A corretora de imóveis Rejane Cândido não tinha notícias do filho Victor, de 20 anos, desde agosto. O rapaz, que já havia ficado desaparecido por 15 dias após um surto psicótico em 2014, saiu da casa em que viviam, no bairro Liberdade, na capital paulista, e não voltou mais. Desde então, a mulher, mãe de seis filhos, vinha travando uma batalha em busca do rapaz. Com o passar dos meses, a esperança de encontrá-lo ia se esvaindo. Tudo mudou neste domingo, quando recebeu através do Facebook uma mensagem de uma moça do Rio de Janeiro com informações sobre o paradeiro do filho.
— Ela me perguntou se eu tinha um parente desaparecido. Disse que tinha um rapaz que perambulava pelas ruas perto da casa dela que parecia muito comigo. Ela me mandou uma foto, e vi que era meu filho. Dali em diante, tudo começou — relembra a corretora.
A moça em questão era Juliane Jacinto, de 30 anos, moradora do Catete. Sua história se cruzou com a de Victor pouco antes do Natal, após uma mulher publicar num grupo do Facebook voltado para moradores do bairro uma foto do rapaz.
“Quem está sendo acordado com os gritos de alucinações desse rapaz? (…) Ele está vagando há algumas semanas pelas ruas do Catete, com o corpo cheio de feridas, demostra ser doente mental, deve ter em torno de uns 20 e poucos anos”, dizia um trecho da legenda, que ainda criticava a falta de empenho de órgãos públicos em acolher o jovem.
Um outro morador da região descobriu o nome de Victor e onde vivia, e publicou as informações no grupo da rede social. Naquele momento, Juliane decidiu investigar quem era aquele rapaz misterioso, que vivia perambulando sem rumo entre o Largo do Machado e a Glória.
— Só sabia o nome dele e que morava em São Paulo. Busquei no Facebook e foi um dos primeiros perfis que apareceram. Não sei explicar como, foi Deus mesmo. Mandei mensagens para vários amigos dele e cheguei até a mãe — conta a carioca.
Encontro
Na segunda-feira, um dia após receber a notícia do filho pelo Facebook, Rejane embarcou para a cidade maravilhosa. Enquanto isso, os moradores do Catete se mobilizavam para promover o reencontro entre os dois. Mas Victor estava muito arredio – andava muito rápido e fugia de quem tentava falar com ele. Juliane ainda conseguiu conversar com ele de manhã, durante um lanche. Segundo ela, acompanhada de uma equipe da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS). Mas o rapaz dizia que queria “continuar passeando”.
— Ele estava alheio ao que acontecia. Dizia que estava a passeio pelo Rio. Mas falava numa boa, normal — diz.
Após mais um período desaparecido, Victor foi novamente encontrado à noite, por volta das 21h. Os moradores chegaram a criar um grupo no WhatsApp para tentar localizá-lo. Com a ajuda de motoboys, imobilizaram o rapaz, que estava próximo à Rua Benjamin Constant, na Glória. Pouco depois, Rejane chegou.
— Ele me deu um abraço muito forte. Perguntou porque eu tinha demorado tanto para chegar. Estava com medo de baterem nele. Falei que só queriam protegê-lo. Fiquei grudada nele por uns 20 minutos — relembra a mãe, acrescentando o motivo dado pelo filho para a fuga — Ele disse que só tinha vindo tomar um banho de mar, e pediu para eu não brigar com ele.
A cena não foi menos emocionante para aqueles que a assistiram.
— Foi inexplicável. Todos se emocionaram muito. A mobilização dos moradores foi muito bonita, valeu muito a pena. Juntos somos mais fortes — afirma Juliane, defendendo que a sociedade deveria ter mais empatia pelas pessoas “invisíveis” do dia a dia, como moradores de rua.
Rapaz foi levado para hospital psiquiátrico
O rapaz foi encaminhado para o Instituto Philippe Pinel, em Botafogo, onde, segundo Rejane, ficará internado por uma semana. A mulher aguarda o diagnóstico dos médicos sobre o transtorno do filho. Quando fugiu pela primeira vez, há dois anos, o incidente foi tratado como um surto psicótico depressivo e o rapaz foi diagnosticado com transtorno de personalidade, de acordo com a mãe. Por estar muito debilitado, Victor também será submetido a diversos exames no hospital. Depois, deve ser encaminhado para um Centro de Atenção Psicossocial de São Paulo.
— Ainda não pude conversar com ele com calma. Ele está muito cansado. Contei, no entanto, um pouco sobre a saga para encontrá-lo, e ele ficou surpreso — conta, relembrando o sofrimento dos últimos meses — Me sinto muito aliviada. Sofri demais durante os últimos meses, mal conseguia dormir. Tive muita sorte. Deus me deu a oportunidade de reencontrar meu filho.
Fonte: Extra