda mais neste começo de ano.
Em entrevista à CNN Brasil nesta segunda, o advogado de Carlos Bolsonaro, Antonio Carlos Fonseca, afirmou que as acusações contra seu cliente seriam uma “narrativa”. “Não tem ligação alguma (com a Abin). Criou-se essa narrativa em determinado momento, mas o vereador não tem nenhuma ligação, seja institucional, seja de acesso a informações. Nunca Teve. Isso é uma narrativa criada que não é a realidade”, afirmou o advogado.