Após chegada do VAR, Brasileiro supera a média de três pênaltis por rodada

De pênalti, Pikachu fez o gol da vitória do Vasco sobre o Fortaleza
De pênalti, Pikachu fez o gol da vitória do Vasco sobre o Fortaleza Foto: MARCELO THEOBALD / AGÊNCIA O GLOBO
Amanda Pinheiro

Você já viu essa cena algumas (ou muitas) vezes neste Campeonato Brasileiro: jogador cai na área, aparentemente sozinho, e nada é marcado. O VAR aciona o árbitro, que confere no replay e marca o pênalti. O lance pode variar, mas uma coisa é certa: os pênaltis estão se multiplicando nesta edição de Brasileirão.

Só na última rodada foram cinco, levando o número total a 85 em 26 rodadas, uma média de 3,2 por rodada — a maior dos últimos anos. No Brasileirão de 2018, quando ainda não havia a tecnologia do árbitro de vídeo, foram marcados 93 pênaltis, média de 2,44.

Além do árbitro de vídeo, o Brasileirão adotou uma série de mudanças nas regras determinadas neste ano pela International Board. Um item em especial pode ter colaborado para o aumento no número de penalidades. O toque não intencional com a mão passou a ser considerada faltoso quando ela ou braço estiverem acima do ombro ou quando houver aumento da distância de ambos em relação ao corpo de forma antinatural, o que amplia o espaço do atleta.

Regras novas à parte, o que causa maior polêmica mesmo é o VAR, no centro das atenções desde que passou a ser utilizado. Árbitro da final da Copa do Mundo de 1982 e ex-comentarista de arbitragem, Arnaldo Cezar Coelho não poupa críticas à tecnologia.

— Se o torcedor for ao Procon, pode reclamar de propaganda enganosa, porque o VAR está dando errado. Esse negócio (VAR) precisa ter um limite, porque é nocivo, um desastre. A finalidade dele é minimizar os erros e não aumentar. O futebol é praticado por humanos que, por sua vez, trabalham com contatos físicos. Agora, se eu estou no campo, próximo à jogada, e entendo que é pênalti e quem está em cima tem uma opinião contrária, como fica? — questiona Arnaldo.

Lances assim já aconteceram e geraram muita polêmica. No jogo entre Cruzeiro e Internacional, no Mineirão, o time mineiro teve um pênalti a seu favor que gerou muitas críticas.

— Ele (árbitro) acertou, o VAR errou e então ele errou também. Por que o VAR se meteu em um lance interpretativo? — questionou o goleiro do Internacional, Marcelo Lomba, na ocasião.

Câmera lenta pode ser vilã dos árbitros

O ex-árbitro Sálvio Spínola, comentarista de arbitragem do Grupo Globo, não é tão radical na opinião sobre a tecnologia quanto Arnaldo Cézar Coelho. Para ele, o VAR trouxe benefícios. A crítica de Sálvio está no uso exagerado do recurso.

— Costumo dizer que sou “VAR raiz”, porque ele precisa ser acionado somente para grandes decisões — opina.

O ex-juiz da Federação Paulista acredita que o alto número de pênaltis marcados passa pelo uso em excesso da câmera lenta na avaliação da jogadas. Ela facilita a percepção sobre o contato na jogada faltosa, mas pode induzir algumas interpretações.

— Acho que há exagero principalmente nos pênaltis. Alguns passariam despercebidos e nem seriam marcados caso não houvesse a câmera lenta. O vídeo não tem que comandar o jogo, apenas corrigir os erros. A tecnologia no esporte é necessária, porque o ser humano é limitado, mas quem interpreta o lance é o árbitro. Acredito que a CBF se equivocou ao implementar definitivamente essa ferramenta. Se tivesse utilizado de forma restrita e adaptando aos poucos seria melhor.

O VAR tem custo de R$ 51 mil por jogo. Em agosto, ao divulgar o balanço do uso da ferramenta no primeiro turno, a CBF apontou uma queda no número de erros capitais.

— Eu enxergo o copo meio cheio. O auxílio do VAR é indispensável hoje em dia — disse, na ocasião, LeonardoGaciba, presidente da Comissão de Arbitragem.

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