Atiro sem dó: Raiado foi de matador de Lázaro a segurança de ex-coach

Atualmente, Edson Raiado, da Polícia Militar de Goiás (PMGO), atua como segurança de Pablo Marçal, ex-coach e pré-candidato a prefeito de SP

Giovanna Estrela, do Metrópole

O tenente-coronel da Polícia Militar de Goiás (PMGO) Edson Melo, mais conhecido como Edson Raiado, tornou-se um nome bastante comentado no estado e no Brasil após sua atuação na caçada ao serial killer Lázaro Barbosa. No entanto, hoje em dia, atua como segurança do ex-coach Pablo Marçal, que mora em São Paulo, mas nasceu em Goiás.

Ele já era bem conhecido no meio policial, até por sua atuação em batalhões de elite. No entanto, em 2021, Edson Raiado despontou no cenário nacional, não só pela sua participação na caçada de 20 dias a Lázaro Barbosa, um criminoso cujos atos hediondos assustaram Goiás e o Distrito Federal, mas também como um dos responsáveis por executar o serial killer.

Edson até lançou um livro sobre o assunto, em 2022, intitulado de “Contagem Regressiva: A Trajetória da Caçada a Lázaro Barbosa”. À época, ele foi promovido e condecorado com a Medalha da Ordem do Mérito Tiradentes no grau Grande-Oficial pelo governador Ronaldo Caiado (União Brasil).

Fim da fama de herói

A fama de “herói nacional” durou até abril de 2024, quando o tenente-coronel foi afastado do Comando de Operações de Divisas (COD), após a divulgação de um vídeo que sugeria a simulação de um confronto policial, envolvendo componentes do grupo de elite, culminando na morte de dois suspeitos.

A Polícia Civil de Goiás iniciou uma investigação sobre os homicídios e, enquanto o inquérito estava em andamento, os policiais envolvidos foram afastados.

Depois do afastamento do COD, Raiado foi transferido para o Comando de Operações de Cerrado (COC) sem função específica. Paralelamente, Edson começou a fazer “bico” de segurança.

Novas experiências

Diante da situação, Raiado buscou novos rumos para sua carreira: atualmente é segurança do ex-coach, influenciador digital e atual pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB).

O envolvimento dele como segurança particular gerou críticas e apontamentos de possíveis irregularidades, dado que policiais militares só podem exercer atividades paralelas de forma voluntária e não remunerada.

Como PM, Raiado recebe salário bruto de cerca de R$ 31,7 mil.

Ambições políticas

Edson Raiado também tentou ingressar na política. Em 2022, filiou-se ao partido Avante e concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados, obtendo 19.811 votos, insuficientes para a eleição.

A campanha, no entanto, não esteve isenta de controvérsias. Um vídeo em que Raiado aparece com uma máscara de caveira e um facão, simulando uma decapitação, foi considerado propaganda eleitoral irregular e teve de ser excluído após determinação judicial.

Reprodução/Instagramcoronel edson raiado video caveira facao lazaro
Tenente-coronel Edson Raiado

Outras polêmicas de Raiado

A carreira do tenente-coronel é repleta de polêmicas. Na mais recente, publicada pelo Metrópoles, policiais militares de um grupo de elite em Goiás, justamente do COD, então comandado por Edson, aparecem em vídeo, durante treinamento, no qual cantam uma música que faz apologia à execução de “bandidos” e incentiva a “caça” de testemunhas.

Veja:

“Matar o bandido, acende uma vela, bota ele na mala, eu vou pra estrada velha. Eu tenho uma notícia e um corpo baleado. E a testemunha, aponta o caçador, eu quero a testemunha na sexta-feira à tarde. Eu tô de viatura, caçando esse covarde. Se eu pego, atiro sem dó nem compaixão. Minha emoção é zero, o verdadeiro inferno”, diz trecho da canção, cantada no estilo jogral.

Sobre o caso, a Secretaria de Comunicação de Goiás informou, em nota, que o governo respalda o trabalho das tropas de segurança e destacou números de redução de mortes em abordagens policiais.

Veja a nota, na íntegra:

“O Governo de Goiás respalda o trabalho das tropas de segurança no Estado com investimentos para que as forças de segurança prestem um serviço de excelência e com a devida atenção para eventuais excessos que sejam identificados e corrigidos;

Goiás apresentou redução de 4,08% no número de mortes decorrentes de intervenção policial, em 2023 em comparação a 2022, segundo dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP);

O Governo de Goiás investe na inserção de mais viaturas e policiais nas ruas, além de intensificar ações preventivas e ostensivas contra a criminalidade; Goiás registra queda em todos os indicadores criminais, nos três primeiros meses de 2024 (segundo o Observatório de Segurança Pública de Goiás), em relação ao mesmo período do ano passado. A queda nos índices de homicídio, por exemplo, foi de 24%.”

Morte de piloto que sabia muito

Além disso, uma ação conduzida pelo tenente-coronel Edson Raiado resultou na morte de Felipe Ramos Morais, um piloto de 36 anos, considerado um verdadeiro arquivo vivo do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Felipe foi responsável por pilotar helicópteros para importantes lideranças do PCC até 2018, quando foi preso e passou a colaborar com os investigadores. Tornou-se um colaborador valioso para a polícia, firmando uma delação premiada que desencadeou grandes operações da Polícia Federal, causando prejuízos milionários à facção paulista.

Na manhã de 17 de fevereiro de 2023, o tenente-coronel Edson Raiado e o major Renyson Castanheira Silva invadiram uma fazenda pelos fundos, em uma área rural entre Abadia de Goiás e Goiânia, e mataram a tiros Felipe, o gerente da empresa dele, Nathan Moreira Cavalcante, de 21 anos, e o mecânico de aeronaves Paulo Ricardo Pereira Bueno, de 37 anos.

Dos 15 tiros que mataram os três homens, 12 teriam sido disparados por Edson Raiado. Segundo o processo, ele e o major Renyson alegam terem sido recebidos a tiros e, por isso, atiraram de volta, matando os criminosos. A Justiça aceitou a versão de legítima defesa enviada pelo Ministério Público de Goiás e arquivou o caso em agosto do ano passado.

Apesar de ter solicitado o arquivamento, o MPGO apontou ressalvas e indicou que o local do suposto confronto foi alterado. “Não houve robusta produção de provas aptas a sufragar a tese de legítima defesa”, escreveu o promotor Spiridon Anyfantis.

A dupla de policiais disse que chegou até a chácara após uma denúncia anônima. Os PMs apresentaram cerca de 5 kg de cocaína e três armas que teriam sido apreendidas com os mortos. No local dos óbitos, que era utilizado para pintura e conserto de aeronaves, havia três helicópteros.

Em depoimento à Polícia Civil, Edson Raiado afirmou que a identidade de Felipe foi confirmada após a sua morte. No boletim de ocorrência feito no dia das mortes, os PMs registraram que ele era “um dos maiores traficantes internacionais em atividade”.

Após a publicação da mais recente reportagem, o tenente-coronel Edson se manifestou pelas redes sociais, afirmando: “Eu sou um homem honrado que me coloco todos os dias à disposição da sociedade de bem. Quanto ao bandido, esse sim será tratado de acordo com os rigores da lei”.

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